19/07/2006

Câmara chumba mexidas na rede da Carris

In Público (19/7/2006)
José António Cerejo

"Transportadora pretendia suprimir oito carreiras e mexer nos horários e percursos de mais três dezenas

A Câmara de Lisboa deverá votar hoje uma proposta contrária ao projecto de reformulação da rede de autocarros que lhe foi apresentada pela Carris. As razões desta oposição prendem-se, sobretudo, com o facto de a transportadora pretender adaptar a sua oferta a um conjunto de pressupostos que, previsivelmente, só se concretizarão num horizonte de quatro anos. De acordo com o parecer técnico que fundamenta a proposta da vereadora Marina Ferreira, responsável pelo pelouro da Mobilidade, o projecto da empresa tem como pressupostos essenciais a articulação da sua rede com os prolongamentos das linhas Azul e Vermelha do Metropolitano, a normalização do serviço fluvial no Cais do Sodré e Terreiro do Paço, a reabertura do túnel ferroviário do Rossio e o "aumento consistente" da velocidade comercial da sua frota. Considerando que este cenário não será uma realidade antes do ano 2010, o documento sustenta que a renovação proposta, com incidência em cerca de 40 por cento das carreiras, "terá forçosamente impacte na mobilidade da cidade".

Entre as objecções levantadas pelos técnicos camarários conta-se o facto de a transportadora não demonstrar que as mudanças pretendidas se traduzem numa "menor sobreposição" das suas carreiras com a rede do Metropolitano, ou no reforço da importância das ligações transversais e circulares. Sem afirmar expressamente que os clientes da Carris ficarão mais mal servidos, o parecer sublinha que os dados fornecidos à câmara são insuficientes para tomar uma posição sobre a eficácia do projecto e sobre o seu "impacte nos passageiros". Salvaguardando a escassez dos elementos disponíveis, o documento salienta que a análise das alterações previstas "suscita reservas quanto ao nível de frequências mínimas garantidas, ao aumento do número de transbordos e à diminuição do serviço nocturno".

Alterações em 40 carreiras
O parecer lembra que o projecto da Carris aponta para alterações num total de 40 carreiras, incluindo a supressão de oito e o fim do serviço nocturno, de fim-de-semana e feriados em mais duas. Para a câmara, não restam dúvidas de que a actual rede necessita de uma reformulação que a adeque à realidade da cidade, mas essa reestruturação "deve sempre ter subjacente a lógica da melhoria da eficácia do transporte e o aprofundamento do serviço público". Mais em concreto, o documento defende que a alteração da rede "deve ser realizada com particular cuidado e atenção às necessidades da população em geral, e das pessoas com mobilidade reduzida, ou residentes em bairros mais isolados, em especial, porque interfere com hábitos, práticas e necessidades de deslocação há muito consolidadas".

Contactado pelo PÚBLICO, o secretário-geral da Carris, Luís Vale, disse desconhecer o parecer da câmara, mas garantiu que o projecto "tem origem num estudo de mobilidade realizado pela Carris, pela câmara e pelo Metro". Luís Vale sublinhou que o objectivo da empresa é o de "garantir e aumentar a mobilidade, melhorar as ligações ao Metro e aumentar a qualidade do serviço prestado". Segundo o secretário-geral, a renovação da rede, que faz parte do projecto de reestruturação da Carris, está a ser acompanhado "a par e passo" pela tutela governamental. A lei que atribui à Carris a concessão do serviço público de transportes colectivos urbanos de passageiros na cidade Lisboa estabelece que a criação e a supressão de carreiras, bem como a alteração dos seus percursos, horários e frequência, tem de ser autorizada pelo Governo depois de a câmara se pronunciar. Para saber se as intenções da empresa irão por diante, falta agora saber qual a posição que virá a tomar o Ministério dos Transportes e Comunicações. Quanto à Carris, disse Luís Vale, tudo está preparado para que o projecto arranque em Setembro
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