29/10/2007

Insegurança em Lisboa

in Jornal de Notícias de hoje

Lisboa nove horas da manhã. Primeiro dia da semana - segunda-feira. Um pai na companhia dos seus dois filhos mais velhos - de 19 meses e 5 anos e 5 meses respectivamente - sai de casa para os levar ao colégio e iniciar dentro da normalidade possível o seu dia de trabalho. Tudo aparentemente se passa como habitualmente todos os dias e todas as semanas com esta família. O cenário é as traseiras da Avenida João XXI - mais concretamente no logradouro da Avenida de Paris em Lisboa. Pai e filhos chegam junto dos dois carros da família. O filho mais velho chama a atenção do pai para um dos carros ter as rodas diferentes. O pai diz-lhe que deve estar enganado. O menino insiste enquanto seu pai abre o carro e põe o irmão na cadeirinha de bebé. Um papel no vidro da frente do carro chama a atenção.
É lido com um misto de curiosidade e de revolta - é um papel escrito por um agente da PSP de Arroios a alertar para a tentativa de roubo do seu carro, concretamente das suas quatro rodas, sugerindo para levar a viatura a uma oficina porque foi a PSP que em flagrante teve de apertar sobretudo as rodas traseiras. Estupefacto o pai, olha em redor e vê vários carros sem rodas e sem jantes. Vê também varias pessoas a queixarem-se e a porem as mãos na cabeça. Percebe que são vários carros roubados. Ouve uma voz. É um homem com cerca de 60 anos de idade. Que lhe diz "Tenha cuidado esta noite aqui no nosso bairro cerca de 15 carros foram assaltados. Muitos ficaram sem pneus e jantes. O seu foi à conta que não aconteceu o pior. Eles fugiram porque a PSP os apanhou em flagrante já sem parafusos nas suas rodas". Na companhia dos seus dois filhos e após vários olhares e alguns minutos de conversa, este pai, meio atordoado, leva os filhos ao colégio.

Até em bairris imunes

Mais tarde chegado ao escritório telefona para a sua oficina e informa do sucedido, pedindo que lhe venham buscar o carro para verem se está ou não tudo bem. Assim acontece. Três horas depois é informado que os quatro pneus que o carro tem são pneus velhos, desconformes com a normalidade e sem segurança. Conclusão os larápios trocaram os pneus do carro por outros velhos! E a despesa são algumas boas dezenas de contos. Este exemplo que aqui relato por escrito é um exemplo claro da insegurança que perpassa neste momento pela cidade de Lisboa. Até em bairros tradicionalmente considerados mais imunes a este tipo de crimes. E que tem acontecido infelizmente com vários cidadãos e famílias em Lisboa.
E que têm vindo paulatinamente a criar um sentimento de insegurança. Por razões mais do que óbvias. Que causas estão na origem de tudo isto? Varias. De entre as quais a falta de motivação dos agentes da autoridade devido a má orientação aliado á crise económica que se faz sentir em vários dos sectores da sociedade portuguesa. Alias é curioso verificar que se durante o dia Lisboa inteira é asfixiada e nalguns casos exageradamente pressionada pela caça á multa e ao estacionamento, pela EMEL e pela Policia Municipal durante a noite e a madrugada não há prevenção e fiscalização adequadas na manutenção de um clima de segurança aos cidadãos e aos seus bens. O que não podemos deixar de condenar.
Ao Governo e à Câmara Municipal de Lisboa exige-se que as coisas mudem neste capítulo porque goste-se ou não - a insegurança em Lisboa é cada vez maior. E já agora permitam-me a inconfidência - o exemplo que aqui escrevi no início desta crónica é real e não é ficção. Passou-se há precisamente uma semana na cidade de Lisboa comigo e com dois dos meus três filhos e com outros cidadãos. Mais palavras para quê?

Feliciano Barreiras Duarte

1 comentário:

Tiago R. disse...

Dois carros para uma família só???
É pena é que não roubem mesmo os carros e os levem para fora da cidade!