23/05/2008

O que era um deserto de lixo é agora um dormitório de luxo

In Público (22/5/2008)
Catarina Prelhaz

«O Parque das Nações continua a ser um mundo de dois hemisférios: sucesso urbanístico ou tecido desestruturado?

(...) O centro aspira e transpira a Oriente e Ocidente cerca de uma centena de pessoas por minuto. Carros de todos os tamanhos e feitios são bombeados à vez para os subterrâneos. Dezenas entrincheiram a Alameda dos Oceanos, ali mesmo, paredes meias com as bicicletas e carros a pedal a abarrotar de crianças.
(...) O lado sul do Parque é "assim", um "dormitório de luxo" e nada mais, lamenta Maria Augusto, 62 anos. Anda há dois para comprar ali casa e só não se mudou ainda porque não quer "viver no deserto". "Aqui só há imobiliárias porta sim, porta sim, porque nenhum outro comércio se dá bem com o Centro Vasco da Gama, que arrebata tudo. Gosto dos apartamentos - são extraordinários - da vista, do passeio sem carros ao longo do rio, mas falta bairrismo, espaços de convívio. Tudo isto me faz lembrar um filme do Antonioni, O Eclipse: as ruas vazias, a cidade deserta. Definitivamente, a parte norte não é um tecido urbano estruturado."
António Cabrita, 77 anos e ali morador há um par deles, completa a lista de "defeitos". "Transportes? Péssimos. Passam todos pela Gare do Oriente, a meia hora daqui. Finanças? Longe, só nos Olivais. Centro de saúde? Quando quis pedir a transferência, disseram-me que era na Encarnação e, só em transportes, perde-se uma manhã. Escolas? A parte norte é uma maravilha, aqui outro problema. Lá até há um parque infantil, aqui nem vê-lo. Estacionamento? Outra desgraça. Nem sequer há policiamento."
Mas o que desagrada a todos é a construção cavalgante, que teima em preencher o esqueleto do Parque, estrangulando as juntas verdes que entremeiam os edifícios. Em frente ao Oceanário, está a nascer um complexo de escritórios e um pouco por todo o recinto brotam mais e mais prédios de habitação. "Cada vez existe mais urbanização e menos espaços verdes. É um exagero", censura João Afonso, 40 anos.
Carlos Conde, 71 anos, formador de Turismo, é da mesma opinião. "Só espero que agora não estraguem o que já foi feito. A urbanização pós-Expo é um caso raro de sucesso, ao contrário do que aconteceu em Sevilha. O casino garante vida à noite, o Pavilhão Atlântico traz os melhores artistas do mundo, há exposições. Para quem como eu vive do turismo, o Parque das Nações é um óptimo sítio para empatar clientes." »

«Futuro suspenso
Um projecto entre o sucesso e o impasse

Cortejo de incertezas debaixo da pala de Siza Vieira

O Pavilhão de Portugal espelha o impasse em torno de alguns dos mais emblemáticos espaços da Expo-98. Dez anos passados, a famosa pala em betão aguarda por uma utilização condigna. O equipamento, ambicionado para sede do Conselho de Ministros, tem sido alugado para banquetes. O ex-presidente da câmara lisboeta Carmona Rodrigues tentou a permuta do imóvel para uso cultural e José Berardo também o cobiçou. A actual vereadora Helena Roseta (Cidadãos por Lisboa) defende que ali seja mostrada a colecção de design de Francisco Capelo.

Marina assoreada espera pela prometida requalificação
Uma espécie de marina "seca" (leia-se lamacenta) foi no que se transformou o espaço onde deviam atracar embarcações de recreio. Nem o facto de a exposição mundial ter sido dedicada aos oceanos salvou o equipamento do estado lastimável em que se atolou até ser desactivada há mais de cinco anos. As prometidas obras de requalificação, orçadas em dez milhões de euros, visam permitir a amarração de 580 embarcações, de entre dez a 15 metros. Os trabalhos, segundo a administração da Parque Expo, devem estar concluídos até ao Verão de 2009.

