29/12/2009

Hot Clube afasta possibilidade de se instalar no cinema São Jorge

In Público (29/12/2009)
Por Ana Henriques


«Falta de isolamento acústico compromete primeira solução provisória para instalar clube de jazz. Representantes reúnem-se com autarquia a 5 de Janeiro

Numa semana, 2500 fãs aderiram à causa


Os responsáveis do Hot Clube de Portugal afastaram ontem a possibilidade de o clube de jazz se instalar numa sala do cinema São Jorge, depois de uma visita ao local.

O responsável pela programação do Hot, Luís Hilário, explica que a alternativa proposta, a sala três do São Jorge, "não possui isolamento acústico" e só podia ser usada "quando ali não houver programação própria".

O prédio antigo da Praça da Alegria, que tinha o Hot Clube como inquilino, foi atingido por um incêndio, na passada semana. O clube, que ocupava a cave do imóvel, escapou às chamas, mas a água usada para apagar o fogo inutilizou o espaço. E agora está sem palco para a agenda de concertos já acertada até ao próximo Verão.

O São Jorge dispõe de diversas salas que recebem ciclos de cinema e outras actividades culturais. A falta de isolamento acústico impede ou tornaria difícil acolher em simultâneo alguns eventos e os concertos de jazz, refere Luís Hilário. "O próximo concerto que não conseguimos cancelar por os bilhetes de avião já terem sido comprados, e que implica a vinda a Portugal de um grupo de músicos finlandeses e suecos no início de Fevereiro, calha em dias nos quais o São Jorge já está ocupado", exemplifica.

Outro problema relaciona-se com as receitas do Hot Clube: "Como a nossa actividade não é lucrativa, compensávamos a perda de receitas de entradas com o dinheiro que conseguíamos no bar" das instalações da Praça da Alegria. Uma actividade a que não poderia deitar mão se a transferência, ainda que provisória, fosse para o cinema situado na Avenida da Liberdade, porque a Câmara de Lisboa concessionou a privados os espaços de restauração do São Jorge.

A pensar em locais

O responsável pela programação do Hot Clube não rejeita a possibilidade de usar de forma muito pontual a chamada sala café-concerto do cinema: "Não fechamos completamente a porta a essa hipótese, para salvar algum compromisso inadiável. Mas não faz sentido instalarmo-nos lá." Daí que o objectivo seja procurar uma solução mais adequada, juntamente com a Câmara de Lisboa, que é proprietária do imóvel que ardeu.

"Temos pedido aos nossos amigos que se lembrem de locais que pertençam à câmara onde possamos ficar. Falaram-me num palacete na zona do Príncipe Real, mas parece que já foi vendido para ser transformado num hotel", refere o mesmo responsável. Representantes das duas instituições, clube e câmara, reúnem-se no próximo dia 5 de Janeiro.

Luís Hilário recorda que os planos para transformar todo o edifício da Praça da Alegria numa casa do jazz têm uma década de existência, não se tendo, no entanto, concretizado nunca. Ali poderia funcionar uma residência para músicos, "como existe noutras cidades europeias", e um museu com o espólio do fundador do clube, Luís Villas-Boas, com mais de quatro mil discos, livros, quase 800 cartazes e 900 guiões de programas radiofónicos. Aos quais se juntam cassetes, bobinas de gravações e preciosidades como uma grafonola para discos de 78 rotações.

Apesar do apoio da Câmara de Lisboa, estes planos nunca se concretizaram, e ninguém sabe dizer neste momento se o Hot Clube alguma vez regressará à Praça da Alegria. "Se tenho esperança de voltar? Tenho. Mas não me pergunte se é muita ou pouca", diz Luís Hilário.»

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