30/04/2010

Biblioteca de Arqueologia herdada dos alemães reabre no Palácio da Ajuda


In Público (30/4/2010)
Por Alexandra Prado Coelho

«É considerada uma das melhores bibliotecas de arqueologia existentes em Portugal e reabriu ontem ao público, em instalações provisórias, no Palácio da Ajuda, em Lisboa.

A Biblioteca de Arqueologia, que herdou o espólio do Instituto Arqueológico Alemão (IAA), é um dos serviços "despejados" da Avenida da Índia devido às obras para o novo Museu dos Coches e, por causa disso, ficou durante um período inacessível ao público, o que gerou protestos da parte dos arqueólogos.

Ontem, o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) reabriu-a, na presença de representantes do IAA - que, por razões financeiras, teve de extinguir em 1999 a sua delegação em Lisboa, aberta desde 1971. Nessa altura, o instituto alemão cedeu ao Estado português o seu espólio.

A biblioteca - com 55 mil registos bibliográficos - deverá mudar novamente de sítio "daqui a dois anos, quando as novas instalações forem abertas na Cordoaria", disse, num breve discurso, Luís António Pinho Lopes, chefe de gabinete do secretário de Estado Elísio Summavielle.

Pinho Lopes referia-se à projectada transferência do Museu Nacional de Arqueologia (MNA) e dos vários serviços (arqueociências, arqueologia náutica e subaquática) que antes estavam nas instalações da Avenida da Índia para a Cordoaria - uma solução polémica, que tem contado com a oposição do próprio director do MNA, Luís Raposo. Actualmente estes serviços estão espalhados por diferentes locais de Lisboa.

O presidente do IAA, Hans-Joachim Gehrke, presente na cerimónia de ontem, anunciou a intenção de avançar com um programa de bolsas que permitirá aos arqueólogos portugueses trabalharem nos departamentos do instituto alemão espalhados pelo mundo, em cidades como Atenas, Roma, Jerusalém, Cairo e outras.»

...

Vamos por partes:

1. A construção do novo museu dos coches (à parte todo o processo que lhe diz respeito ser tudo menos claro) é o maior desperdício de dinheiros públicos de que há memória na política cultural deste país, se é que existe alguma política cultural que não seja a dos subsídios. Desperdício porque o estado dos museus nacionais é calamitoso, tal qual o dos monumentos nacionais e dos imóveis de interesse público, como se sabe. Desperdício, também, porque o seu objectivo final - a utilização do espaço do actual museu enquanto picadeiro, local de exibições equestres, etc. - está fora de causa, como se comprava, aliás, pelo projecto em curso de instalação dessas actividades no quartel de cavalaria da GNR, algumas dezenas de metros acima do Palácio de Belém. Desperdício de dinheiros públicos ainda mais gravoso quando se sabe a crise financeira em que o país está atolado. Continuar-se esta obra tonta fazendo de conta que estes argumentos não existem é, simplesmente, criminoso.

2. A instalação de toda a arqueologia ligada ao MNA, Subaquática, "biblioteca dos alemães", etc., na Cordoaria, além de ser uma violação de um MN que por estar vago implica que seja transformado em arrecadação, é colocar-se em perigo tesouros da nossa antiguidade num espaço que está construído em leito de cheias (Rio Seco). A instalar-se alguma coisa de útil e bondoso na Cordoaria, seria, desde que por via de prévio projecto de arquitectura, o tal de Museu da Viagem, que longe de ter tesouros físicos que estariam em perigo, poderia ser uma viagem virtual pelo passado das Descobertas, o presente e o futuro.

Será que não há ninguém que pára esta tonteria do Novo Museu dos Coches? Já sei, vão-me dizer que já se demoliu tudo quanto existia onde estavam as Oficinas Gerais de Material de Engenharia ... pois bem, que se faça um JARDIM!

3 comentários:

Ferreira arq. disse...

