12/01/2013

Cozinha de influência. Este é o governo que menos vai ao Gambrinus.


Cozinha de influência. Este é o governo que menos vai ao Gambrinus
Por Jornal i, publicado em 12 Jan 2013 

São lugares conhecidos da elite portuguesa, mesas onde já se fecharam muitos negócios, nasceram partidos, festejaram sucessos e se desabafaram, noite dentro, os problemas da vida. Dantes havia mais fronteiras: os restaurantes dos médicos, dos artistas, os da esquerda e os da direita. Hoje tudo se mistura, mas este não é o único sentimento entre quem, há décadas, serve personalidades e sabe de cor os pratos preferidos de muitos – em véspera de um clássico, descobrimos que Pinto da Costa adora fígados de aves. Ao almoço, mesmo de trabalho, são mais contidos nos pedidos e há um certo estigma em se ser visto a gastar muito. À noite, chegam cada vez mais tarde. O i dá-lhe a conhecer um circuito de restaurantes e bares onde muitos habitués são caras conhecidas e desvenda algumas inconfidências, como Passos Coelho ser um bom garfo, de dobrada para cima, e Vítor Gaspar ser o último a terminar as refeições



Gambrinus

Estigma do luxo

Morada Rua das Portas de Santo Antão, 23

Preço médio 50 euros a 60 euros

 Um bom empregado de mesa é aquele nada vê, nada ouve e muito menos comenta. No restaurante Gambrinus, em Lisboa, os segredos estão protegidos. Negócios fechados de madrugada, alianças e pactos políticos ou ainda estratégias empresariais definidas ao gosto da sopa rica de peixe, de empadão de perdiz, de cataplanas ou de joelho de porco com couve marinada em vinagre (eisbein).

O Gambrinus é, por definição, o restaurante da elite. CEOs com influência em todas as esferas e políticos com poder de decisão. Ministros também. Agora menos. Cada vez menos… A bem da verdade, há um bom tempo que já não aparece por ali nenhum ilustre do governo, confidencia o pessoal da casa. Deixaram de frequentar o restaurante sem qualquer aviso ou explicação. Em tempos de austeridade, ser visto num restaurante de luxo é um risco demasiado grande. Os tempos mudaram mas o Gambrinus mantém o estatuto. Neste caso concreto, o “estigma”, como se vai comentando na copa, na cozinha ou nos escritórios.

Não há crise. Todos sabem que mais tarde ou mais cedo eles – ou outros no lugar deles – irão regressar. Enquanto esperam, há outros para bem servir. Nomes que não faz mal revelar porque são estrangeiros como o actor americano John Malkovich, o actor da saga Crepúsculo Robert Pattinson, ou o fundador dos Pink Floyd, Roger Waters. Celebridades que por ali passaram com o produtor de cinema Paulo Branco. Ficava mal não incluir nesta lista os ilustres da política internacional como o Presidente moçambicano Armando Guebuza e ou o imperador do Japão Akihito que, com o seu exército de seguranças, revolucionou as rotinas do Gambrinus.

Figuras públicas portuguesas há muitas como já se sabe. Mas para saber quem são só entrando no restaurante e pagar para ver. Fica só um nome para aguçar o apetite – o presidente do FC Porto, Pinto da Costa que, quando vai ao Gambrinus pede sempre o mesmo.

Café de S. Bento

Mesa para três

Morada: Rua de São Bento, n.º 212

Preço médio: 35 euros a 40 euros

Bastaria um dia o Presidente Cavaco Silva entrar no Café de São Bento, frente ao parlamento, e a caderneta ficaria finalmente completa. É o único chefe de Estado da Democracia que nunca por lá apareceu. Não fosse esse detalhe, o restaurante-bar de Lisboa gabar-se-ia hoje de ter coleccionado quase todos os cromos: Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio.

Mas o sortido é variado e há muito mais por onde escolher. Os ministros Nuno Crato (Educação), Álvaro Santos Pereira (Economia) e Paulo Macedo (Saúde) compõem o trio que aparece sempre que há debate parlamentar. Rui Rangel, Francisco Moita Flores e Marinho e Pinto fazem o mesmo à quarta-feira quando terminam o programa “Justiça Cega” da RTP Informação e, no dia seguinte, é a vez de António Costa, António Lobo Xavier e Pacheco Pereira, depois de deixar a Quadratura do Círculo da SIC Notícias.

Quase sempre é para comer fora de horas o famoso bife – que tanto é grelhado, como da casa ou à portuguesa – mas também para beber uma cerveja ou um velho whisky como fazem os deputados socialistas Francisco Assis e João Paulo Pedrosa. Há mais um a incluir neste trio, mas destoa dos colegas: o socialista José Lello é homem para preferir antes um “chazinho”.

