21/09/2017

SOS, pelos freixos de Marvão


(fotografia de descobriralentejo.pt)
«Exmo. Senhor Primeiro Ministro
Dr. António Costa,


Dirigimo-nos a V. Exa. no sentido de o alertar e de lhe fazer chegar a nossa imensa consternação e inquietação sobre o que se prevê venha a acontecer à preservação de um património arbóreo único no nosso país, um conjunto de árvores veneráveis, que não pertencem apenas à geração que as plantou e que dela cuidou, mas a todas as gerações que lhe seguiram.

Trata-se da alameda de freixos (Fraxinus angustifolia Vahl) monumentais da Estrada Nacional 246-1, entre Castelo de Vide e Marvão (distrito de Portalegre); um conjunto 235 freixos centenários classificado pelo Plano Director Municipal de Marvão (Resolução do Conselho de Ministros n.° 70/94). Estas árvores estão ainda classificadas como Árvores de Interesse Público desde 24 de Fevereiro de 1997.

Acontece que um estudo recente recomenda o abate de mais de 40 destes freixos monumentais. Estas árvores vêm sendo negligenciadas desde há muitos anos. Em meados dos anos 90 ainda estavam de boa saúde e o "túnel de árvores" era um cenário magnífico. Mais recentemente, em 2012, foram abatidas cerca de 30 árvores (!). Há também notícias de abates em 2008 e o abate controverso já este ano de mais algumas pela Infraestruturas de Portugal.

Não questionamos a legitimidade das conclusões do estudo, ao qual ainda não tivemos acesso, nem o diagnóstico desolador que este faz às árvores, mas não aceitamos com facilidade as soluções avançadas. As árvores constituem-se como biocenoses, o que implica que as intervenções numas, tenham impactos que podem ser muito negativos em outras.

Em Portugal existem escassíssimas estradas em túnel com árvores monumentais. Há mais de 100 anos alguém se deu ao trabalho de escolher cuidadosamente, talvez mesmo semear, esta alameda de freixos. Plantou-os, cuidou deles, e partiu com a certeza de que tinha feito algo de útil para as próximas gerações. Com que direito aqueles que hoje herdam este património e têm responsabilidades em legá-lo às gerações futuras escolhem preservar a estrada e abater as árvores monumentais?

Os especialistas e homens da ciência têm a obrigação de, em coordenação com os políticos e os cidadãos interessados, encontrar soluções desacostumadas para o mundo.

Sabemos que, em tempos, houve um projecto de construção de uma estrada alternativa entre Marvão e Castelo de Vide, que ficou esquecido. E há muito que o ICNF, a entidade responsável pelo arvoredo classificado, recomenda o fecho da estrada ao trânsito como medida de preservação destas árvores.

O que vimos pedir a V. Exa, Senhor Primeiro Ministro (que no passado como Presidente da CML redigiu o inovador despacho 60/P/2012), é que faça sair da gaveta este projecto de estrada alternativa e que o "túnel" das árvores do Marvão seja fechado ao trânsito e posto à fruição dos portugueses como santuário arbóreo do país. Que estes freixos possam morrer de pé e com a dignidade de que são exemplo há mais de uma centena de anos.

Muito obrigada pela atenção que se dignar prestar a este nosso pedido.

Muito atentamente,

Rosa Casimiro, Inês Beleza Barreiros, Paulo Ferrero, Fátima Castanheira, Miguel Velloso, Maria de Magalhães Ramalho, Jorge Pinto, João Pinto-Soares, Manuela Correia, Rui Plácido, Raquel Lopes, Elsa Severino, Artur Lourenço, Manuel Valadas Preto, Maria de Fátima Carmo, Carlos Neves, Paulo Torres, Paulo Lemos, Alexandre Nunes, Ana Alves de Sousa, Gui Abreu de Lima e J.D. Mondego
Pela Plataforma em Defesa das Árvores» (in Blog Somos Árvores)

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A Plataforma em Defesa das Árvores tem como seus signatários vários cidadãos em nome individual e as seguintes organizações: Árvores de Portugal, Associação Lisboa Verde, Associação Vamos Salvar o Jamor, Fórum Cidadania Lx, GEOTA, Grupo de Amigos da Tapada das Necessidades, Grupo de Amigos do Príncipe Real, Grupo Ecológico de Cascais, Liga dos Amigos do Jardim Botânico, Plataforma por Monsanto, Plantar Uma Árvore e Quercus.

3 comentários:

Anónimo disse...

Pergunta-se quantos Freixos foram plantados em substituição daqueles que entretanto têm vindo a ser abatidos.

João Pinto Soares

Anónimo disse...


Lamentável

Anónimo disse...


Como se ousa destruir esta maravilha ?