Uma igreja para acolher a fé dos residentes da nova cidade
A nova igreja projectada para a zona norte do recinto da Expo, junto ao Parque Tejo, só deve ficar concluída em 2013, mas para convencer os mais cépticos já foi assinada a escritura do terreno. O projecto, estimado em 4,5 milhões de euros, prevê lugares para 650 pessoas, zona de restauração e uma sede para escuteiros.

Uma mão-cheia de projectos novos e outros com mofo
Enquanto a Torre Vasco da Gama espera há muitos anos pela sua projectada adaptação hoteleira, de forma a tirar partido da sua excelente localização aberta ao Mar da Palha, na Avenida D. João II está previsto um campus da Justiça, distribuído por dez edifícios e outras tantas lojas. O investimento poderá chegar aos 200 milhões de euros. Um supermercado e uma loja gourmet do El Corte Inglés também é apontado para esta área, onde falta um centro de saúde e a única escola está lotada. »

Está visto: é um «sucesso». Venham mais ...

22 comentários:

daniel costa-lourenço disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
daniel costa-lourenço disse...

Há muitos problemas a Oriente, prefiro os bairros históricos da cidade, mas esta visão é demasiado pessimista e negra e demasiado concentrada nos pontos negativos.

No cômputo geral, penso que o saldo é - ainda - positivo.

O que trouxe de positivo para a cidade é, possivelmente, superior ao que trouxe de negativo.

Filipe Melo Sousa disse...

Gostei especialmente do argumento da Igreja para justificar a falta de infraestruturas.

Existe grande falta de perspicácia. Ao passar pela expo nunca dei pelas referidas velhas carpideiras vestidas de preto desesperadas na busca do seu local de culto. O autor falha em saber reconhecer o tipo de pessoas que habitam naquela zona.

Anónimo disse...

É um argumento deslumbrante, o seu. Com a mesmíssima lógica contundente, poder-se-ia alvitrar que as pastilhas de ecstazy criam o saudável hábito de ingerir vitaminas ou que a frequência de discotecas constitui a iniciação básica de qualquer melómano que se preze. Parafraseando o povo: o que é que o cu tem a ver com as calças?

Quanto às carpideiras vestidas de negro v. deve estar a viver (ou a reviver) o passado baseado nos filmes do Leitão de Barros. Vê-se que nunca foi a uma igreja. Em matéria de ataque aos crentes nem o blog ateísta se sai com um cliché tão demodé. E repare que eu não sou crente.

O problema deste bairro, aparte os dias de feira, é como diz a moradora: um deserto humano.

O autor não precisa de estar a dizer o óbvio. Não é preciso ter um QI altíssimo para se perceber que as pessoas que ele entrevistou são classe média e classe média alta, como eu, morador neste bairro que ainda não se encontrou.

Filipe Melo Sousa disse...

Pessoas de classe média alta deveriam perceber a teoria da evolução, que a terra não existe há 4.000 anos, e que o adultério é uma explicação mais plausível que a geração espontânea para uma gravidez.

Anónimo disse...

A inveja destes senhores do CIDADANIA LX é algo de muito feio.

Coitados, não podem viver no melhor local da cidade. E por isso, consideram-no um sitio mau.

Chama-se a isso dor de cotovelo!

Boa tarde!

Filipe Melo Sousa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Eh lá! Também não concordo com as criticas, mas chamar-lhe melhor sitio... Ok, tem coisas boas, mas nã exagerem

Anónimo disse...

mas onde está a inveja de todo um blog se o post é uma transcrição de um artigo do "público"?

Há com cada um.... sempre à espera de criticar.

Filipe Melo Sousa disse...

O autor do post cita e comenta a notícia, concordando com os juízos de valor negativos sobre o parque das nações.

Pela lógica deste último anónimo, posso citar um discurso do hitler e do goebbels, dizer que eles estão cobertos de razão, e no fim dizer que não existe apoio algum ao nazismo uma vez que apenas estou a transcrever o texto dos autores.

Anónimo disse...

Faz o que quiseres.

