18/10/2007

Imóveis ameaçados de demolição e/ou alterações graves (2)

Ex.mo Sr. Vereador Arq. Manuel Salgado,

No seguimento do nosso anterior email sobre imóveis ameaçados de demolição na Av.Almirante Reis, somos a enviar novo lote de edifícios, que nos parecem ser demasiados valiosos para que Lisboa se dê ao luxo de os perder ou de os ver adulterados para sempre:




1. Edifício na Rua da Praia do Bom Sucesso
Este edifício (fotos em anexo) está protegido e era a antiga residência do governador do Forte do Bom Sucesso. Mais tarde foi também residência de Almeida Garrett. Mais recentemente foi alvo de intimação a obras coercivas, pela CML, e foi vítima de vários fogos (suspeitas de fogo posto), até que ruiu por completo, restando a fachada. Trata-se de um caso vergonhoso, que devia servir à CML para dar o exemplo aos demais: a CML devia obrigar o proprietário a recuperar o edifício na íntegra. A entrada recente na CML de projecto de alterações/ampliação (Proc. Nº 1662, 1663 e 1664/EDI/2007) é uma VERGONHA para todos, a começar pela CML que se viu desrespeitada no processo de obras coercivas.


2. Edifício na Avenida da República, Nº 37
D ecorrente do alinhamento de cérceas aprovado pelo anterior executivo camarário para a Avenida da República, mas ainda em fase de aprovação na CCDR-LVT, os proprietários impedidos de ampliar os seus edifícios por força do valor arquitectónico dos mesmos pode rão recorrer a indemnizações. Julgamos por isso conveniente alertar a CML para este projecto de alterações (Proc. Nº 1653/EDI/2007...ampliação de 2 andares??), em edifício belíssimo (um dos últimos da Avenida da República - foto em anexo), que devia estar há muito classificado pelo ex-IPPAR, pois poderá acarretar consigo um grave precedente, além de que o edifício ficará indubitavelmente desvirtuado.



3. Edifício na Rua Castilho, Nº 15
Deu entrada a 29 de Junho de 2005 um "pedido de ampliação", que já foi aprovado mas ainda não foi deferido (faltam os projectos de especialidade); Esta obra de qualidade, datada de 1888, é única em Lisboa, pois apresenta uma das primeiras estruturas de ferro aplicadas a um edifício de habitação colectiva. O gaveto do edifício é um trabalho notável da arquitectura do ferro que não pode ser destruído! Por íncrivel que pareça, este imóvel não está referenciado no Inventário Municipal do Património do PDM, nem classificado como IIM sequer. E, mais uma vez, nunca existiu no local um "Aviso", ou seja, o pedido de licenciamento não foi publicitado como obriga a lei.


4. Rua Rosa Araújo, Nº 49
Este é um raro imóvel Arte Nova datado de 1905, uma das últimas obras do Arquitecto Nicola Bigaglia (morreu em 1908); apesar de não estar lá colocado nenhum "Aviso", já sei que deu entrada a 9 de Abril de 2007 um "pedido de ampliação"; será que isto implica a demolição dos interiores? Como sabemos, pela análise de outras obras deste arquitecto, os interiores são sempre de grande qualidade e concerteza este não será excepção. Este imóvel ainda tem a particularidade de ter sido alvo em 1943 de um projecto de alterações (entrada, por exemplo) do não menos notável arquitecto Luís Cristino da Silva! Concluíndo: um imóvel a mexer com muito cuidado.


5. Rua António Cândido, Nº 12
Este é o último e valiosíssimo conjunto moradia/jardim sobrevivente nas Avenidas Novas, ou seja, é o último talhão a ser verdadeiramente cobiçado pelos imobiliários naquela zona (ver foto em anexo) pois tem uma área suficientemente atractiva para mais um empreendimento, na linha do que tem sido a evidente e confrangedora obra das últimas décadas, que tem arrasado com quarteirões inteiros na zona das Avenidas Novas. Desta vez, o pedido é de construção nova/demolição, entrou a 6 de Fevereiro de 2007 (Proc. 99/EDI/2007) e é uma excelente oportunidade para a CML e o Sr. Vereadores do Urbanismo e dos Espaços Verdes darem seguimento àquilo que tem afirmado, e bem, sobre a necessidade de preservar os lograsdouros e a memória da cidade.

6. Calçada Marquês de Abrantes, Nº 68
Por último, está neste momento em curso um projecto de alterações para este edifício que não só atenta contra o logradouro, como acarretará a destruição de azulejos históricos, inclusivamente sem qualquer parecer prévio do Museu do Azulejo. Este imóvel é uma referência da arquitectura romântica de Lisboa, como se comprova no grande destaque que o mesmo tem na obra do Prof. José Augusto França. Os paramentos de azulejos oitocentistas são mencionados no site do Centro Nacional de Cultura como sendo de «paragem obrigatória» nas visitas guiada pela Lisboa antiga. O edifício em causa está na zona especial de protecção do Palácio dos Marqueses de (Embaixada de França) o que quer dizer que o IGESPAR podia ter chumbado o projecto, o que não aconteceu, desconhece-se porquê.

Brevemente voltaremos ao contacto de V.Exa. com novos casos prementes.

Sem outro assunto de momento, subscrevemo-nos com os melhores cumprimentos

Paulo Ferrero, Fernando Jorge, Hugo de Oliveira, Nuno Caiado, Alexandra Maia Mendonça e Maria Amorim Morais

4 comentários:

Anónimo disse...

Passem á Fontes Pereira de Melo, ao lado do Palacio Sotto Mayor.

3 Imoveis a cair aos pedaçços, e um enorme cartaz de propaganda da Camara de Lisboa dos tempos de Santana, a tapar a vergonha.

Anónimo disse...

O caso do edifício na Rua da Praia do Bom Sucesso é um escândalo nacional. Obviamente que as nossas leis continuam a ser um tigre sem dentes, com o qual certo número de pequenos bandidos fazem o que lhes dá nas ganas. Em jogo está a nossa história, a nossa memória, e o futuro dos que vierem depois de nós.

Julio Amorim

Anónimo disse...

Isto é cenário digno dos anos 80.
Nos tempos de hoje ou são estupidos - e sim, são mesmo uns grandes estupidos, sem duvida... - ou então julgam que ninguem nota.
Sim, de uma maneira ou de outra são sempre umas enormes bestas...

Anónimo disse...

Só para dar os parabéns pelo trabalho de investigação, e por se ver que há pessoas que não baixam os braços e não se conformam com a forma como os proprietários e a sua sensibilidade arquitectónica mexicana destroiem a nossa cidade. Isto é o resultado de muitos anos de poder entregue à iniciativa privada, sem que a Câmara tivesse (ou quisesse ter) poder para parar com estas aberrações. Para mim há algo maior do que a liberdade de tirar dividendos imediatos de um empreendimento, há regras, há orientações do que se quer duma cidade, e Lisboa, se se quer turistica e de qualidade, tem de mostrar mão de ferro sobre os atentados construtivos. E há Cultura (em maiúscula, abrangente). Só pergunto, se a região parisiense deixaria que alguém "tocasse" sequer na Paris de Haussmann, que tão pitoresca e bem preservada atrai milhares de turistas. Ou Veneza. Agora, se é para turistas de discotecas e eventos desportivos e musicais apenas... Bem hajam, e continuação de excelente participação democrática activa.