15/12/2012

Corredor Verde de Monsanto inaugurado três décadas depois.



Corredor Verde de Monsanto inaugurado três décadas depois


Com 2,5 quilómetros, o Corredor Verde liga o Parque Eduardo VII ao Parque Florestal de Monsanto 
Por Liliana Pascoal Borges in Público

A quase totalidade da obra já estava feita, mas faltava a passagem pedonal sobre a Marquês da Fronteira. A ponte, em madeira, foi ontem inaugurada, ficando completa a ligação a Monsanto para peões e bicicletas


Foram precisos 36 anos e uma longa "luta cívica" de Gonçalo Ribeiro Telles para que o Corredor Verde de Monsanto fosse ontem inaugurado em toda a sua extensão. O projecto inclui pontes ciclopedonais, jardins, hortas, prados, um parque infantil, um parque de skate, aparelhos de exercício físico, um miradouro e várias esplanadas. Idealizado em 1976, foi inaugurado na presença de Gonçalo Ribeiro Telles, o arquitecto que o concebeu.
Com uma extensão total de 2,5 quilómetros, entre o Parque Eduardo VII e Monsanto, o corredor e os espaços que o ladeiam ocupam 51 hectares em que o tom predominante é o verde. Mas, embora prometida há muitos anos, a inauguração, ontem de manhã, ainda foi feita ao mesmo tempo que se terminava a plantação de algumas árvores.
Na cerimónia estiveram presentes, além do presidente da câmara, António Costa, e de vereadores da maioria, numerosos funcionários da autarquia. Entre os convidados destacava-se o arquitecto Ribeiro Telles e o presidente do Centro Nacional de Cultura (e do Tribunal de Contas), Guilherme d"Oliveira Martins.
A realização da obra contou, ao longo do tempo, com parcerias entre numerosas empresas e o município, contrapartidas do jogo do Casino de Lisboa e fundos do Quadro de Referência Estratégico Nacional. José Sá Fernandes, vereador dos Espaços Verdes, sem falar em custos totais da obra, afirmou que, quando há um investimento na cidade, "também se faz economia".
O autarca destacou também que "o corredor verde não é o jardim da Celeste, não está todo pipi", argumentando que se trata de "uma verdadeira estrutura ecológica". O vereador acrescentou que a estrutura ecológica da cidade deverá estar completamente pronta no final deste mandato camarário, em Outubro de 2013, incluindo outros espaços que também terão ligação ao corredor de Monsanto.
Já o autor do projecto, Gonçalo Ribeiro Telles, queixou-se da "ameaça à paisagem por parte de urbanizações e construções idiotas" que se vêem um pouco por todo o lado. Em contrapartida, destacou a concentração da "biodiversidade total num espaço tão mínimo" como o do corredor verde. "Os patos da região de Lisboa, não os bravos [disse, numa alusão a certos construtores civis], têm agora onde passar algumas horas nas suas deambulações pela cidade", brincou. O que importa, defendeu, é que este projecto paisagista funcione como "uma espécie de Bíblia, um livro do Evangelho", um exemplo para o país. A conclusão do projecto, acrescentou, é "um voltar de face, por todos, para o futuro", afirmou.
Questionado depois sobre aquilo que foi feito com um projecto idealizado há tanto tempo, Gonçalo Ribeiro Telles disse estar "satisfeito", mas avisou que a avaliação deverá "vir de fora, de quem vem para aqui".
O vereador dos Espaços Verdes, por seu lado, descreveu a concretização do projecto, pelo qual disse bater-se "há 20 anos", como "uma luta muito difícil". Só nos últimos cinco anos, garantiu, "foi possível acabar com todos os fantasmas, nomeadamente os depósitos dos carros" que havia na zona. José Sá Fernandes enfatizou que ontem foi um dia especial para ele. "Se há duas coisas importantes que eu fiz na minha vida é a minha filha, que faz anos hoje, e termos conseguido construir o Corredor Verde."
Por sua vez, António Costa assegurou que, na autarquia, todos estão "ansiosos para prosseguir este trabalho e realizar mais utopias". O autarca, ironicamente, agradeceu aos seus antecessores por lhe terem dado a oportunidade de ser ele a concretizar um projecto de que ouvia falar "desde miúdo". António Costa lembrou, contudo, o trabalho de João Soares, que criou o Jardim Amália, também projectado por Ribeiro Telles, mas elogiou repetidamente a "persistência de José Sá Fernandes" na conclusão da obra.
Na ocasião foi inaugurada a nova ponte em madeira, financiada pela Vodafone, sobre a Rua Marquês da Fronteira, que une o Jardim Amália ao jardim do Palácio da Justiça. Ribeiro Telles foi homenageado com a atribuição do seu nome à ponte pedonal, em betão, que passa sobre a Avenida Gulbenkian e foi inaugurada em Setembro de 2009.

3 comentários:

Anónimo disse...

inaugurar é facil. o difícil será manter... senão vejamos o estado em que estão os jardins que foram renovados há uns anos.

Anónimo disse...

Com a conclusão do "Corredor Verde de Monsanto", virou-se uma página na concepção da cidade de Lisboa, ele reflecte uma mentalidade virada para o futuro, com a coabitação do Homem com a Natureza, defendendo a biodiversidade.
Esperemos que tal mentalidade permaneça.

Pinto Soares

Anónimo disse...

Estamos a falar de outro patamar.
Quantas cidades Europeias têm vários corredores.
Parques, áreas verdes.
Esta longa luta, mostrou o atraso em que nos encontramos face à compreensão do que deve ser uma Cidade Sustentável, em termos ambientais, da preservação da Paisagem e do entendimento do que é um Património Humano.
Um primeiro passo.
Não nos esqueçamos do Parque Biológico de Gaia.
São oásis nesta ilusão do betão.
Para quando os Planos Verdes plenamente assumidos e obrigatórios de serem respeitados?