05/07/2017

Porque o sonho comanda a vida...


In Público, por João Pedro Pincha (1.7.2017)

«Afinal havia outro (projecto para a frente ribeirinha)

E agora algo completamente diferente. A Praça do Comércio calcetada com motivos astronómicos, o Campo das Cebolas muito mais pequeno, dezenas de prédios à beira do rio. Eis um projecto da Lisboa que podia ter sido. Ainda será? [...] Na gaveta dos irremediavelmente condenados parece estar Building on the Edge of Tagus River: The New Lisbon Riverfront, um projecto de 2003 que Gonçalo Cornélio da Silva, arquitecto da Câmara Municipal de Lisboa, desenvolveu como tese de um mestrado de Arquitectura nos Estados Unidos. É fácil perceber porque é que o desenho urbano que ele propõe está no lote dos desesperançados: as obras que a autarquia tem promovido entre o Cais do Sodré e o Campo das Cebolas estão nos antípodas dos princípios defendidos por Cornélio da Silva. [...]

O arquitecto sabe disso, mas não vacila. “Estou convicto de que um dia Lisboa será assim!”, diz com entusiasmo. Alguns dias depois de visitar a exposição A Lisboa Que Teria Sido – que, no Museu de Lisboa, mostrou quase 200 projectos que nunca saíram do papel –, Gonçalo Cornélio da Silva decidiu tornar público o seu próprio projecto que também não passou disso mesmo. “As cidades, muitas vezes, trocaram facilmente a sua imagem projectada ao longo dos séculos por um ganho económico de curto prazo, com uma diminuição lenta da qualidade da experiência urbana”, critica. É isso que considera ter acontecido em Lisboa nas últimas décadas. Era isso que queria corrigir. [...]

A proposta de Cornélio da Silva, diz o próprio, “resulta de uma visão humanista e de uma compreensão da verdadeira função da Praça do Comércio”. É a partir desse local central que se desenvolve todo o projecto, desde o Corpo Santo a Santa Apolónia. “Somente na última metade do século XX é que se circula ao longo do Tejo, numa marginal, com uma vista sobre a cidade só habitual a quem navegava no rio”, lembra. Olhando a partir de um barco ou mesmo da Outra Banda, a dimensão da Praça do Comércio destacava-se na paisagem e impressionava o visitante. Mas “na Lisboa que conhecemos existem dois espaços urbanos em conflito” com aquele espaço, diz o arquitecto: o Campo das Cebolas e o Arsenal da Marinha, junto à Ribeira das Naus. “Não só retiram grandeza e monumentalidade, como ainda diminuem a verdadeira função da Praça do Comércio, que é a de celebrar a vida.” [...]
[...] “As cidades são as maiores oportunidades que temos para projectar a nossa imagem, de nós mesmos ao mundo e para a posteridade”, diz o arquitecto. “As grandes cidades do passado que ainda habitamos falam dos sonhos e aspirações das suas sociedades e devem entender a memória não como uma nostalgia de glórias vãs, mas como inspiração para qualquer realização contemporânea e dinâmica”, remata. »

1 comentário:

Anónimo disse...

Desenhos bonitos, até parecem do tempo do Marquês de Pombal (ou Carlos Mardel), mas as soluções parecem pindéricas e bem piores do que está a ser feito actualmente (e olhem que só bastante critico de algumas soluções e da confusão criada!). Também não entendo qual a fobia que algumas pessoas têm a espaços vazios, como se fosse uma coisa má!