In Público (19/12/2009)
Por José António Cerejo
«Na história da igreja do Restelo ainda há muito por esclarecer mas duas coisas são certas: autarquia fez promessas contraditórias que não cumpriu
Intervenientes no processo remetem-se ao silêncio
João Soares, ex-presidente da Câmara de Lisboa, prometeu em 1997, através de um protocolo, ceder à paróquia de São Francisco Xavier o projecto da polémica igreja do Restelo, que o seu amigo Troufa Real disponibilizara "gaciosamente" à autarquia. Quatro anos depois, a duas semanas das eleições ganhas por Pedro Santana Lopes, a câmara aprovou um subsídio de cerca de 234 mil euros para a paróquia pagar os projectos, incluindo os "graciosos" de Troufa Real.
Ainda muito está por perceber na história da igreja em forma de caravela, com uma torre de 100 metros de altura, cujo projecto a Assembleia Municipal de Lisboa pediu há duas semanas que fosse revisto, o mesmo defendendo dias depois o bispo auxiliar de Lisboa D. Carlos Azevedo. Falta saber como é que o projecto foi parar às mãos de Troufa Real, qual a validade dos compromissos assumidos pela câmara e o que já pagou à paróquia. O padre diz que só recebeu 25 mil euros. A câmara diz que não sabe se pagou alguma coisa.
O pároco António Colimão disse há semanas ao PÚBLICO que a autarquia lhe prometeu 234 mil euros, por escrito, para pagar os projectos de Troufa, e que só recebera 25 mil. Ao Expresso afirmou o mesmo, esclarecendo que foi por indicação de Soares que Troufa o contactou. João Soares, contudo, assegurou ao PÚBLICO que não foi ele a impor o arquitecto. "Quem me apresentou o padre foi o próprio Troufa", adiantou, frisando não se recordar de ter sido atribuído qualquer subsídio à paróquia para pagar projectos.
O actual vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, por seu lado, garantiu que desconhecia a existência de qualquer protocolo em que a autarquia prometesse apoiar a obra.
Os protocolos desaparecidos
Um protocolo encontrado esta semana pelo PÚBLICO no processo de licenciamento da construção da igreja faz, porém, alguma luz sobre a escolha do arquitecto. O documento, que segundo os elementos disponíveis nunca foi aprovado pelo executivo, tem a assinatura de João Soares e do padre António Colimão, tendo sido assinado em 25 de Junho de 1997, na presença de D. Albino Cleto, actual bispo de Coimbra. O seu artigo sexto reza assim: "... a câmara municipal, uma vez mais associando-se às aspirações da comunidade católica da freguesia de São Francisco Xavier, proporcionará à Fábrica Paroquial o projecto da arquitectura do equipamento religioso, que o professor arquitecto José Troufa Real graciosamente colocou à disposição da autarquia, bem como todo o acompanhamento na execução da obra." Ou seja, Troufa Real dava o projecto e a câmara oferecia-o à igreja, garantindo o acompanhamento dos trabalhos.
Quatro anos depois, em 2 de Dezembro de 2001, por proposta do vereador das Finanças de João Soares, a história deu uma volta e foi aprovado por unanimidade o protocolo de que falava Colimão mas de que Soares não se lembrava e que Salgado desconhecia. Resultado: a câmara comprometeu-se a atribuir um subsídio à paróquia, até 234 mil euros (46,8 mil contos), para que esta pagasse "a realização do projecto de arquitectura e das especialidades", bem como "a assistência técnica" da obra. O projecto acabou por ser aprovado já em 2005 e os trabalhos começaram há semanas.»
19/12/2009
Câmara prometeu pagar projecto de Troufa que Soares doou à igreja
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