23/03/2012

SOS Cinema Europa. O cinema foi abaixo, mas Campo de Ourique must go on




Por Clara Silva, publicado em 23 Mar 2012 in Jornal I online
O movimento pela existência de um espaço cultural do bairro lisboeta criou uma programação para o fim de semana e até o mercado se vai transformar em discoteca


Amanhã o after-hours das discotecas de Lisboa não é no Bairro Alto. Muito menos nas Docas ou no Cais do Sodré. A partir das 10h30 da manhã e até à uma da tarde, o after é no Mercado de Campo de Ourique. Isso mesmo, leu bem. A ideia é do movimento SOS Cinema Europa que desde 2005 luta pela existência de um espaço cultural neste bairro de Lisboa. À falta de espaço, porque ainda não o tem, vai ocupar no fim de semana vários sítios públicos de Campo de Ourique, do Jardim da Parada ao mercado, “para mostrar como o bairro precisa mesmo de um sítio cultural e consegue organizar uma programação deste género”.

Tudo começou em 2005, depois de uma notícia do “Público”, que dava conta da demolição do lendário Cinema Europa, construído nos anos 30, onde se chegaram a gravar muitos programas de televisão. “Na altura, dois amigos, o António e a Inês, decidiram imprimir a notícia em folhas A4 e colar cartazes na fachada do cinema”, conta José Albuquerque, um dos voluntários do “núcleo duro”, como lhe chama, do movimento SOS Cinema Europa. “O António telefonou-me e fomos telefonando a outros amigos do bairro e marcámos encontro num banco de jardim nesse domingo para impedir a demolição do cinema.” Do banco do jardim, as reuniões depressa passaram para auditórios e salas da junta de freguesia e começaram-se a distribuir panfletos e a recolher assinaturas para um abaixo assinado.

Passaram-se cinco anos até que, em Janeiro de 2010, o orçamento participativo da Câmara, votado por 400 pessoas, decidia que Campo de Ourique teria direito a um espaço cultural, mas que o cinema seria demolido – as obras começaram há um ano e prevê-se que estejam prontas no Verão de 2013. “Vai ser construído um condomínio de luxo, mas o piso térreo vai ter uma mediateca e duas salas polivalentes para actividades culturais”, explica José.

João Afonso é um dos músicos moradores do Bairro que anseia “lançar um disco acústico neste novo espaço”. Juntou-se ao movimento porque “o bairro respira cultura por todo o lado e precisa de um espaço cultural”. Como ele, juntaram-se outros artistas moradores, de Manuel João Vieira a João Peste, que vão dar um concerto no sábado à tarde na Casa Fernando Pessoa.

Enquanto se espera pelo fim das obras, Campo de Ourique enche-se de cultura e até de um passeio de 8 km de bicicleta.

1 comentário:

Anónimo disse...

É uma fantasia aquilo que foi prometido para Campo de Ourique. Na verdade, o "espaço cultural" será reduzido e subjugado a interesses privados, que em nada pretendem servir a cultura. Por outro lado, a ideia de transformar um espaço como o mercado temporariamente em "discoteca", é próprio de gente que nada tem na cabeça e que de pouco ou nada percebe de cultura. Campo de Ourique é um dos bairros de Lisboa com ruas mais danificadas por múltiplas obras das empresas de água, eletricidade e gás, e pelo desgaste natural, para além do estacionamento abusivo que ainda se verifica nas zonas mais limitrofres do bairro. A CML nada faz. Apenas foram alcatroadas algumas ruas aquando das últimas eleições, para "encher o olho". Os passeios estão uma lástima. Há buracos com mais de 10 anos(sem exagero, garanto-vos). É o que dá acreditar em promessas de gente que nos mente descaradamente.