23/04/2010

Baixa vai poder triplicar moradores

In Diário de Notícias (23/4/2010)
por DANIEL LAM

«Muitos projectos de reabilitação já entraram na câmara, mas ainda não avançaram devido à crise económica

No "coração" da Baixa de Lisboa há cerca de 220 prédios devolutos e esse número "não tem aumentado", revelou ao DN o presidente da Junta de Freguesia de S. Nicolau, António Manuel, salientando que "até têm dado entrada na câmara muitos projectos de reabilitação". O autarca considera que "a reabilitação da Baixa criará condições para passar a ter entre 15 mil a 20 mil moradores", ou seja, o triplo dos cerca de 6200 actualmente recenseados nas freguesias de S. Cristóvão e S. Lourenço, S. Nicolau, Santa Justa e Madalena.

Para o presidente da freguesia mais povoada da Baixa - cerca de 3500 residentes - , "o projecto de reabilitação até peca pelo facto de dar mais espaço ao comércio e serviços do que à habitação".

Fazendo o retrato daquela zona, o autarca diz que "actualmente, a maioria dos prédios da Baixa só está habitada nos últimos pisos. Têm comércio no piso térreo, enquanto os primeiros e segundos andares estão geralmente ocupados por escritórios e serviços ou então estão vazios".

António Manuel nota já evoluções positivas que "estão a inverter a tendência anterior de aumento da desertificação". Segundo explicou, "as alterações ao Plano Director Municipal de Lisboa (PDM), que antes praticamente impedia a realização de obras na Baixa, já fez entrar na Câmara de Lisboa vários projectos, que só ainda não avançaram no terreno devido à actual situação financeira complicada".

O autarca salienta que "na Baixa há cada vez mais habitação para jovens, os hostels, que habitualmente estão cheios e com lotação esgotada. Já é possível notar um repovoamento da Baixa, principalmente pelos jovens que ficam nesses hostels, desde há cerca de um ano e meio". Quantificando que na Baixa "já há uma dezena de hostels", salienta que "o da Rua Augusta até foi classificado como um dos melhores da Europa".

Apesar de essa população não ser fixa, mas sim flutuante e temporária, o autarca considera que "contribui para dar uma nova vida à Baixa. À noite, já se nota a presença de muita gente, muitos jovens. Não é como antes, que à noite se transformava num deserto. Essa situação já se inverteu".

"São necessárias outras políticas para atrair mais gente para a Baixa, como a instalação de videovigilância nas principais artérias para reforçar a segurança", alertou.

Na sua opinião, "também é preciso melhorar as condições de estacionamento para os moradores e para quem frequenta a Baixa para fazer compras. Criaram-se 200 lugares para residentes, mas muitas vezes estão ocupados indevidamente por viaturas de outras pessoas que não moram ali. Por isso, deveria haver mais fiscalização para evitar essas situações".

Considerando que o parque de estacionamento subterrâneo da Praça da Figueira "tem preços muito elevados", António Manuel defende "condições especiais para clientes das lojas da Baixa, que formam um centro comercial melhor do que os outros. Só que enfrentam uma concorrência desigual. Se retirassem os parques de estacionamento ao Colombo e ao Amoreiras Shopping, também desapareciam os seus clientes", aponta o autarca.»

8 comentários:

Anónimo disse...

Mas que ideia esta de se precisar de parques de estacionamento para ir às compras à Baixa! São precisos nos centros comerciais para as compras nos hipermercados, mas quem é que vai encher-se de sacos cada vez que vai à Baixa? A Baixa deve ser destino de passeio em que se acaba por fazer umas compras. Um ou dois sacos da Zara carregam-se bem no metro. Além disso o público que frequenta os centros históricos é diferente do dos centros comerciais. O dos centros comerciais é geralmente para quem vive nos suburbios. Nos centros históricos os clientes são os turistas, Lisboetas em passeio, e jovens que nem sequer têm carro ou nem se importam de andar de metro.

Que ideia esta mais retrógrada e cinzenta dos parques de estacionamento para atrair gente à Baixa! Além disso, já existem nos Restauradores, Praça da Figueira (um grande erro), Camões, Carmo, Calçada do Combro...

Para atraír gente ao comércio da Baixa é muito simples e muito óbvio: Lojas e cafés mais atraentes e actualizadas aos tempos modernos.... Veja-se o Chiado.

Discomplex disse...

"Já é possível notar um repovoamento da Baixa, principalmente pelos jovens que ficam nesses hostels"

Sem mais comentários da minha parte.

Anónimo disse...

Só triplicar?! Que falta de optimismo e de ambição! Aquilo ali é coisa para aumentar umas 50 vezes, mais ou menos, isto no mínimo.

Anónimo disse...

Concordo com o Anónimo das 10:10AM.
Que mania mais parola a de associar o uso do carro à salvação para o comércio da baixa. Não estão já cansados de bater sempre na mesma tecla?
Luís Alexandre

Anónimo disse...

Até Lisboa começar a ser governada por gente que realmente vive nela, e sobretudo viva a cidade (vá às compras e passeie pelos centros históricos), continuará a ser uma cidade mal gerida e sem noção da realidade.
Começo a pensar que Lisboa é governada por gente sem grande amor à cidade, gente que não viaja por ela nem por outras cidades da Europa, que desconhece completamente o que é viver numa e uma cidade. É impressionante... Felizmente já existe bastante gente cosmopolita em Lisboa que tem uma visão de como deve ser e se pode fazer uma Lisboa melhor. E parques de estacionamento não fazem parte dessa visão. Muito pelo contrário. Pena essa gente não ser ninguém dos que governam a cidade.

Anónimo disse...

Eu como lisboeta nunca senti falta de lugar para estacionar na Baixa. Claro que vou sempre de electrico ou autocarro. Acho que nao passa pela cabeca de nenhum lisboeta ir para a baixa de carro. Os carro-dependentes sao normalmente os habitantes dos suburbios. A baixa precisa sim de mais comercio e cafes/restaurantes de qualidade, menos aluminios, neons e lampadas TL, para atrair mais movimento e moradores.

Filipe Melo Sousa disse...

não há volta a dar: sem estacionamento para moradores, nunca haverá moradores

Anónimo disse...

Por incrivel que pareça, nem toda a gente tem ou quer ter carro. São uma minoria é certo, mas são precisamente o tipo de pessoas que gostam de viver nos centros das cidades. Quase ninguem que vive em Manhattan tem carro, e vivem num dos países mais carro-dependentes. É esse tipo de gente que a Baixa pode atrair, que apesar de minoria são o suficiente para habitar a Baixa e todo o centro histórico. Digo isto porque sou um deles e conheço muita gente como eu.