Por Carlos Cipriano in Público
A Refer tem uma empresa destinada a valorizar o património ferroviário. Hotéis, restaurantes, lares e apoio a serviços camarários são algumas das utilizações dadas às estações, sobretudo em linhas onde já não passam comboios
No Rossio Patio Hostel, os turistas, desde o último Verão, já pagam entre cerca de 15€ e 30€ para dormirem com os comboios a passar ao lado. Em dois pisos, há dormitórios e quartos privados que se abrem para um pátio central, com direito a janelas na imponente fachada neomanuelina. E não se dorme só: tal como deverá acontecer nos futuros projectos do Cais do Sodré e de S. Bento, em Lisboa e no Porto, as estações ganham nova animação com a estada de turistas, particularmente da faixa jovem, e com a realização de eventos, incluindo festas ou concertos.
Foi a Refer Património que propôs à empresa Observar o Futuro abrir novas unidades no Cais do Sodré e em S. Bento. "Sabíamos que aquilo estava a correr bem", diz Nuno Neves, director comercial da Refer Património, notando que a sede da sua empresa fica também na estação do Rossio e é vizinha do hostel. "Achámos que, em vez de concessionar aquelas estações para escritórios e espaços comerciais, ficaria muito melhor um hostel, até porque isso dá vida às estações." Os hostels, acrescenta, vivem muito da localização e do nome. "E as estações centrais de Lisboa e Porto reúnem as duas condições: estão no centro, com bons acessos ao metro, e têm nome, têm história. O que é importante porque as reservas são feitas pela internet e as pessoas dão-se conta dessa importância."
Na altura da inauguração do espaço no Rossio Patio, João Teixeira, da Observar o Futuro, explicou a opção por um hostel. "Para a hotelaria tradicional, o espaço não teria condições", mas "para um hostel, que tem outros critérios, é perfeito". Ontem, Dangolia Rosickaite, do Rossio Patio Hostel, não quis adiantar ainda dados relativos a ocupação mas considera que é uma experiência que está a correr "muito bem" e que têm tido "muita gente. Actualmente, o hostel lisboeta dispõe de 80 camas.
Mas a "hostelaria" é apenas um dos exemplos da utilização do domínio público ferroviário para actividades que não as directamente ligadas ao caminho-de-ferro. A Refer Património, que faz a gestão dos activos da empresa, tem feito protocolos e contratos de concessão com inúmeras entidades em todo o país para, por um lado, estancar a degradação dos edifícios e, por outro, valorizá-los através do destino que lhes for dado.
O certo é que a criação de unidades hoteleiras é uma das utilizações mais frequentes. Além das estações centrais do Rossio, Cais do Sodré e S. Bento, há também projectos idênticos para o património ferroviário de Vila Real de Sto. António e de Braga - nesta última cidade, aliás, um edifício requalificado junto à estação alberga, desde há um ano, o hotel low cost Basic Braga by Axis.
Mais um hotel deverá também nascer na estação de Cabeço de Vide (concelho de Fronteira), junto às termas, que já era uma residencial. Ainda pelo Alentejo, também a estação de Arraiolos, onde o comboio deixou de apitar há 24 anos, vai acolher outro tipo de alojamento, um turismo de habitação. Por Sendim (Miranda do Douro), o plano é mais modesto, planeando a junta de freguesia local utilizar a estação como apoio a um parque de campismo.
Um ponto alto poderá ser o complexo ferroviário de Barca de Alva (Figueira de Castelo Rodrigo), na margem esquerda do Douro e na fronteira com Espanha, caso cheguem a bom porto as negociações entre a Refer e uma empresa hoteleira que está interessada em ali investir. Investir é, contudo, uma palavra, que não entra no léxico da Refer Património. "Não temos dinheiro para isso. Somos gestores do domínio público ferroviário e a nossa missão de preservação e valorização é cumprida através de concessões a entidades, públicas ou privadas, que possam colocá-lo ao serviço da sociedade. Passado o período de concessão, esses activos mantêm-se na posse da Refer, sendo que o canal ferroviário também é sempre preservado", diz Carlos Fernandes, administrador da empresa.
Em alguns casos tal poderá passar por uma venda, mas isso implica um processo de desafectação do domínio ferroviário. O que está fora de questão é ser a Refer Património a lotear e a assumir-se como promotora imobiliária. Uma decisão tomada depois da má experiência da Invesfer, empresa que a precedeu e que conseguiu ter prejuízos no ramo da construção civil numa altura em que o sector estava no auge.
O património da empresa é vastíssimo, tendo em conta que há milhares de quilómetros de linhas férreas abandonadas, sobretudo nas regiões do interior. Em muitos casos é difícil obter interessados em explorar as velhas casas dos ferroviários ou os edifícios de passageiros. Nas ecopistas que deram lugar aos carris, a antigas estações servem agora de pontos de apoio aos caminhantes.
