08/01/2013

EDP reformula projecto polémico de centro de artes à beira-Tejo.



"Se o projecto for considerado ilegal, isso será para nós uma surpresa", comentou na altura Sérgio Figueiredo, acrescentando que contava com "o incentivo do presidente da câmara e do vereador do Urbanismo, Manuel Salgado". 

"Salgado absteve-se de responder à maior parte das dúvidas da Provedoria."

"Sérgio Figueiredo diz que a Fundação EDP mantém a intenção de arrancar com as obras do complexo, orçadas em quase 20 milhões de euros, "no primeiro semestre de 2013". "Estamos a investir num bem de fruição pública, mas, se for muito difícil ou evidentemente ilegal, a gente não faz", sublinhou o administrado da fundação."



EDP reformula projecto polémico de centro de artes à beira-Tejo

Por Inês Boaventura in Público

Apesar de o processo ter voltado à estaca zero na Câmara de Lisboa, o promotor mantém a intenção de começar a construir o centro cultural até Julho. Manuel Salgado reconheceu erros na proposta anterior


O projecto da Fundação EDP para a construção de um centro de artes na zona de Belém foi reformulado e vai ser novamente sujeito à apreciação da Câmara de Lisboa, depois de a sua legalidade ter sido questionada por parte da oposição camarária, pelo provedor de Justiça e pelo movimento cívico Fórum Cidadania Lisboa.
O administrador delegado da Fundação EDP explica que com a nova versão do projecto se pretendeu "reduzir os impactes" deste equipamento, que deverá nascer à beira-Tejo, ao lado do Museu da Electricidade. Sérgio Figueiredo garante que a proposta alterada, a qual diz já ter entrado na Câmara de Lisboa, "é compatível com o novo PDM [Plano Director Municipal] e com as recomendações da Direcção-Geral do Património Cultural e do antigo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico".
Aquilo que não explica é quais foram as modificações introduzidas na versão inicial, da autoria da arquitecta britânica Amanda Levete. Sérgio Figueiredo recusou esclarecer se se mexeu na volumetria e nas cérceas do edifício, sendo certo que estes foram alguns dos aspectos que mais críticas mereceram depois da primeira apresentação pública do projecto em Abril de 2011.
Segundo a proposta conhecida nessa data, o novo centro cultural à beira-Tejo ocuparia uma área de quatro mil metros quadrados e teria 14 metros de altura e 150 metros de frente. Números que levaram o vereador do CDS na Câmara de Lisboa, António Carlos Monteiro, a afirmar que o projecto da Fundação EDP "viola praticamente todos os critérios do PDM". Isto, além de não salvaguardar os sistemas de vistas e de prever a construção em subsolo numa zona de aterro.
A oposição do CDS e do PSD de nada valeram e o pedido de informação prévia da Fundação EDP acabou por ser aprovado pela autarquia em Fevereiro de 2012. "Se o projecto for considerado ilegal, isso será para nós uma surpresa", comentou na altura Sérgio Figueiredo, acrescentando que contava com "o incentivo do presidente da câmara e do vereador do Urbanismo, Manuel Salgado".
Quem não incentivou a proposta aprovada foi o provedor de Justiça. Num ofício dirigido na semana passada ao Fórum Cidadania Lisboa a Provedoria faz saber que tinha "dúvidas quanto à conformidade do projecto com o PDM" e que logo após as primeiras averiguações "viriam somar-se novas dúvidas quanto à conformidade do projecto com o PDM". A propriedade dos terrenos, a reserva de solo verde ou pelo menos permeável, a utilização prevista para o espaço, o sistema de vistas, as cérceas do edifício e a demolição prevista de cinco imóveis incluídos na zona de protecção da Central Tejo foram alguns dos aspectos questionados pela Provedoria.
Ainda assim o processo foi arquivado pelo provedor, depois de o vereador Manuel Salgado lhe ter comunicado que "o projecto inicial se encontra abandonado".
Face a esse abandono, e ao facto de entretanto ter entrado em vigor o novo PDM, Salgado absteve-se de responder à maior parte das dúvidas da Provedoria. Apesar disso, admitiu que "existiam erros no quadro sinóptico apresentado pela requerente relativos à área do prédio" e deixou a garantia de que os terrenos são da requerente ou do município, "que prevê a sua cedência" para viabilizar o centro de artes.
Sérgio Figueiredo diz que a Fundação EDP mantém a intenção de arrancar com as obras do complexo, orçadas em quase 20 milhões de euros, "no primeiro semestre de 2013". "Estamos a investir num bem de fruição pública, mas, se for muito difícil ou evidentemente ilegal, a gente não faz", sublinhou o administrado da fundação.

9 comentários:

Paulo Ferrero disse...

Mais sobre o mesmo, em artigo DN, aqui

Anónimo disse...