Anónimo disse...

isso é outra coisa, ó pastermalóide mangilínico! Se eu digo "que eles estão cobertos de razão" já nem estou a citar um discurso mas a emitir uma opinião pessoal.

também posso citar um discurso de hitler e abrir uma discussão sobre aquilo que foi dito - nos comentários surgirão muitas críticas e (infelizmente) alguns a aplaudir. Isso torna o autor de um livro escolar de história, por exemplo, num nazi?

Também já li aqui notícias sobre o estado lastimável de alfama ou da mouraria. Nessa altura não te ouvi a dizer que todo o blog tem é inveja e patati e patatá.

(independentemente disso, esta discussão não interessa, o que interessa é o post - e eu caí no erro de te dar trela)

Anónimo disse...

Um artigo de jornal? Sim pois é.

Se o autor o citou, é óbvio que representa a sua opinião.

Sim é mesmo a melhor parte da cidade. Urbanismo a sério! Planeado. A par de Belém, é um óptimo lugar. O centro da cidade está decadente.

E sim. Circula por aqui muita inveja. E fundamentalismo.

Boa noite Comunas!

Anónimo das 3:26 pm

Anónimo disse...

Nunca me tinha apercebido que fazer uma citação é sinónimo de expressar uma opinião, mas enfim...

Filipe Melo Sousa disse...

Nunca me tinha apercebido que fazer uma citação é sinónimo de expressar uma opinião, mas enfim...

Mais uma a quem o comentário do Paulo Ferrero no fim do post passou ao lado.

Anónimo disse...

Amiguinho, estava a referir-me a esta frase:
"Se o autor o citou, é óbvio que representa a sua opinião."

Já aqui escreveram e eu repito: se eu citar o Hitler torno-me automaticamente numa terrível e hedionda Nazi? Julgo que não...

Todos sabemos que o Filipe tem um extremo prazer em criticar tudo o que se escreve por aqui, mas não exageremos...

Filipe Melo Sousa disse...

Boa tentativa de descontextualizar uma frase para justificar as suas falhas de interpretação. Como sabe, a citação é explicitamente apoiada pelo autor. O próprio contexto do artigo e a forma como as citações são feitas neste blog indiciam o mesmo. É preferível desistir de provar que que o autor do post não subscreve o artigo. Só faz triste figura.

Anónimo disse...

oh filipe não falemos de tristes figuras porque parece-me bem que quem sai a perder não sou eu de certeza.

Enfim... O meu amigo não merece mesmo qualquer tipo de consideração, isso já todos sabemos há que tempos, e não merece também, na realidade, o tempo que levo a escrever-lhe esta resposta. Por tal, tenha um óptimo fim de semana.

E continue a escrever baboseiras. Pelo menos dá para rir um bocado à sua custa.

Filipe Melo Sousa disse...

mais um ataque pessoal com teor argumentativo nulo

Anónimo disse...

Vês como consegues interpretar bem os teus comentários?

Tu quando queres até chegas a roçar a coêrencia... Mas agora nada de embandeirar em arco, ok?

Filipe Melo Sousa disse...

Caro Antonio Proa,

algum argumento substancial a acrescentar sobre aquela zona da cidade, ou sobre a suposta não-subscrição do artigo do publico por parte do PF? Ou vai continuar a estrategia de simplesmente atacar o interlocutor como fundamento para a suposta tese do parque das nações - zona sem infraestruturas?

Anónimo disse...

Quando se cai na generalização perde-se parte da capacidade de argumentar. Dizer que quem escreve neste blog é comunista e tem inveja de quem mora no Parque das Nações parece-me demasiado "politicozinho". Por acaso até tenho um partido que se chama Benfica. É o único. Quanto ao Parque das Nações, jamais viveria por lá, mas apenas porque priveligio estar no centro da cidade, poder ir a pé à Baixa ou ao Chiado, ter ao pé de casa aquelas mercearias e demais comércio que apenas existe nos bairros mais antigos. Mas esta é a minha preferência. Se o senhor de quem "temos" inveja por morar no Parque das Nações se sente bem por lá, isso é o que importa. Nada mais. No entanto como lisboeta gosto de comentar a cidade onde se insere PARTE do Parque das Nações. Porque se o comentador invejado já mora em Loures, deverá procurar um blog da localidade.