Os encontros têm muitas combinações. O ex-secretário-geral da CGTP, Carvalho da Silva com Mário Soares e António José Seguro numa mesa, Freitas do Amaral e Basílio Horta na outra e, para não centrar tudo só na política, o ex-treinador do Sporting Sá Pinto com empresários da bola numa mesa do fundo. No capítulo do desporto, a lista não ficaria completa sem Cristiano Ronaldo. O jogador apareceu umas poucas vezes, mas é suficiente para ficar na história. O café de São Bento serve em várias mesas e até tem como um dos grandes orgulhos ser o melhor restaurante de Lisboa para o bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho e Pinto.

Comilão

O cardápio laranja

Morada Rua Tomás Anunciação 5-A

Preço médio 17,5 euros

Não há equívocos: o Comilão é do PSD. Ou, para quem preferir a terminologia do presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, a “cantina do PSD”, como gosta de dizer sempre que fura o esquema. Em Campo de Ourique, a tradição ainda se mantém e as fronteiras estão definidas. O Comilão serve sociais-democratas mas, em contrapartida, os restaurantes Coelho da Rocha e Verde Gaio abrem as portas aos socialistas. O menu laranja é do mais abrangente possível: Pedro Passos Coelho, que aprecia um bom cozido ou dobrada, Miguel Macedo, que não resiste às pataniscas, Vítor Gaspar ou o trio do costume que entre os empregados já ganhou a alcunha dos “três troikas” - Nuno Crato, Paulo Macedo e Álvaro Santos Pereira.

Saraiva’s

O legado médico

Rua Eng. Canto Resende

Preço médio 35 euros

Hoje ja não há restaurantes exclusivos de médicos mas as memórias levam ao Saraiva’s. O legado da classe na cozinha de Lisboa está numa das entradas com mais saída, os Ovos à Professor. Os ovos mexidos com chouriço e pão nasceram em 1959 na cozinha do restaurante Lorde, criados pelo filho do famoso médico Reynaldo dos Santos, João Cid dos Santos, também médico. Dali foram para o Belcanto e agora servem-se neste restaurante frequentado por executivos e políticos. Faria de Oliveira, fã da perdiz de escabeche, Celeste Cardona, Catroga e Mira Amaral são presenças frequentes, assim como o administrador da RTP Alberto da Ponte e a jornalista Fátima Campos Ferreira. De Eusébio, uma lembrança caricata: um dia respondeu à saudação do pessoal, ainda à porta, com um pedido determinado: “para mim é um Logan”.

Tia Matilde

Rua Beneficência, 77

Preço médio 20/40 euros



É há anos o restaurante preferido de Eusébio, onde almoça diariamente. Ontem a escolha foi feijoada à transmontana mas porque a idade não perdoa vai alternando prazeres que incluem o whisky com refeições mais frugais como peixe cozido ou canja de galinha. Quem nos atende sublinha que se Eusébio é um amigo e “prata da casa”, mas desengane-se quem pense que a adega é um antro de benfiquistas. Mais até do que gente ligada ao futebol, empresários e políticos tornaram-se visita constante, de todos os partidos garante a gerência. Grupos de médicos também são frequentes. O prato na “berra” é a canja de cherne ou garoupa com amêijoas e espinafres. Para vencer a crise criaram-se meias doses.



Il Gattopardo

Avenida Eng. Duarte Pacheco 24

Preço médio A partir de 25 euros

Situado no terceiro piso do Hotel Dom Pedro Palace, este restaurante de alta cozinha é dos mais frequentados por administradores de grandes empresas, mas também figuras da política, moda e desporto. O ex-primeiro-ministro José Sócrates continua a ser um cliente muito assíduo.

Berimbar 

Rua das Praças, 11

Preço médio A partir de 5 euros

É um segredo bem guardado na Lapa, bar onde políticos, artistas, jornalistas e estudantes de passagem por Lisboa sabem que podem contar com o colo da “tia” Maria Cristina. Serve há 26 anos petiscos noite dentro, sem hora de fechar. Sem rivalidades, já lhe disseram que os seus croquetes batem os do Gambrinus. Ensinaram-lhe a receita as criadas dos avós, ele o célebre “Endireita da Esperança”. Marques Mendes, Lucas Pires, António Zambujo e Pedro (o primeiro-ministro) são alguns dos amigos da casa que assente nomear, porque o que importou nunca foi serem conhecidos mas o lado genuíno que qualquer pessoa revela na noite. Do Brasil, Maria Bethania ou Gal Costa. As paredes do Berimbar guardam segredos, “uma bomba atómica”, ri Maria Cristina. Casamentos por um fio, percalços, coisas da vida. “Esta é a minha sala, um útero materno, um lugar onde de dia há luz natural mas não há mística.” Enquanto há clientes, não se vê uma nesga de luz mesmo que o sol já tenha raiado. Trata os clientes por “meninos” e até já se fez passar por família no hospital. Fê-lo por Quinzinho de Portugal, que numa véspera de Natal ali teve um enfarte. Os tempos mudaram, as pessoas chegam cada vez mais tarde mas o espaço mantém a essência, música dos anos 60, 70 e 80 e uma atmosfera que junta Fellini e Pessoa, a descrição preferida da tia.

