11/10/2007

Costa questiona Governo na abertura do Eixo Norte-Sul

In Público (11/10/2007)
Ana Henriques

«Depois de ouvir críticas, o primeiro-ministro aceitou negociar com os autarcas o modelo das autoridades metropolitanas de transportes

O último troço do Eixo Norte-Sul (ENS), que faz a ligação entre a Av. Padre Cruz e a Circular Regional Interior de Lisboa (CRIL), entrou ontem em funcionamento. Na presença do primeiro-ministro, o presidente da Câmara de Lisboa e ex-ministro António Costa questionou vários aspectos da política do Governo em matéria de acessibilidades rodoviárias e política de transportes.
Apesar de só medir 4,3 quilómetros de extensão, o último troço do ENS deverá ter um impacto significativo no tráfego da Área Metropolitana de Lisboa. A presidente da Câmara de Odivelas, Susana Amador, diz que poderá retirar da Calçada de Carriche (Av. Padre Cruz) 20 mil viaturas por dia. Dados das Estradas de Portugal referem que cerca de 20 por cento do tráfego que entrava em Lisboa pela Segunda Circular na zona norte será desviado para o ENS e que o tempo médio de viagem entre Loures e Almada baixará de 43 para 37 minutos. Entre Camarate e o Marquês de Pombal a velocidade de circulação aumentará cerca de 50 por cento. Além de melhorar a circulação rodoviária entre a Margem Sul e a Auto-Estrada do Norte, evitando a entrada na Segunda Circular, o troço ontem inaugurado traz também vantagens na ligação à A8, ou seja, à zona do Oeste. Conta com quatro nós de ligação desnivelados: Ameixoeira, Alto do Lumiar, Camarate e CRIL.
Mas nem tudo são elogios. Citado pela Rádio Renascença, o especialista em transportes Fernando Nunes da Silva diz que o projecto, no seu todo, deveria envergonhar qualquer projectista de vias urbanas. Apesar de classificar a obra como "fundamental", lamenta a falta de cuidado na inserção urbana do ENS, reconhecendo, ainda assim, que neste último troço o impacto é menor. Já os moradores de uma parte da Ameixoeira alegaram que a construção da via os isolou do resto da freguesia.
Mesmo o presidente da Câmara de Lisboa considera que, apesar de essencial para a melhoria do trânsito, a conclusão do Eixo Norte-Sul pode gerar "efeitos perversos em matéria de circulação": o regresso dos congestionamentos à Segunda Circular, quando os automobilistas perceberem que ali se passou a circular melhor. "Para evitar isto é fundamental uma grande aposta na prioridade à alteração do modo de transporte individual para o transporte colectivo", observou António Costa. Uma preocupação que é também comum as autarcas de Loures, Odivelas e Amadora, que se reuniram ontem à tarde para discutir o problema, nomeadamente no que respeita à criação de um metro de superfície que sirva os três concelhos.
Foram vários os recados que António Costa deixou ao seu ex-colega do Governo responsável pela pasta das Obras Públicas, Mário Lino, e ao primeiro-ministro, José Sócrates. Desde logo que seria "um erro grave" concluir algumas ligações rodoviárias radiais prometidas pelo executivo - "designadamente a construção do novo IC16 [da Circular Regional Exterior de Lisboa à auto-estrada do Estoril, através do Lourel] e outras ligações pensadas na articulação entre a Margem Norte e a Margem Sul da área metropolitana" - antes de a CRIL ficar pronta. A adjudicação do troço final desta obra está prevista para o mês que vem. "Não podemos voltar a fazer vias de acesso radial à cidade de Lisboa sem que sejam bem pensadas as articulações e a inserção dessas vias no miolo da cidade. E esse é um trabalho que tem de ser feito relativamente às novas vias que estão pensadas", avisou. E revelou que a Junta Metropolitana de Lisboa, que é constituída pelos autarcas da Grande Lisboa, aprovou por unanimidade na sua última reunião um parecer manifestando-se contra os moldes em que a administração central quer criar as autoridades metropolitanas de transportes. "É fundamental que nesta matéria o Governo revele capacidade de diálogo", preveniu. "Não teremos uma verdadeira área metropolitana se não articularmos bem as competências das autarquias com as da administração central. Nem se nela não incluirmos o transporte suburbano, o transporte do metro e o transporte em ferrocarril ligeiro".
José Sócrates viu-se na obrigação de responder. Salientou que há infra-estruturas planeadas que "não têm discussão e contam com amplo consenso político" - será o caso do IC16 e do IC30, que quer que estejam prontos até 2010 -, mas mostrou-se disponível para negociar com os autarcas a questão das autoridades metropolitanas de transportes. Ao mesmo tempo, considerou "verdadeiramente chocante, para não dizer escandaloso", o atraso na construção do último troço do ENS, cuja primeira pedra foi lançada há duas décadas.
A abertura do último troço do Eixo Norte- Sul vai retirar da Segunda Circular um grande número de veículos»

1 comentário:

daniel costa-lourenço disse...

"Não teremos uma verdadeira área metropolitana se não articularmos bem as competências das autarquias com as da administração central. Nem se nela não incluirmos o transporte suburbano, o transporte do metro e o transporte em ferrocarril ligeiro".

isto resume tudo