14/01/2013

“De cinco em cinco anos custa pouco dar uma borradela de tinta. Mas se se espera 20 anos é quase fazer do princípio. Isso acontece muito." Alvaro Siza hoje no jornal I .. uma reportagem comparativa por António Sérgio Rosa de Carvalho.

Londres / Spitalfields
Este bairro constituído por um conjunto coerente de edifícios "Georgian", encontrava-se intacto, também milagrosamente nos seus Interiores, mas num estado deplorável de conservação até há 20 anos ... e a sua demolição parecia inevitável ... graças a um conjunto de acções cívicas em conjunto com Historiadores de Arte/Arquitectura, ele foi salvo e Restaurado na integra ...( onde estão estes Historiadores em Portugal? ... sabemos que o Mundo Académico é pequeno, os empregos sào poucos e a crise intensa, além das "panelinhas" ... mas enfim ...)
 Hoje em dia é considerado um "must" visitar este Bairro, especialmente devido aos seus Interiores "Georgian" intactos também na ordem e hierarquia da sua distribuição, constituíndo assim todo o Bairro um famoso conjunto Monumental (apesar da sua escala Vernacular comparável ao Bairro Alto).


 Mas trata-se do rigor do Restauro das tipologias das janelas, das portas, dos elementos e detalhes arquitectónicos tanto no Exterior como no Interior, da qualidade das tintas e materiais utilizados, dos periodos rigorosos de manutenção cíclica e de Conservação.
Álvaro Siza afirma hoje no Jornal I  :  “De cinco em cinco anos custa pouco dar uma borradela de tinta. Mas se se espera 20 anos é quase fazer do princípio. Isso acontece muito. Tenho edifícios que, ao fim de mais de 20 anos, ainda não levaram o mais pequeno retoque, o que significa que estão muito bem construídos." 




Amsterdão



 Amsterdão, cidade que na qualidade de Restauro, Conservação e Manutenção do seu Património dá o exemplo nas suas dezenas de canais e centenas de ruas ...
Aqui é obrigatório por lei, de cinco em cinco anos, pintar as janelas, portas e respectivos elementos arquitectónicos com grande rigor profissional ( nada de "lambuzadelas" mas raspagem até ao miolo de madeira ) e a mais alta qualidade de tintas a óleo ( nada de componentes químicos) e não se vê ... uma única janela de Plástico ou alumínio ...





Entretanto em Lisboa, em pleno Centro Histórico visitado por um número crescente de Turistas "Culturais" e cultivados, o caos e a cacafonia de materiais híbridos no nosso Património é assustador, e ilustrativo de uma ausência de estratégia por parte dos eleitos ...
Como poderemos assim .... Levantar a cabeça ?




Mesmo, e precisamente em dezenas, centenas de edifícios que se consideram "recuperados" a ausência de critérios e referências é assustadora, e esta alienação permanente e sistemática das características autênticas do património é considerada "normal"...





E no entanto, já houve períodos em que as Unidades de Projecto locais desenvolviam projectos que se aproximavam dos "standarts" Internacionais  ... 





Precisamente, nos Bairros Históricos, em intervenções desenvolvidas pelas Unidades de Projecto no passado recente, a ausência de manutenção referida por Siza hoje, já se faz notar ... 







E por todo o lado o Património a apodrecer ... à espera de intervenções há tempo interminável, enquanto o Vereador Manuel Salgado apresenta os seus "Grands Travaux" ...



Mas ... se em pleno Terreiro do Paço - Monumento Nacional - já se aplicam janelas em PVC ... que mais poderemos esperar ? Janelas PVC no Palácio de Queluz ? 








6 comentários:

Anónimo disse...

Ver no Terreiro do Paço com estas janelas e ainda as colunas de iluminação modernas faz-me ter a certeza que este país não é para quem gosta de qualidade e rigor. Nem sempre foi assim mas a nossa sciedade está, de fato, decrépita e os políticos refletem isso.
Mas será que ninguém percebe que quem autoriza estas coisas é um perfeito e total criminoso! Andamos todos a dormir?

Anónimo disse...

Essas primeiras nove fotos são de uma classe imensa.
Aiai... enfim... que inveje que eu tenho da cultura e do civismo de certos Países e sociedades.

Anónimo disse...

Não tenha inveja, toca a ser cívico!!! Apanhe o lixo do chão, pinte os graffitis do seu bairro, faça lobby no seu condomínio para cuidar do edifício, plante flores.

Se estivermos sempre à espera que os outros comecem a ser cívicos primeiro, nunca o seremos. A diferença nas sociedades e países cívicos é que não ficam à espera que outra pessoa (ou o governo) faça!

Anónimo disse...

Anónimo das 11.30

Já tentei plantar arbustos na minha rua mas acabam sempre por ser arrancados e estragados. Da ultima vez até apanhei uma multa devido a uma denuncia anónima. Agora tenho vasos na varanda!
Por 3 ocasiões já apanhei vandalos em flagrante delito, a gravitarem as paredes dos edifícios da minha rua, na primeira ocasião telefonei para a polícia, não serviu para nada na segunda ocasião fugiram, da ultima tentei intervir e mostraram-me uma arma branca fugindo de seguida
Já tive a iniciativa de pintar algumas paredes para ocultar os desenhos mas acabam sempre por pintar outra vez por cima, (vivo numa área mt movimentada por jovens durante o fim de semana)
Quanto ao lixo pode imaginar,enfim o maior problema é mesmo quanto os vizinhos não tem qlq iniciativa saem da garagem do seu condomínio no seu Mercedes de manha e voltam à noite evitando ao máximo o contacto e só uma pessoa não dá para tudo.
Estagnei..

Filipe Melo Sousa disse...

Não queiram ter os interiores dos prédios como em Amsterdão. Já não se fazem prédios como há 3 séculos e ainda bem! Escadas íngremes, range tudo. Ouve-se tudo o que os vizinhos fazem. Não há elevadores, logo não se pode fazer compras de jeito tem que se ir às compras todos os dias. As divisões são impraticáveis. Para além disso os prédios estão todos mais inclinados que a torre de Pisa, apoiados uns nos outros. As janelas são um insulto à inteligência e eficiência energética. Bem vindos ao século 21.

Loff disse...

É fácil e cómodo olhar para casas no Norte da europa e admirar o modo como conservam janelas de madeira e acabamentos vários. Mas a moral da história está bem presente no comentário do Filipe Melo Sousa. Estamos no século XXI, os tempos são outros, e a nossa cidade é esta.