14/05/2008

A que pressões cedeu a Câmara de Lisboa?

Um pouco mais abaixo [aqui ], é citado um artigo da autoria de Ana Henriques, do PÚBLICO, no qual Margarida Saavedra, vereadora do PSD, acusa a vereadora da Cultura, Rosália Vargas, de ter cedido a pressões na guerra APEL e UEP, no que diz respeito à realização da edição de 2008 da Feira do Livro.

Porém, a pressão mais grave a que este executivo sucumbiu e que, aparentemente apenas o Correio da Manhã noticiou (sem grande repercussão, quer na blogosfera, quer na restante imprensa), é o estatuto de injustificada excepção que a Câmara concedeu à Leya, de Paes do Amaral, ao licenciar 13 pavilhões "personalizados" à margem da Feira do Livro de Lisboa.

Paes do Amaral, que acaba de comprar a sua 13ª editora, e que assim tem na mesma carteira Saramago, Lobo Antunes e Miguel Sousa Tavares, certamente que esfrega as mãos de contentamento, depois de uma polémica inglória com a APEL, que apenas serviu os seus interesses e funcionou como publicidade gratuita a um grupo editorial ainda com pouca notoriedade.

Aparentemente - esta é a minha leitura pessoal -, havendo dinheiro e uma posição de cartelização do mercado editorial, qualquer um pode comprar a cidade de Lisboa (não sei como o ex-patrão da Media Capital não pediu a António Costa e a Rosália Vargas a Praça do Marquês de Pombal).

Pergunto:

O Executivo de António Costa cedeu a pressões do grupo de Paes do Amaral?

Quem licenciou os Pavilhões personalizados da Leya? Foi Rosália Vargas? Foi a reunião de câmara?

Qual é a justificação para este licenciamento à margem da Feira do livro?

Como é que a comunicação social não denuncia esta palhaçada?

3 comentários:

daniel costa-lourenço disse...

À partida não me parece nada escandaloso.

Porque não permitir pavilhões personalizados?

Porque é que tem de ser tudo formatado?

Porque não encarar a personalização como uma forma de patrocínio? As iluninações de natal já não são disso um exemplo?

Com isso não se está a poupar o erário público e, na mesma, a promover o mesmo fim, o interesse público?

Deixo as questões.

Samuel Freire disse...

Talvez porque assim todas as editoras disponham de espaço idêntico, e os livros que editam seja o que leva o público até elas.

Com pavilhões diferenciados, ganham as editoras mais poderosas (em termos económicos), atraem público pela fachada e não pelo conteúdo. Hoje um pavilhão diferenciado, amanhã um palco com concertos, depois carrinhos de choque, tudo serve para ganhar dinheiro.

Nas feiras do livro pelas diversas cidades europeias todos os editores e livreiros têm espaços idênticos entre si, maiores ou menores, apenas o decoram no interior, como de resto já fazem por cá a Assírio e Alvim, Caminho, Asa, Dom Quixote, Cotovia (o mais bonito).

É necessário preservar os pequenos editores e os autores que publicam.

E resistir à pressão de um grupo económico cuja única preocupação é fazer dinheiro, seja a vender os seus, seja a "queimar" os dos outros.

Anónimo disse...

"Hoje um pavilhão diferenciado, amanhã um palco com concertos, depois carrinhos de chá...."

Que ideia de que as pessoas precisam de luminárias para as apascentarem.....
Os leitores não são parvos. Sabem o que querem escolher. Não é por haver um stand com fogo de artificio e bolos de borla que as levam a comprar determinado autor.
Há muitos tipos de leitores para diversos tipos de livros.
Eu confesso que essa ideia de infantilizar o leitor me aborrece.

Se têm dinheiro e querem fazer campanhas publicitárias ,estão no seu direito. E terão certamente o seu público.
Os pequenos editores, detentores de nicho de mercado diferenciado, terão outros leitores. Em menor número? Claro. Por isso são diferenciados. E não é por isso que as pessoas deixam de comprar.

"Com pavilhões diferenciados, ganham as editoras mais poderosas (em termos económicos), atraem público pela fachada e não pelo conteúdo."
E depois? Há alguma Alma Superior que dite o que é melhor para os leitores? E Se as pessoas tiverem gosto pelas fachadas?
E quem dita o bom gosto? E o conteúdo? Quem pastoreia o conteúdo?
AH!! Deve existir algum normativo para estas coisas que desconheço. Pensava eu que tinho essa liberdade de, enquanto leitor, poder ser eu a escolher sem virem juízos de valor ou de menoridade.

LMS