21/04/2006

Bairro Azul a destruição continua



Há um ano com o estatuto de Bairro “ em Vias de Classificação”

Apesar de estar incluído no Inventário Municipal do Património, o Bairro Azul ficou, sem se saber bem como, entalado entre gigantescos empreendimentos. Em Junho de 2002, pensando que a sua classificação seria uma forma eficaz de protecção, a Comissão de Moradores do Bairro Azul entregou ao IPPAR e ao então Vice-presidente da CML, Prof. Carmona Rodrigues, um pedido de classificação do Bairro como “Conjunto Urbano de Interesse Concelhio”.

No dia 21 de Abril de 2005, quase três anos passados desde a apresentação do nosso pedido, o Bairro Azul passou a ter o estatuto de Bairro “em Vias de Classificação” (Boletim Municipal nr. 583).



No entanto, um ano após a atribuição desse estatuto, nada mudou. O Bairro Azul continua decadente, com mais de uma centena de fogos devolutos e vários prédios quase abandonados e a sua destruição prossegue: as fachadas exibem cada vez mais publicidade abusiva; as caixilharias originais continuam a ser substituídas por outras de desenho e materiais inadequados; os aparelhos de ar condicionado, parabólicas e afins continuam a proliferar; as lojas tradicionais encerram ou “modernizam-se”; o “Azul”, que deu o nome ao Bairro, dá lugar ao “Rosa” e, recentemente, a um extravagante “Amarelo Limão”; a rua Ramalho Ortigão é, cada vez mais, uma via rápida; o Metropolitano parece estar prestes a arrasar a frente do Bairro, onde existem árvores de grande porte, sem que ninguém dê resposta aos inúmeros abaixo-assinados e sugestões apresentados pelos moradores…

Há um ano “em Vias de Classificação”, a destruição continua!



A Prof. Doutora Raquel Henriques da Silva dizia num texto que anexámos ao processo do pedido de classificação, entregue em Junho de 2002:

“(…) o Bairro (Azul) reúne todas as condições para ser classificado. E tal tornou-se indispensável para que a vida que nele existe não estiole. Mas a classificação visa também ser uma via propiciatória para o requalificar (…)”.

É isso que pretendemos. E é isso que temos vindo a propor, insistentemente, ao longo destes anos, à Câmara Municipal de Lisboa: que a Classificação seja o primeiro passo de um Projecto Global de Requalificação e Reabilitação para o Bairro Azul que contemple medidas inovadoras para devolver a este conjunto a sua unidade, que promova a reabilitação do edificado e o combate à desertificação, que implemente medidas concretas de apoio ao pequeno comércio de bairro, que avalie a questão da segurança de pessoas e bens,...



No mesmo texto propunha ainda a Prof. Doutora Raquel Henriques da Silva:

“(…) em indispensável articulação com os qualificados serviços do Arquivo Histórico Municipal, (proponho-me) orientar alguns dos trabalhos dos meus alunos da licenciatura em História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (vizinha do Bairro, do outro lado do parque Gulbenkian) para continuarmos a estudar este belo bairro, prédio a prédio, com a exaustividade metodológica que, quando bem orientada, frutifica em novas pistas para pensarmos a cidade. O que, como se sabe, é uma forma operativa de a amar e proteger”.

Tal como dissemos, há anos atrás, para a Câmara Municipal, para o Bairro Azul e para Lisboa, melhor oportunidade, parece-nos difícil.

Voltamos, por isso, a perguntar: afinal, de que é que estão à espera?

Ana Maria Alves de Sousa

Comissão de Moradores do Bairro Azul

1 comentário:

Anónimo disse...

Uma capital (da Europa) que se dá ao luxo de ter edifícios desta qualidade, neste estado.........ano 2006!

JA