Mas há nacos mais saborosos do ponto de vista imobiliário. O terreno mais valioso da Refer numa zona desafectada de uso ferroviário fica em Lagos, mesmo junto à marina, e vale 7,5 milhões de euros.
Noutros casos, uma renda simbólica é suficiente para que a Refer ceda as suas instalações, desde que o concessionário assuma os custos do investimento para o fim a que se propõe. Já se falou em hotéis, mas há também restaurantes e bares em estações, como, por exemplo, em Ul (Oliveira de Azeméis), Ferradosa (S. João da Pesqueira) e na própria estação da Régua, onde existe um bar com uma muito a propósito garrafeira com vinhos do Douro. Na mesma linha, a estação do Pinhão acolhe um posto de turismo e sítio de promoção dos vinhos locais.
E, mais à frente, no concelho de Foz Côa, numa
zona onde já não passam comboios, a antiga estação de Castelo Melhor vai ser
recuperada pela quinta com o mesmo nome para ali se fazerem provas de vinhos.
Ainda sob o signo dos vinhos, a estação das termas da Curia (na linha do Norte)
foi transformada num posto de promoção à rota dos Vinhos da
Bairrada.
No Alentejo, as câmaras de Borba e Mora vão usar as antigas estações para instalar serviços camarários e culturais (em Mora será um museu da fotografia) e no complexo ferroviário da Funcheira (concelho de Ourique) os antigos dormitórios do pessoal vão ser recuperados e transformados em lar de idosos.
A perspectiva residencial não está excluída, até porque a Refer pretende que as estações tenham vida, tanto as das linhas que já fecharam, como as daquelas onde passam comboios. Em Torres Vedras e em Beja há bairros ferroviários que carecem de requalificação para voltarem a alojar famílias. Uma tarefa que se torna mais difícil no Entroncamento, onde o complexo habitacional é imenso. Para já, nesta cidade, a Refer Património concessionou à Escola Profissional Gustave Eiffel o antigo campus de formação, que inclui salas de aulas, laboratórios e um edifício residencial. Este último será reabilitado para alojar os formandos.
Contratos mais modestos podem servir para manter abertas estações que, de outro modo, estariam fechadas e sujeitas a vandalização porque nem a Refer nem a CP as ocupam. Por vezes, o concessionário do bar fica responsável por abrir e fechar as portas do edifício de passageiros e pela sua limpeza.
Em Sines, a Refer Património herdou da Invesfer uma empreendimento imobiliário com dezenas de fogos que não se têm conseguido vender. É também em Sines que a justiça é exercida em domínio público ferroviário: o tribunal local funciona num edifício da Refer, a qual recebe uma renda todos os meses do Ministério da Justiça. com Luís J. Santos
No Alentejo, as câmaras de Borba e Mora vão usar as antigas estações para instalar serviços camarários e culturais (em Mora será um museu da fotografia) e no complexo ferroviário da Funcheira (concelho de Ourique) os antigos dormitórios do pessoal vão ser recuperados e transformados em lar de idosos.
A perspectiva residencial não está excluída, até porque a Refer pretende que as estações tenham vida, tanto as das linhas que já fecharam, como as daquelas onde passam comboios. Em Torres Vedras e em Beja há bairros ferroviários que carecem de requalificação para voltarem a alojar famílias. Uma tarefa que se torna mais difícil no Entroncamento, onde o complexo habitacional é imenso. Para já, nesta cidade, a Refer Património concessionou à Escola Profissional Gustave Eiffel o antigo campus de formação, que inclui salas de aulas, laboratórios e um edifício residencial. Este último será reabilitado para alojar os formandos.
Contratos mais modestos podem servir para manter abertas estações que, de outro modo, estariam fechadas e sujeitas a vandalização porque nem a Refer nem a CP as ocupam. Por vezes, o concessionário do bar fica responsável por abrir e fechar as portas do edifício de passageiros e pela sua limpeza.
Em Sines, a Refer Património herdou da Invesfer uma empreendimento imobiliário com dezenas de fogos que não se têm conseguido vender. É também em Sines que a justiça é exercida em domínio público ferroviário: o tribunal local funciona num edifício da Refer, a qual recebe uma renda todos os meses do Ministério da Justiça. com Luís J. Santos
2 comentários:
E digo mesmo mais. "Hostels" mais ou menos clandestinos, onde não se vislumbra uma placa a identificá-los, mas de onde se vê entrarem e saírem constantemente jovens com ar de estrangeirada, é coisa que abunda nos dias que correm.
Enfim, é o que temos...
A ideia do hostel na estação do Rossio é engraçada. Podem sempre conviver com os muitos jovens que chegam à estação do Rossio de comboio e que se diverte da maneira que vem aqui no video:
http://www.tvi24.iol.pt/programa/4494/1
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