Esta é uma notícia que denota bem o estado da nossa cultura e do nosso património.
Mas, para além de tudo isto, é também uma notícia que demonstra o real estado da economia, contrastando com a atitude demagógica de quem nos desgoverna, num iluminismo irrealista de quem vive nas nuvens.
Precisamos de uma atitude fria e objectiva nas decisões governamentais. De opções lógicas, simples e práticas, que façam funcionar o quotidiano de aculturação de todos nós, consentânea com a capacidade de manutenção e utilização de todo o nosso património. E esta seria uma atitude de quem sabe que, para elevar o nível cultural e social da comunidade, deverá faze-lo degrau a degrau, reconhecendo e assumindo o tamanho de tal fardo.
Num período económico recessivo com este, a tarefa é ainda mais difícil.
Continuar, nesta fase, com a iluminista ideia de grandeza e sobranceria pessoal, assentando arraiais numa obra nova, pretensamente marcante e referencial, com o convencimento de que isso é o salto de qualidade que eleva o patamar de cultura do país, é, neste caso, tão estúpido como pretender de um salto livre, atravessar o rio Tejo.
O dinheiro disponível (do casino) para a obra do museu dos coches, permitiria reabilitar o actual picadeiro, expandir o actual museu com a área estritamente necessária, para o património público existente nas proximidades (que ficaria assim também reabilitado). Não se perdia o património actual de memória e uso de mais de um século, deste edifício com esta finalidade, situação excepcional, valorizada e comentada por visitantes de todo o mundo. Uma jóia preciosa que temos e vamos desmerecer.
Uma obra nova em qualquer local e para qualquer uso se faz, sem ter que se perder esta mais-valia…
Quando aos erros a todos os níveis do projecto previsto para o novo museu, já nem sequer mereceriam mais comentários. O edifício novo já não é referência nesta época para coisa nenhuma. È despesista, não é ecologista nem ambientalista, atributos primários de qualquer obra arquitectónica que agora se projecte.
Não assume qualquer referência de actualidade que sirva para chamar a Portugal seja lá ele quem for.
È um absurdo despesista destinado a ser demolido em breve, pela falta de sustentabilidade energética e ambiental para a utilização que lhe é destinada.
Nesta data, a DEMOLIÇÃO de um edifício com as características do que vai ser construído, é que é uma obra de referência mundial, tal como estão a fazer nos Países Nórdicos, nos EUA, etc.
Não há dinheiros que aguentem, a manutenção e conservação, a iluminação, as despesas energéticas com aquecimento e arrefecimento, nem com a mão de obra que estes monstros necessitam – que ESTÃO A SER ABATIDOS, nos mesmos termos que a metodologia dos anteriores automóveis de 12 cilindros, com 5 000 cm3.
Qualquer um de nós sabe que não devemos nem podemos andar agora aí a comprar essas “banheiras”.
...(continua)

Ferreira arq. disse...

...(continuação)
Também os nossos governantes têm a obrigação de saber que não deviam andar a plantar por aí edifícios com as características desses paquidermes. È uma estupidez. Uma intervenção actual devia ser um exemplo de sustentabilidade a seguir e a imitar nas restantes intervenções urbanas pelo país.
E nunca o oposto, que vai ser mais um motivo de chacota e desdém internacional. Uma perfeita atitude terceiro-mundista, implementando-se aqui, agora, o que eles fizeram há cinquenta anos, pois agora já todos sabemos que foram essas atitudes que levaram ao estado insustentável da actual pegada ecológica e ambiental da generalidade da ocupação urbana. Ocupação esta que estamos agora a tentar inverter, perante a inevitabilidade de uma rotura ambiental catastrófica, a muito curto prazo, pois as mazelas são já agora demasiadas.
Só nos podemos questionar:
-Porque nos fazem isto, os nossos governantes, depois de já devidamente alertados e informados?
-Que têm a perder com a não execução da obra prevista?
-Que lugares ficam em causa na gestão futura de tal edifício, e a quem se vão destinar?
-Qual o destino efectivo dos milhões que este monstro vai custar?
Não temos dúvidas: vai sair do nosso bolso a manutenção desses ditos encargos que agora estão a criar!!!
Estas são simples contas de merceeiro.
São também meras “banalidades”.
Mas é assim que continuamos cada vez mais terceiro-mundistas, alimentando os ditos “sabidos” que estão a dar cabo do país, fazendo de conta que gerem os nossos destinos… e que não têm pejo em deixar morrer à fome meio povo, para se autopromoverem.

-Outros comentários sobre o MC:

http://forumsociedadecivil.blogspot.com/search/label/museu%20dos%20coches

Parabéns ao Paulo Ferrero pela persistência (quanto ao JARDIM no local: apoio incondicionalmente).

Anónimo disse...

O que se passa com a bisarma que querem construir para novo museu dos coches serve objectivamente o mesmo que as restantes palermices que os nossos políticos têm andado a inventar pelo país fora: CRIAR "TACHOS" ONDE OS SEUS CORRELIGIONÁRIOS VÃO MAMAR À NOSSA CUSTA!
Basta ler a crónica de hoje do SOL, que prova preto no branco a distribuição desses tachos pelos seus entes queridos:
http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=171295&dossier=Caso&tab=community

-Já não termos leite para tanto mamão!
-Um jardim naquele local é o melhor que lá se pode fazer. E os políticos também lá podiam ir apanhar sol e ar!