Estação de comboios subterrânea assusta comerciantes de Alcântara

In Diário de Notícias (7/9/2011)
Por Inês Banha

«Lisboa. Duração das obras está prevista para sete anos, mas poucos acreditam

Ana Sousa nem estava preocupada com o Plano de Urbanização de Alcântara (PUA). Mas recebeu, na sua loja, uma petição lançada por um grupo de moradores de Alcântara para "travar a obra de desnivelamento" da linha ferroviária, que deverá incluir, nomeadamente, a construção de uma estação subterrânea e o seu estado de espírito mudou.

A sua apreensão explicase pelos sete anos de obras que a empreitada deverá exigir, com prejuízos para o comércio local. O receio é comum a quem tem loja na Rua de Alcântara, mas, ao DN, a Refer garantiu que o projecto, incluído no PUA, ainda se encontra em estudo.

Quando, há cerca de dois meses, Alzira Barroso fechou temporariamente a sua loja de vinhos, a calma reinava na Rua das Fontainhas. No regresso, há poucos dias, encontrou um cenário bem diferente. A "culpa" é das máquinas que, nos terrenos em frente, efectuam, de acordo com o aviso da Refer afixado no local, operações de bombagem.

Os trabalhos, confirmou o DN com fonte da empresa, fazem parte dos estudos de reorganização ferroviária naquela zona. Estudos que, frisou Susana Abrantes, responsável de comunicação da Refer, não passam disso, não estando, por agora, definidas as fases seguintes do projecto.

Ainda assim, em Alcântara, são vários os comerciantes que vêem o nascimento de uma estação de comboios subterrânea como um facto consumado. Essa convicção ganhou força na semana passada, data em que receberam nos seus estabelecimentos cópias de uma petição para "travar a obra de desnivelamento" da linha ferroviária que deverá ligar a Linha de Cascais e a Linha de Cintura.

O objectivo, explica Vítor Sarmento, porta-voz dos signatários, é "conseguir 4000 assinaturas" para que "os deputados da Assembleia da República possam opinar sobre as decisões de uma empresa pública". Em causa está o risco de ocorrência de sismos e inundações naquela zona.

Na Sapataria Capricho, na Rua de Alcântara, há quem se lembre bem das últimas cheias. "Perdi uma viatura. Estava numa garagem subterrânea e só consegui tirar o carro três dias depois", conta José Tomé, alertando para os riscos de uma estação subterrânea. Contudo, o que realmente preocupa o dono da loja são os sete anos previstos para a realização da empreitada, "que acabam por ser sempre mais". "Eu conhecia a [Avenida] Duque de Ávila antes das obras da linha do vermelha do metro, que demoraram vários anos, e os comerciantes que lá estavam já saíram", compara. José Tomé frisa, porém, que é benéfico para Alcântara que se pense num projecto integrado e não "aos bocados", como até agora.

O DN tentou contactar Manuel Salgado, vereador com o pelouro do Urbanismo, mas tal não foi possível em tempo útil.

OPOSIÇÃO

Documento tem sido alvo de contestação

O desnivelamento da linha ferroviária é um dos vários projectos previstos no PUA. O plano tem sido criticado devido ao elevado investimento previsto e às incertezas relativamente à data de concretização das empreitadas. O executivo tem respondido com a necessidade de reservar no PUA os espaços destinados às grandes obras.

Aprovado na câmara, o PUA deverá ser votado brevemente na Assembleia Municipal. »