18/01/2013

Lisboa já tem festivais a morar juntos no Bairro Alto e terá film commissioner.




Lisboa já tem festivais a morar juntos no Bairro Alto e terá film commissioner
Por Joana Amaral Cardoso in Público

Comissário da Lisbon Film Commission será conhecido este mês, diz a vereadora da Cultura na inauguração da Casa do Cinema, que reúne nove associações do sector num edifício de renda controlada


O film commissioner de Lisboa deve ser anunciado ainda este mês, disse ao PÚBLICO a vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, Catarina Vaz Pinto, a propósito da Lisbon Film Commission (LFC), a funcionar há cerca de dois meses na autarquia para "atrair realizadores e filmes estrangeiros para produção" na cidade. Além desta comissão, a autarquia tem a partir de ontem mais um projecto na área do cinema: a Casa do Cinema, espaço cedido pelo município a nove associações e organizações profissionais do sector.
O primeiro film commissioner da capital será "o contacto nos eventos internacionais para a captação de projectos" a rodar em Lisboa, como precisou Catarina Vaz Pinto à entrada do n.º 277 da Rua da Rosa, onde ontem foi inaugurada a Casa do Cinema. O espaço vai ser partilhado por nove associações que representam nove festivais de cinema de Lisboa. A vereadora explicou ao PÚBLICO que já existe um balcão especial da LFC no atendimento ao público da Câmara de Lisboa para receber pedidos de autorização para rodagem de curtas e longas-metragens e também de filmes publicitários. Catarina Vaz Pinto dará o parecer final sobre "o mérito cultural" quanto às rodagens de cinema em Lisboa no âmbito da comissão, classificação essa que se traduz na possibilidade de isenção de taxas várias para esses projectos.
A ideia é "desburocratizar o sistema", servindo o balcão para articular todas as autorizações necessárias, da câmara à polícia municipal, por exemplo, com uma só licença atribuída em apenas três dias, à imagem das film commissions de outras cidades do mundo, explicou a vereadora. Mas o vereador Victor Gonçalves, do PSD (que não votou contra a instituição da LFC), considera que, apesar de um comissário internacional ser essencial para um funcionamento eficaz da comissão, ela só se "aproxima timidamente" das suas homólogas internacionais, defendendo que a LFC "devia estar integrada com a Associação de Turismo de Lisboa". Já o vereador do CDS António Carlos Monteiro queixa-se de que "não está a ser fornecida informação sobre o que está a ser feito" na LFC.

Uma casa no "epicentro"

Ontem, na assinatura do protocolo de cedência do espaço no Bairro Alto lisboeta, "epicentro do cinema", como descreveu a presidente da Associação Portuguesa de Realizadores (APR), Margarida Gil, oficializou-se então que a APR, a Academia Portuguesa de Cinema e as promotoras dos festivais DocLisboa e Panorama (Apordoc - Associação pelo Documentário), IndieLisboa (Zero em Comportamento), Temps d"Images e Fuso (Duplacena), FESTin (Associação Cultura e Cidadania de Língua Portuguesa), Queer Lisboa (Associação Janela Indiscreta), Monstra - Festival de Animação de Lisboa e MOTELx (Cineclube de Cinema de Terror Lisboa) vão partilhar casa.
Nos três andares da Casa do Cinema, no Bairro Alto, onde a vereadora da Cultura quer "reforçar a componente cultural", o ambiente era quase de festa na manhã de quinta-feira. As escadas entre os três andares viviam um corrupio. Algumas salas já tinham os materiais das associações, outras apenas escassas peças de mobiliário - e preciosidades como um dos dois únicos posters originais existentes de Aniki Bobó, de Manuel de Oliveira, desenhado por Manuel de Guimarães e cedido à APR pela Cinemateca Portuguesa. Outras estavam ainda vazias, à espera da mudança.
A Lei do Cinema e a abertura dos concursos para apoios à produção eram tema de conversa entre realizadores, actores e produtores, além de estarem nas perguntas dos jornalistas. Para Margarida Gil, a Casa do Cinema encerra em si a possibilidade de "um élan" que contamine a Secretaria de Estado da Cultura na urgência de fazer o cinema português recuperar do seu "grau zero" que foi a paragem da produção em 2012 por falta de apoios do Estado, completa Paulo Trancoso, dirigente da Academia Portuguesa de Cinema. Ou seja, acelerando a regulamentação da Lei do Cinema e o seu novo sistema de financiamento, bem como a abertura dos concursos de apoio à produção para 2013.
A Casa do Cinema, onde cada um dos nove novos inquilinos pagará 56 euros mensais de renda, pode ser mais um elemento para "compensar as dificuldades que hoje enfrentam todos os agentes da área cultural", disse Catarina Vaz Pinto na assinatura do protocolo de prazo ilimitado. "Não temos capacidade de nos substituir ao vazio dos outros", disse, por seu turno, António Costa, questionado sobre se a autarquia estará a compensar as lacunas do Estado nos apoios ao funcionamento de sectores culturais portugueses. "Não nos podemos substituir ao Estado, mas temos investido cada vez mais nas áreas social e cultural", mais afectadas pela crise, rematou, em ano de eleições autárquicas.
Um dos objectivos da câmara neste projecto da Casa do Cinema é "a criação de novos projectos colaborativos" entre os organismos que alberga, "essenciais à cidade", nas palavras de António Costa. Mas talvez essas parcerias não sejam visíveis logo em 2013, como explica Rui Pereira, da Zero em Comportamento, visto que os festivais já têm a sua programação delineada para este ano. "Mas vamos estar a viver na mesma casa, por isso tudo será mais fácil", deixa em aberto.
Para a APR, por exemplo, esta será a sua primeira sede. Já a Zero em Comportamento vê como uma "evidente vantagem poder estar num espaço com renda controlada", como explicou Rui Pereira. A realizadora Susana Sousa Dias, da direcção da Apordoc, responsável pelo festival Doclisboa, dissera já à agência Lusa que a Casa do Cinema foi uma tábua de salvação para a Apordoc, já numa "situação crítica", porque não estava "a conseguir sustentar" a sua sede.

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