28/05/2008

Câmara de Lisboa quer prolongar metropolitano do Rato até Algés por uma Alcântara com contentores no horizonte

In Público (28/5/2008)
Catarina Prelhaz

«Responsáveis locais temem novo esventramento de freguesias "desfiguradas" por décadas de intervenções. Plano de urbanização deverá estar pronto em Março

Por responder na sessão de apresentação das ideias da câmara para Alcântara ficou a dúvida do presidente da Junta de Freguesia do Santo Condestável, Luís Gonçalves (PSD). O autarca não vê com bons olhos a "alegada" construção de uma urbanização na encosta do Casal Ventoso e pediu esclarecimentos, mas o vereador preferiu não tecer comentários. "Caso a ideia avance, é grave. Gostávamos de manter aquele espaço - que não foi contemplado no decreto de expropriação - integrado em Monsanto como zona verde", argumentou Luís Gonçalves.
"Vivi 12 anos com os contentores à frente e nunca me senti subjugado por um muro de Berlim", ironizou Manuel Salgado
a Alcântara tem um novo muro de Berlim e vai continuar a ter, alerta o presidente da Junta de Freguesia dos Prazeres, João Magalhães Pereira (PSD). O autarca não quer acreditar que os contentores do Porto de Lisboa vão mesmo continuar a "estacionar" em Alcântara, mas essa é uma
das poucas certezas do futuro plano de urbanização da zona, cujos termos de referência foram apresentados pela autarquia na segunda-feira.
Com os contentores assegurados, a Câmara de Lisboa pondera agora prolongar a rede do metro do Rato até à Estrela e Alcântara e daí até Algés, ainda que reconheça que essa não é uma prioridade do Governo. A garantia foi dada pelo vereador do Urbanismo, Manuel Salgado (PS), para quem o aumento da mobilidade para os concelhos contíguos será um "elemento fundamental" do futuro plano, onde já está prevista a ligação ferroviária da Linha de Cascais à Linha de Cintura.
"Vale a pena equacionar a hipótese de o metro ser prolongado a partir da estação do Alvito [Alcântara] até Algés, estendendo-se para poente do concelho de Lisboa", advogou o vereador socialista perante os cerca de 150 munícipes que compareceram na sessão de apresentação na Junta de Freguesia de Alcântara.
Mas a ideia do executivo não agradou por inteiro aos autarcas locais, que temem que o prolongamento do metro se traduza num novo "es-
ventramento" das freguesias, à semelhança do que se verificou com a construção da Ponte 25 de Abril ou das linhas de caminho-de-ferro.
"Sempre nos opusemos à abertura da estação de comboio do Alvito porque isso significaria muitos desalojamentos numa zona de ruas estreitas densamente povoada. Alcântara tem sido sucessivamente penalizada: com a ponte e os comboios, centenas foram desalojados e reinstalados em casas de cartão. Sou contra esse tipo de solução", defendeu o presidente da Junta de Alcântara, José Godinho (CDU). Para aquele responsável, a activação da estação apenas seria viável se o seu prolongamento e acessos fossem feitos a Norte, para a encosta, evitando as habita-
ções, uma solução que Salgado admitiu "desconhecer", mas que ga-
rantiu levar em conta no plano.
Já para o presidente da Junta dos Prazeres, o problema é outro e diz respeito também ao anunciado enterramento da linha ferroviária que serve o cais dos contentores e que obriga o trânsito de duas das principais vias - avenidas da Índia e de 24 de Julho - a parar sempre que o comboio de mercadorias tem de passar.
"Querem tanto os contentores aqui - porque há mais espaço e quanto mais espaço têm mais ganham - que até querem construir uns túneis para os arrumar. Ora, o que quer que se faça em Alcântara tem alguma tendência para se tornar submarino e não subterrâneo. Vejam o que aconteceu no Terreiro do Paço", ironizou.
Embora reconheça que o alargamento do cais de contentores "não é a melhor solução para Alcântara", Manuel Salgado argumentou que se
trata de uma "peça-chave para a sustentabilidade económica da cidade", uma vez que o cais de Santa Apolónia não tem profundidade para acolher os navios de maiores dimensões. Por outro lado, garantiu, quaisquer obras a realizar serão sempre alvo de estudos prévios e, caso se revele pertinente, o metropolitano poderá antes dar lugar a outro meio de transporte ligeiro de superfície.
Uma outra preocupação de moradores e autarcas é a polémica Via da Meia Encosta, entre a Av. das Descobertas e Alcântara, um troço que será equacionado no plano de urbanização. "Somos totalmente contra essa via e só esperamos que seja retomado o diálogo, porque se ela avança com quatro faixas de rodagem numa zona de grande circulação vão começar as tragédias", advertiu José Godinho.»

2 comentários:

daniel costa-lourenço disse...

Os planos iniciais do metro já previam uma estação de metro em Alcântara, numa zona central, algures na zona do calhariz.

Que raio pedir uma estação na zona norte, nos limites de Monsanto? Quem vai utilizar essa estação? os esquilos ou...

Os autarcas deviam ser mais responsáveis quando se trata de investimentos deste montante. O metro é um investimento muito pesado e deve servir, por definição, zonas centrais e movimentadas da cidade.

Acresce que a linha amarela poderia perfeitamente estender-se do rato, pela estrela, infante santo e terminar em alântara ou nem sequer sair da Estrela e aproveitar a zona ribeirinha de Lisboa para metro de superficie , cujo investimento público é bem menos pesado.

Quanto ao Sr. Vereador do Urbanismo, gostava de saber em que zona viveu, exactamente, durante 12 anos.

NInguém, com responsabilidades públicas, faz umas declarações com essa ligeireza....

Anónimo disse...

Seria muito importante que o metro chegasse a Algés(como previsto no projecto inicial) porque permitiria um aumento brutal da mobilidade na zona ocidental de Lisboa. Eu proponho o prolongamento da linha amarela por Alcântara onde teria um interface com a futura estação ferroviária e deveria seguir um trajecto mais interior para evitar a sobreposição á linha de cascais passando pela ajuda Restelo até Algés e continuando por Miraflores.