22/09/2010

Peões ganham tempo no atravessamento de passadeiras

A Câmara Municipal de Lisboa está a alargar o tempo de atravessamento dos peões nos semáforos e passadeiras da Baixa. E promete aumentar o combate ao estacionamento abusivo. Ontem, 200 pessoas reuniram-se em defesa dos direitos de quem circula a pé.

?É importante que o automóvel não seja rei e senhor da cidade em relação ao qual tudo se sacrifica desde o espaço público, aos passeios e passadeiras?, disse, ao JN, Nunes da Silva, o vereador da Mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa (CML).
As afirmações ganham especial relevância tendo também em conta que, segundo dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, o número de atropelamentos de peões no distrito aumentou no ano passado: 1703 atropelamentos que resultaram em 22 mortos contra 1587 atropelamentos e 15 mortos em 2008.

O autarca falava antes do arranque de uma sessão de consulta pública sobre acessibilidade nas ruas de Lisboa e que ontem à tarde juntou mais de 200 pessoas – a maioria idosas –no Mercado da Ribeira, ao Cais do Sodré. Na ocasião, o JN ouviu críticas de vários cidadãos e todas afinavam pelo mesmo discurso: há demasiados carros mal estacionados e, entre outros protestos, falta civismo aos automobilistas.

O vereador Nunes da Silva abordou a problemática questão do civismo (ou da sua falta) considerando que “as pessoas tornaram-se extremamente egoístas” e destacou que “é curioso verificar que têm comportamentos completamente diferentes quando estão num automóvel e quando andam a pé”.

Desde sábado que a CML começou a modificar o funcionamento dos semáforos na Baixa pombalina. “Damos agora mais tempo de atravessamento aos peões”, disse Nunes da Silva, avançando que tenciona testar a viabilidade de uma fase nos semáforos reservada só a peões mesmo em cruzamentos, de maneira a que “todas as passadeiras fechem para os automóveis ao mesmo tempo e o peão possa atravessar em diagonal”. A autarquia está, também, a procurar “melhorar as condições de fluidez de tráfego com velocidades constantes relativamente baixas”.

Maria de Jesus Monteiro, moradora do Campo Grande, foi apenas uma das muitas a criticar a quantidade de carros estacionados em cima dos passeios e que perturbam ou impedem a circulação dos peões.

O vereador disse ter consciência de que “é preciso controlar o estacionamento e ser extremamente mais rigoroso e penalizador”. Contudo, afirmou ao JN que as intenções da CML são dificultadas pela escassez de meios. A real eficácia dessa prevenção só se conseguirá “quando a Divisão de Trânsito da PSP passar a estar integrada na Polícia Municipal”, uma vez que “não temos efectivos suficientes na Câmara para fazer essa actuação”. “A proporção é de um para três em relação à PSP”, lembrou, sublinhando que “tem que haver um corpo de policia especializado e não se justifica que seja dependente do ministro da Administração Interna”.

Presente na sessão esteve também um arquitecto da CML, Jorge Falcato Simões, que se movimenta em cadeira de rodas. Apesar de admitir que raramente circula nos passeios, disse ter noção de que “são uma realidade um bocado inóspita”. Como tal, urge “tornar a cidade acessível” até para evitar que as pessoas “sejam precocemente atiradas para lares de idosos”. “As pessoas envelhecem e a sua área de mobilidade vai diminuindo”, explicou, acrescentando que isso faz com que “a pessoa se culpabilize a si própria” quando, no fundo, “a pessoa não faz aquilo que fazia antigamente porque o ambiente é hostil”.

In JN

9 comentários:

Anónimo disse...

não há falta de civismo mas sim falta de fiscalização. fiscalização leva ao civismo. a ideia de que os portugueses têm menos civismo que, digamos, os ingleses é uma falácia e mais uma desculpa para não se fazer nada. se a polícia em Londres fosse tão boa como a de Lisboa haveria lá tantos carros nos passeios como há cá...

há cidades onde as receitas do estacionamento nas ruas e as multas vão directamente para o "Department of Revenue" (Chicago, por exemplo). com esse dinheiro dá para pagar aos fiscais e ainda sobra muito... portanto a falta de meios também não é justificação. se o estcionamento fosse fiscalizado e os infractores autuados não haveria falta de meios financeiros...

Bernardo Ferreira de Carvalho disse...

É verdade, concordo 100%.

Filipe Melo Sousa disse...

e como circula a população activa que sustenta "As pessoas que envelhecem e cuja mobilidade vai diminuindo"

Anónimo disse...

FILIPE:
"e como circula a população activa que sustenta "As pessoas que envelhecem e cuja mobilidade vai diminuindo"

SÓ PENSAR QUE OS MEUS FILHOS O VÃO SUSTENTAR A SI, ATÉ ME ARREPIO!1

Anónimo disse...

"e como circula a população activa que sustenta "As pessoas que envelhecem e cuja mobilidade vai diminuindo" "


Pode ser que um dia leve com um carro de uma pessoa do seu género e depois já fica a perceber as dificuldades porque as pessoas passam.
Agora de um parasita não é de esperar mais do que isso.

Filipe Melo Sousa disse...

já chegou a apelos à violência e ameaças. este blog anda muito bem frequentado sem dúvida

Anónimo disse...

Desde que apareceu aqui as coisas cairam muito, tem razão!

Anónimo disse...

Filipe, se acha que é preciso ser vítima de uma ameaça para levar com um carro em cima está muito enganado. Ou acha que as 5 pessoas que são atropeladas por dia só em Lisboa andam todas a sofrer ameaças na net?

Luís Alexandre disse...

A CML tem sempre uma boa desculpa para não fiscalizar a bandalheira que se tornou o espaço público da cidade de Lisboa.
Andamos todos contentes a aprovar edifícios com 1.000 requisitos para mostrar que pensamos na mobilidade, quando as pessoas com mobilidade reduzida não conseguem andar nos passeios, atravessar uma estrada e em alguns casos, nem sequer conseguem sair de casa porque um imbecil qualquer parou o carro à porta e não deixou espaço de passagem.
Temos cerca de 20 estações da rede de metro sem acesso para pessoas com mobilidade reduzida.
Alterar o tempo dos semáforos, é muito pouco e é como tentar secar o oceano com uma esponja ...