Pelo simbolismo que tem para o Bairro, a questão das cores é essencial e por isso há muito que a Comissão de Moradores do Bairro Azul (CMBA) pede à CML para ser definida uma paleta de cores que mantenha e reforce o carácter da época, retomando, sempre que possível, as cores primitivas.
À época da construção, as cores do Bairro eram, na sua maioria, para as fachadas o branco, o beije, os cinzentos-claros; para as portas, os aros da caixilharia, as persianas e os gradeamentos, o azul. Foi essa inesperada mancha azul, que se via ao longe, que individualizava e dava carácter, que deu ao Bairro o nome por que ainda hoje, cerca de 70 anos passados, é conhecido: Bairro Azul.
O azul deu o nome ao Bairro e todo o comércio ostentava orgulhosamente, em letreiros e tabuletas, esse nome que significava modernidade e prestígio na Lisboa dos anos 30/40. Hoje, ele está ainda presente nos estabelecimentos mais antigos: Mercearia A Ideal do Bairro Azul; Café Bairro Azul; Talho Bairro Azul; Farmácia Bairro Azul; Drogaria A Pérola do Bairro Azul; Café Ponto Azul;...
Ao longo dos anos a memória do porquê do nome do Bairro foi-se perdendo lentamente, em parte fruto do desinteresse por parte da CML. Em anos recentes (1997), e apesar dos protestos de alguns moradores, os edifícios mais emblemáticos da abertura do Bairro Azul foram pintados de cor-de-rosa e as caixilharias e persianas de “bordeaux”, numa clara demonstração de ignorância da história do Bairro apesar deste estar já incluído no Inventário Municipal do Património.
Hoje, com o Bairro Azul finalmente com o estatuto de "conjunto em Vias de Classificação”, os prédios continuam a ser pintados de cores inadequadas, sem gosto nem rigor, com total desrespeito pela arquitectura art déco/modernista que se manteve neste Bairro praticamente inalterada: o pouco azul que resta, nas portas e gradeamentos de ferro, continua a ser substituído por um “distinto” verde-garrafa e, nas fachadas, para além do cor-de-rosa surge agora o amarelo que vai desde o limão ácido ao gema de ovo!
Cinco anos passados sobre a apresentação do pedido de classificação do Bairro Azul, os moradores desesperam: se o Bairro está “em Vias de Classificação”, se existe um plano de pormenor para a Praça de Espanha e zona envolvente que integra o Bairro Azul, por que continuam a verificar-se intervenções de reabilitação no edificado do Bairro que apenas contribuem para o descaracterizar?
Conforme vimos solicitando insistentemente, é urgente que a CML elabore um regulamento que defina critérios para a reabilitação, não só ao nível das fachadas mas também dos interiores.
Para já, o nome do Bairro e do seu comércio tem que voltar a fazer sentido: o Azul tem que voltar em força ao Bairro porque ele é, sem dúvida, uma parte essencial do seu património!
Ana Alves de Sousa
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