21/12/2009

Aquilo que faz falta ao "Zé"

A Internet e o seu potencial e velocidade de manifestação tornaram-se no pesadelo dos políticos.

Com efeito, aquilo a que se assistiu no séc. XX, com o aparecimento da World Wide Web, representa em autonomização e individualização da capacidade de manifestação de ideias, algo só comparável à "revolução de Gutenberg", cuja invenção da impressão mecânica libertou a palavra escrita do domínio absoluto da Igreja, e levou à revolução protestante.

Portanto, tal como então, o "génio está fora da garrafa", mas agora à velocidade do clique, e não há maneira de o controlar.

Perante a crise acentuada de credibilidade que os políticos vivem, os portugueses emanciparam-se, passaram à segunda plataforma do processo de manifestação e participação democrática, e transformaram-se na sociedade civil, munidos de uma arma e espaço impossível de controlar. A Internet.

Hoje em dia, independente-mente dos seus antecedentes ideológicos e das convicções políticas presentes, os cidadãos encontram-se no "fórum" de manifestação cívica, unidos apenas pelos temas de intervenção.

Ora, o fenómeno "Zé" constitui um evidência de tal forma explícita da conspurcação deste processo, que se torna quase num mistério. Ele, por si só, não merece a nossa atenção, mas apenas porque é um eleito que se revela prisioneiro do mecanismo "politiqueiro" e, portanto, capaz de causar destruição.

Vindo da democracia participativa, paladino de causas, representante da sociedade civil e da cidadania, o "Zé" teve uma evolução e demonstrou uma capacidade de adaptação ao jogo maquiavélico da "politiqueira", com "tiques" que ultrapassaram a velocidade dos "cliques" internéticos.

Assim, neste último caso do Jardim do Príncipe Real, foi revelado um tal autismo, um tal cultivo do vago e impreciso, um tal desprezo pelos eleitores, atingindo o seu ponto culminante na trapalhada de esclarecimentos ilustrada pelo artigo do PÚBLICO da autoria do José António Cerejo, incluindo "manobras" e "teses" paralelas de assessor e improvisação de licenciamentos, que poderemos considerar que foi já atingido o estado "adulto" da "politiqueira".

Ora isto, na área dos espaços verdes torna-se particularmente grave, especialmente quando se trata de um todo, como no caso do Príncipe Real, indivisível, entre ideal paisagístico, conceito urbano e arquitectura.

Apesar de tardio no séc. XIX, o Príncipe Real representa o único exemplo em Lisboa do square à inglesa, com a respectiva english landscape no seu conceito de jardim.

Portanto, o que estamos à assistir, é à repetição da mesma atitude aplicada no edificado da Lisboa romântica, com a mesma destruição do património, agora vivo, em nome de um conceito vago de "requalificação".

Mas esta atitude também transporta em si, implícita e explicitamente, o "tique" do "quero, posso e mando", tratando os eleitores como atrasados mentais ou velhos do Restelo.

Perante isto, surge a World Wide Web como o espaço livre de acção e manifestação, através dos seus blogues, redes sociais e correio electrónico.

Assim, neste caso específico, no mesmo dia em que a quantidade de árvores a cortar, a sacrificar, passava "de seis e uma de grande porte" a 47, podia-se seguir na Net, a velocidade a que a sociedade civil, digeria o choque, reagia e se organizava...

Perante o argumento da presumível doença ou fraqueza estrutural das árvores, as explicações devem ser dadas antes do acontecimento e não durante a operação-relâmpago.

Perante o argumento das espécies invasoras, ter-se-á que ter em conta que estamos a lidar com entidades vivas... não se trata de objectos decorativos descartáveis. Uma árvore substituta levará quarenta anos a atingir o seu estado adulto.

Portanto, o "Zé", que se pretendia perfilar, agora, como paladino verde, não poderia também, no plano do simbólico ter escolhido pior momento para esta acção... o período em que o planeta tenta decidir sobre o seu sombrio destino ambiental em Copenhaga. Chegou portanto a altura de nos perguntarmos, não se "o Zé faz falta" mas o que faz falta ao "Zé"!



António Sérgio Rosa de Carvalho
Historiador de Arquitectura









In Público

8 comentários:

Anónimo disse...

Enquanto Gonçalo Ribeiro Teles estiver com o Zé, não acredito que as suas acções "verdes" sejam propositadamente negativas. Tenho confiança total em Ribeiro Teles logo, tenho no Zé. E tenho mais no Zé do que na maioria dos restantes papalvos que por lá andam. Sim, o Zé faz falta, ou pelo menos faz mais falta que muitos aqui não mencionados.
Questiono-me sempre o que andam os outros eleitos a fazer, já que desses nem pio... será por não fazerem nada...

Anónimo disse...

deviam esclarecer os leitores deste blog que o sr. Rosa de Carvalho é um ex assessor da insigne Eduarda Napoleão, ex vereadora de Santana & Carmona

H.J. Nunes disse...

Este post, que surge de um artigo de jornal, é mais do que esclarecedor para muitas das motivações que geram tantos movimentos contra o "Zé". É que tantas vezes o motivo não é mais do que político. A confirmar-se que António Sérgio Rosa de Carvalho foi mesmo assessor de Santana e Carmona, isto explica muita coisa (explica quase tudo). E é pena porque as críticas poderiam incidir do facto de ser historiador de arte e assim, mais uma vez, fogem para assuntos de mero ataque político. A quem quer discutir o Príncipe Real, fica a sensação de que rapidamente se embarca em ondas de choque descontroladas e que em muito excedem o assunto em si. E há coisas a apontar no caso Príncipe Real mas que acabam por ser apenas o mote para, mais uma vez, vir-se destilar ódios contra o "Zé".

RF disse...

Ex-assessor de Eduarda Napoleão? Não era de ter escrito isso no fim como conflito de interesses? Assina-se como Historiador de Arte (ponto final)? Eduarda Napoleão não foi vereadora assim há tanto tempo para se esquecerem de mencionar isso...

Anónimo disse...

Não é historiador de arte, é historiador de arquitectura.
Será arquitecto ou historiador ou ambos? Ou coisa nenhuma?

Anónimo disse...

aposto que este senhor é o anónimo que constantemente ataca o Zé nos comentários deste blog...

para além de volta e meia vir com o seu discurso xenofóbico descobre-se agora que afinal este senhor também não aguenta com o Zé, provavelmente porque o Zé não suporta xenófobos...

Salvador, disse...

Sinceramente pouco me importa o que António Sérgio Rosa de Carvalho foi ou é:
O que me interessa é que, o que escreveu aqui e agora, está dito e por sinal, bem. Tudo o resto são "faits divers"...

Anónimo disse...

LEIAM O BLOGUE DO DR. SÁ FERNANDES.

Leiam mais especificamente a parte relativa ao Jardim do Principe Real.
Depois critiquem.


Não avançamos com críticas politicas e que de nada são cosntrutivas, sendo estas aproveitadas para deitar abaixo o actual executivo.

Este argumento do Principe Real não pode ser usado..que usem o abate de Monsanto.