Quem são os fundamentalistas?
Não se descansa com esta gente.
Não deve ser uma ideia de algum mecenas chinês-novo.
Como os cristãos novos, talvez algum chinês convertido ao capitalismo?
Parece-nos mais ideia de patos-bravos, isto é algum "intelectual"
português.
Ninguém diz a esta gente, que na primeira linha da linha férrea até ao estuário nada deve ser construido?
Já não estão satisfeitos com o novo Museu dos Coches ou o Centro Fundação Champalimaud?
Que tentação é essa?
Não perceberam nada porque se luta contra a implantação dos contentores ou outras torres projectadas para a primeira linha.
Porque não vão até à outra margem, por exemplo Porto Brandão, ou Cacilhas, ou outros miradouros e olhem porque Lisboa não deve ser mais descaracterizada.
A Associação dos Paisagistas nada tem a dizer?
Não existe?

lmm disse...

Antes de mais, acho este projeto de gosto muito duvidoso.

Mas não posso deixar de referir que se depender dos contribuintes do blog, Lisboa nunca terá uma "Opera de Sidney" por ex. Haverá sempre um conjunto de argumentos, muitos deles menores, que servirão para garantir que nada de inovador se fará.

Este pode não ser o melhor post para isso, mas lembro-me de uma frase de Italo Calvino nas Cidades Invisíveis: "obrigada a permanecer imóvel, para melhor ser recordada, Zora estagnou, desfez-se e desapareceu. A Terra esqueceu-a".

Sendo um acérrimo defensor e apreciador do património histórico, por vezes parece-me que há quem queira transformar Lisboa numa Zora.

Anónimo disse...

Imm, você deve comer heterodoxia paisagística e urbanística às colheres e gelados com a testa...
Ninguém está contra as construções de infraestruturas como esta, o problema é o local onde estão a ser construídas as mesmas.
Ou o seu intelecto não têm o Bom Senso para não entender isto!

Anónimo disse...

Hmmm....
Comparar Sydney com Lisboa
Compara uma cidade "moderna" com uma cidade milenar
Entender o que ambas tem de melhor para oferecer
É assim tão difícil?
I mean...
Cabe na cabeça de alguém construir um monstro de betão, style Museu dos Coches no centro histórico de Roma?
Cabe na cabeça de alguém construir um projecto semelhante a este nos champs elysees?

Só em Lisboa é que se edificam monstros destes, e logo na zona ribeirinha em frente de zona histórica com vista para o Tejo que é só o melhor que temos para oferecer.

Como diz aquele realizador que já filmou em quase todas as capitais Europeias: Esta cidade está cheia de Neuróticos

Anónimo disse...

Lord Byron about Lisbon

CHILDE HAROLD'S PILGRIMAGE

XVI.
What beauties doth Lisboa first unfold!
Her image floating on that noble tide,
Which poets vainly pave with sands of gold,
But now whereon a thousand keels did ride
OF mighty strength, since Albion was allied.
And to the Lusians did her aid afford:
A nation swoln with ignorance and pride.
Who lick, vet loathe, the hand that waves the sword
To save them from the wrath of Gaul's unsparing lord

Infelizmente também retrata muito bem certas mentalidades que continuam a proliferar e que mais se assemelham com quem constantemente dá cabo da beleza desta cidade.A natureza é mesmo madrasta!

XVII

But whoso entereth within this town.
That, sheening far, celestial seems to be,.
Disconsolate will wander up and down,
'Mid many things unsightly to strange ee;
For hut and palace show like filthily;
The dingy denizens are reared in dirt;
No personage of high or mean degree
Doth care for cleanness of surtout or shirt.
Though shent with Egypt's plague, unkempt, unwash'd, unhurt.

XVIII.

Poor, paltry slaves! yet born 'midst noblest scenes —
Why, Nature, waste thy wonders on such men

lmm disse...

Se o argumento da "cidade milenar" servir para que a cidade não evolua, então não durará outros mil anos.

Uma cidade é feita de transformação. É claro que quando se diz uma frase destas, vêm os infantil-intelectualóides acusar de comer "heterodoxia urbanistica com a testa". Dificilmente haverá alguém que valorize mais que eu o património e que sofra com o seu respetivo delapidamento que tem sido feito em Lisboa. Mas não se pode confundir isso com fundamentalismo, que é o que muitos exercem por aqui.

Anónimo disse...

Está visto que existem utilizadores que possuem uma capacidade de compressão aquém do aceitável ...

O argumento da cidade milenar é precisamente para reflectir o que uma cidade destas tem de único e o que foi conseguido em termos de património histórico nesse espaço de tempo diferenciando-a de tudo o resto.

Ou acha que são estes projectos artificiais (criados sempre pelos mesmos intelectos, caracterizados pelas suas linhas modernas e evolucionarias e que mais tarde ou mais cedo terão réplicas espalhadas por todo o mundo) é que vão caracterizar a nossa cidade e atrair os turistas. Irá ser somente mais uma nova réplica do que já existe em outro lugar.

E o mais engraçado de tudo é que este projecto viola uma data de leis referentes ao Plano Director Municipal especialmente no que diz respeito a questão paisagística da cidade para quem vem de veleiro, passeia à beira rio ou observe Lisboa em determinado local.

Anónimo disse...

Oh, que azar.

Eu estava esperançado de que se realizassem saltos para o Tejo do alto daquela linda pala mesmo a pedi-lo.