23/10/2016

A Bela-Sombra da R. do Limoeiro foi humilhada!


A Bela-Sombra do Largo do Limoeiro tem mais de 100 anos (em 1910, como uma fotografia no Arquivo Municipal atesta, já era adulta). Está classificada como "Árvore de Interesse Público" (http://www.icnf.pt/portal/florestas/ArvoresFicha…). Trata-se de património, portanto. E lisboetas e turistas reconhecem-no: não há um que não pare, contemple e tire a fotografia que se impõe.
Este património classificado está sob a alçada de uma Junta de Freguesia com parcos recursos para tomar conta dela com a delicadeza e a sapiência que se impõem. Ora como é que neste país não há uma entidade que se ocupe destes exemplares classificados? Ou como é que a CML não chama a si, de novo, a sua manutenção?
Diz Rosa Casimiro que belas-sombras são “esculturas”: “o grande erro que se comete com as belas sombra é podar como se se tratasse de uma árvore comum. A bela sombra não é uma árvore é uma herbácea que pode atingir um porte arbóreo porque tem um tempo de vida muito longo". E diz mais: “Quando se gere uma bela sombra em espaço urbano a primeira pergunta que se deve fazer é: porque é que esta árvore é importante neste local? E só depois de ter resposta a essa pergunta se deve podar. A resposta é quase sempre a mesma, estas árvores são importantes pelas suas características ornamentais únicas". Para concluir, pergunta ainda a Rosa: “Agora digam-me que sentido faz podar uma bela sombra tirando-lhe toda a qualidade ornamental?”
O que se fez ontem à Bela-Sombra, apesar da prestabilidade da Engenheira da Junta de Freguesia de Sta. Maria Maior no local e da legalidade da operação, deixa muito a desejar. Atribuo aos “técnicos” da moto-serra (que, registe-se, pareciam ter um problema com o “género”, fingindo, por vezes, não ouvir a Engenheira responsável), à incúria da CML, à AML (onde o Regulamento Municipal do Arvoredo está bloqueado há quase um ano) e à falta de sensibilidade de muita gente.
Não é o primeiro caso em Lisboa: a Bela-Sombra de Campo de Ourique, exemplar também classificado, foi desclassificada por causa de uma poda desastrosa e a Bela-Sombra do Jardim de Santos foi, o ano passado, igualmente humilhada. Depois desta poda atroz é bem possível que este belo exemplar do Limoeiro venha a perder a sua classificação também.
Conclui-se, então, que nem tudo o que é legal, é moralmente aceitável!
O resultado para esta Phytolacca dioica está à vista como as fotografias comprovam: um antes e um depois dilacerante para quem dela é vizinho e a conhece há muito, muito, tempo.
De resto, esta Bela-Sombra foi podada porque estava a interferir com as catenárias dos eléctricos da Carris (e também porque sujava os carros dos Senhores Magistrados e aspirantes do CEJ). Eu pergunto se não há para aí um Engenheiro caridoso e consciencioso que possa apresentar uma solução técnica para esta situação tão delicada? É que no futuro teremos o mesmo problema.
Que país é este que prefere intervir em seres vivos com mais de 100 anos, violentando-os (e ao fazê-lo violentando todos quantos gostam de árvores e por elas se batem), em vez de desviar objectos inanimados, como postes e catenárias?
Peço desculpa, à Bela-Sombra e às pessoas que dela gostam, mas na madrugada de 22 de Outubro de 2016 eu, sozinha, não consegui impedir a barbárie...


C. 1910. Podemos constatar que nesta data já era um exemplar razoável, o que nos leva a crer que poderá ter, pelo menos, 150 anos (Arquivo Fotográfico Municipal)

1941 (Arquivo Fotográfico Municipal)

Antes da poda (2012)
Depois da poda (ou da lobotomia como o Arq. Gonçalo C. da Silva lhe chamou)

Lado Este



Parte detrás

Enorme ferida em consequência da poda, provavelmente provocada pela queda de tarolos.

Idem

Lado Oeste


Turistas perplexos



13 comentários:

Barragon disse...

Que "chatos"! Não têm mais nada para fazer? É só uma árvore..

Agora que Lisboa nunca esteve "tão bonita" porque é que não fazem como eu e vão mas é passear e fotografar os edifícios reabilitados e as grandes obras que estão em andamento..

Julio Amorim disse...

Mas quem paga e deixa actuar esta cambada de ignorantes ?
A chefia desta cidade permite e promove esta mutilação ?
Responsáveis...RUA !!!!

Paulo Ferrero disse...

O quê, mas todos estes ramos agora mutilados estavam a interferir com as catenárias e cabos dos eléctricos??? Simplesmente, não acredito. Isto merecia acção judicial, aliás, podia servir de caso de estudo aos estudantes do Centro de Estudos Judiciários, para verem o que é o país real. Muito mau.

E o ICNF não fez deslocar ninguém ao local para acompanhar a poda? Estavam todos a dormir? "acompanham" por controlo remoto, as usual?

E pq razão a empresa contratada não foi a mesma que foi contratada para as podas em árvore tb classificada no jardim de Campo de Ourique? Foi mto bem feita essa poda. As JF não comunicam entre si??

E agora, esperamos qtos anos para termos a bela-sombra como ela era? Ou daqui por 5 anos vamos ter nova poda?

Rui disse...

O comentário do "ilustre" da 1:33 resume e acaba por justificar o estado a que o património arbóreo de Lisboa chegou. Com um intelecto deste calibre as respectivas acções arranjaram sempre leigas e imbecis justificações.

Julio Amorim disse...

OBS: Esta árvore está mutilada para sempre e nunca mais será o que foi !

Inês B. disse...

O Barragon está a ser irónico...só pode...

Anónimo disse...

O Barragon gosta é de betão, cimento e vidro - tudo o resto é secundário.

Anónimo disse...

INACREDITÀVEL!!! Estou chocado e triste. MM

Anónimo disse...

Sendo o local de implantação da árvore também de passagem para milhares de turistas, seria importante apelar para a fotografia, afim de levarem para as suas terras o que de melhor se faz em Portugal no campo do tratamento do arvoredo.

Pinto Soares

vanda disse...

Será que sobrevive a esta ignóbil poda?

Maria do Mar disse...

Será que nesta cidade não existe quem percebe, gosta e domina está matéria? Afim de evitar estes assassinatos?

Anónimo disse...

É que isto nem sequer é uma poda. Os serviços das áreas verde e afins da CML, estão entregues há vários anos a um advogado, que não percebe nada de botânica e não tem sensibilidade para o cargo, e por isso quase todos os jardins de Lisboa,como na Ribeira das Naus e o Príncipe Real, e até Ruas como a Guerra Junqueiro, tiveram todas as árvores cortadas rente. Deveria ser um engenheiro agrónomo ou silvicultor a dirigir estas operações. Estes últimos sabem bem a diferença entre podar e cortar. Recentemente a Câmara Municipal de Lisboa, delegou nas Juntas de freguesia a manutenção dos jardins, e nas juntas, também não há pessoal qualificado. Basta referir o que aconteceu nos Olivais, onde 35 Choupos Negros (Populus Nigra) no parque do Vale do Silêncio, foram ignobilmente sacrificadas, e cortadas rente ao chão.Eram árvores de grande porte e estavam todas saudáveis! Lamentável tanta imbecilidade!

Antonio disse...

http://www.pbase.com/image/168490251