Sushi Time

Avenida Dom João II

Preço médio 15 euros e 25 euros

Se é um sportinguista ferrenho, este é o lugar da moda para almoçar perto dos jogadores. Na avenida principal do Parque das Nações, são passagem frequente pelo Sushi Time vários nomes do plantel, entre outros, homens do clube como Rui Patrício. Sem grande explicação sem ser o facto de muitos jogadores viverem na zona, esta passou a ser a cor da casa onde são também presença comum caras da televisão como Teresa Guilherme ou alguns ex-concorrentes da Casa dos Segredos. Além do sushi e sashimi, todos pedem a bebida da casa, o chá Evolution.

Bar do Ritz

Rua Rodrigo da Fonseca 88

Preço médio Café 4,30€

Recatado e com um terraço virado para o parque Eduardo VII este é um dos espaços preferidos para afinar e fechar negócios em Lisboa e mais recentemente um local bastante frequentado pela elite angolana. Os encontros são comuns ao final da manhã mas também durante a tarde. Carlos D’Espiney Pinto Ferreira, CEO do grupo de investimento Domínio Capital, foi um dos administradores influentes que por lá passaram esta semana. O café é servido com biscoitos de manteiga que se desfazem na boca.

Sr. Vinho 

Rua do Meio a Lapa, 18

Preço médio:  50 euros

É pelas vozes de Vanessa, Duarte e Aldina que o fado entra em cena – de 20 em 20 minutos – na Rua do Meio à Lapa. É nesses momentos que no restaurante Sr. Vinho as conversas de negócios, ou de família, dão lugar ao negro, à saudade e às raízes. “Os clientes habituais não são os famosos que aparecem nas revistas e que só procuram borlas”, conta Filipa Gordo, filha dos proprietários Maria da Fé e do poeta José Luís Gordo. Aberto desde 1975, o Sr. Vinho recebe  empresários e políticos nacionais, mas também figuras internacionais: Alicia Keys, Roberto Carlos e muitos outros cantores brasileiros. Quem todos os dias recebe os convidados garante que a proximidade da sede do PSD não é nem nunca foi sinónimo de uma colagem a determinada facção partidária. Quase sempre de casa cheia, o restaurante não sente a crise. “São raras as noites que estamos vazios…” Mas não foi o que aconteceu com o ex-administrador do BPN, Dias Loureiro que, quando por lá passou, só estava o grupo dele.  O restaurante preparava-se até para encerrar por falta de clientes. A imagem de extravagância também não é 100% correcta. Sobre o recente rumor de que o jogador do Sporting Stijn Schaars teria lá gasto mil euros numa refeição, Filipa Gordo esclarece: “Não chegou a mil euros e tratava-se de um grupo de 14 pessoas. Cada um pagou o seu.”

O Pabe de Balsemão

Rua Duque de Palmela 27

Preço médio 40 euros

Francisco Pinto Balsemão é dos poucos clientes do Pabe com mesa cativa, a mesma onde em 1974 nasceu o Partido Social Democrata. Historicamente conotado com o PSD, mas também visto como a segunda casa do “Expresso”, antes da redacção se mudar para Oeiras, o Pabe orgulha-se da sala com a traça original e do cardápio tradicional. Frequentado por políticos e executivos conhecidos durante a semana, entre eles Zeinal Bava e Henrique Granadeiro, ao fim-de-semana acolhe sobretudo famílias e turistas. Marcelo Rebelo de Sousa, Assunção Cristas e Carlos Moedas são alguns clientes habituais, mas o laranja não é exclusivo: Mário Soares também vai ao Pabe. O que pedem é segredo, como também garantem que nunca ligam a jornais a informar quem lá está. Cabrito e pato com laranja são os pratos com mais saída.

Solar dos Presuntos

Rua das Portas de Stº Antão, 150

Preço médio 35 euros

Abriu as portas em 74 com 18 lugares e hoje ocupa todo o prédio. Armando Cortez foi um dos primeiros amigos da casa e tem um recanto decorado em sua homenagem. Pedia filetes de peixe galo com arroz, um dos pratos emblemáticos do cardápio. Mas a lista é grande e para todos os gostos, das artes ao futebol e à política. José Eduardo Moniz gosta do arroz de lampreia. Do executivo, Relvas e Passos Coelho, aqui apreciador da mão de vaca com grão, são os mais assíduos do executivo. José Saramago gostava dos carapaus fritos, prato também pedido por Cavaco Silva nos tempos de primeiro-ministro. O rol de nomes é interminável como comprova o museu de fotografias nas paredes. Do futebol, Cristiano ou Jorge Jesus são visitas frequentes. Ronaldo pede peixe assado e Jesus fritada de peixe. Para Américo Amorim, sai quase sempre camarão panado. Ao almoçou ou ao jantar, há quase sempre caras conhecidas. Ainda esta semana calhou Mickael Carreira e Quim Barreiros jantarem na mesma sala.

1 comentário:

Xico205 disse...

Só restaurantes da treta. Caros e não valem nada.