Numa altura em que a CML procura (?) salvar o Ballet Gulbenkian, achamos que era de elementar justiça fazer-se um balanço à actuação da CML ao longo dos últimos 4 anos, um balanço que se resume pouco mais que meia dúzia de colóquios e exposições, e um verdadeiro «choque cultural»: a instalação de comes e bebes e carrinhos-de-choque na Av.24 de Julho, e a abertura de um ringue de gêlo numa tenda no Pátio das Missas, em Belém, a fim, certamente, de os lisboetas aperfeiçoarem os seus dotes de condutores e «patinadores».
Passado o choque inicial, queremos dizer à CML que teria sido melhor ter antes agido da mesma forma decidida e empenhada na resolução de 4 casos sintomáticos de abandono, desleixo e incompetência a nível de gestão e programação dos próprios equipamentos culturais da CML, a saber: Cinema São Jorge, Maria Matos, Espaço A Capital e Museu Bordalo Pinheiro.
1. Como é possível ter-se mandado encerrar o Espaço A Capital, despejando os Artistas Unidos, por perigo de derrocada e estar tudo na mesma passados 4 anos, sem sequer se ter dado início ao projecto de reabilitação tantas vezes publicitado? O projecto artístico dos Artistas Unidos para o espaço A Capital é uma excelente oferta cultural para o Bairro Alto e para Lisboa. O C.V. da companhia fala por si. Por isso, pedimos ao próximo Presidente da CML que dê andamento imediato ao respectivo projecto de recuperação.
2. Como é possível comemorar-se o 100º aniversário da morte de Bordalo Pinheiro e ter-se o respectivo museu fechado há anos?
Bordalo Pinheiro é uma fígura ímpar da cultura alfacinha e nacional. O espólio é imenso, muito mais do que o que exígua casa-museu deixa ver. Encontre-se outro espaço. Renegoceie-se o espólio e os ditos testamentários de quem cedeu o espaço!
3. Como é possível o São Jorge ainda não ter sido transformado em sala única e recuperado o estatuto de sala mais frequentada de Lisboa?
O Cinema São Jorge só tem futuro se for sala única, e se for a "casa do cinema português", com filmes portugueses em estreia obrigatória e em "reprise" . Deve-se apostar em protocolos com distribuidores e com a Cinemateca, que garantam a exclusividade da exibição. E complementar essa aposta com espectáculos musicais que se adequem à sala.
4. Como é possível ter-se fechado o Teatro Maria Matos sem saber o que programar para lá, e anunciar uma hipotética revitalização do Parque Mayer?
O Maria Matos foi a primeira sala a ser património municipal. Está num bairro em que poderia ser o pólo cultural de toda a zona. Com programação variada, desde teatro infantil a peças clássicas, passando por concertos e ópera. Abra-se a sua gestão a privados. Porque não começar pelos empresários do Parque Mayer?
Mas o futuro Presidente da CML vai ter também que equacionar novas formas de gestão, abrindo os espaços à iniciativa privada, com contratos de execução física e orçamental, claros, que contemplem gestão por objectivos, partilha de receitas e avaliação periódica por parte da CML. Terá que pensar em “mecenato municipal”. Eventualmente, equacionar também a própria existência da EGEAC. E deve apostar numa maior adesão da população de Lisboa (e não só) aos espaços culturais da CML, contemplando, por exemplo, o lançamento de passes sócio-culturais.
Por fim, se a próxima vereação quiser apostar em mais carrinhos-de-choque e em mais patinagem no gêlo, por favor, que o faça nos espaços próprios, concebendo uma nova Feira Popular em local adequado, devidamente arborizada e de fácil acesso, onde até poderá construir de raíz, também, um ringue de patinagem no gêlo, à semelhança, aliás, do que é feito lá fora. Lisboa agradece e não choca!
Paulo Ferrero, Pedro Policarpo e Bernardo Ferreira de Carvalho
22/07/2005
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