23/12/2008


António Costa aprova novo Museu dos Coches, apesar de o considerar desnecessário -PUBLICO - 23.12.2008, Ana Henriques

Silo automóvel previsto para a frente ribeirinha como parte do projecto do museu foi chumbado ontem pela Câmara de Lisboa

A Câmara de Lisboa deu ontem o seu aval à construção do novo Museu dos Coches em Belém. A proposta de aprovação partiu da maioria socialista de António Costa, que, no entanto, confessou achar desnecessária a transferência do museu para um edifício construído de raiz para o efeito decidida pelo Governo.
"Uma das razões apresentadas para a sua transferência para o novo edifício relaciona-se com o facto de, nas actuais instalações, não ser possível aumentar o número de visitantes. Mas uma vez que se trata do museu mais visitado do país, considero que não vale a pena mexer-lhe", observou, acrescentando ser prioritário arranjar espaço para novos projectos como o Museu das Descobertas ou o centro de cultura africana - uma parceria entre a câmara e o Governo, cuja instalação foi anunciada para o Palacete Pombal, nas Janelas Verdes.
Foi também o Governo a decidir que o autor do novo edifício do Museu dos Coches, previsto para defronte da estação ferroviária de Belém, seria o brasileiro Paulo Mendes da Rocha, já premiado com o maior galardão da arquitectura mundial, o Pritzker. "A contratação das obras de arquitectura deve ser feita por concurso público", objectou António Costa. "Mas há momentos e obras que podem justificar a encomenda directa a determinado arquitecto. A fiscalização destes procedimentos compete a organismos como o Tribunal de Contas."
Mas nem todo o projecto de Paulo Mendes da Rocha teve luz verde da autarquia. O silo automóvel de 23 metros de altura que o arquitecto brasileiro queria erguer já do lado do rio, ligado ao edifício do museu por uma passagem aérea por cima da linha do comboio, foi chumbado ontem pelo executivo municipal. Motivo: os técnicos camarários entenderam tratar-se de um "obstáculo entre o espaço público e o rio Tejo", algo que é proibido pelo Plano Director Municipal. Tratava-se de uma construção cilíndrica com capacidade para 400 carros e um salão panorâmico no topo. "Uma aberração", adjectivou o vereador Carmona Rodrigues. "E uma violentação da frente ribeirinha", acrescentou ainda.
Sendo uma obra do Estado, a lei estabelece que o parecer da autarquia não é vinculativo. Acontece que foi feito um "acordo de cavalheiros" entre o município e a Sociedade Frente Tejo, de capitais exclusivamente estatais, em que esta se comprometeu "a ter em consideração os pareceres camarários", explicou o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado. Ficou ainda estabelecido que a amarração da passagem aérea às imediações do Museu da Electricidade seja precedida da realização de um projecto de espaços públicos.
Quem o fará? Manuel Salgado ignora-o: "Não sei se os honorários pagos a Paulo Mendes da Rocha chegam para isso." Até porque o arquitecto vai ter de reformular o projecto para o adaptar às exigências camarária. Quanto a alternativas de estacionamento - "não se está a ver famílias inteiras irem para a beira-rio de autocarro", observa o vereador -, estão a ser procuradas na Calçada da Ajuda.
O PSD considerou ontem que o Tribunal de Contas "desmontou todos os argumentos" do presidente da câmara ao rejeitar o recurso contra o chumbo do empréstimo que a câmara queria contrair. Carlos Carreiras, líder da distrital de Lisboa do PSD, disse que a recusa do empréstimo "destrói a argumentação de António Costa" e significa "um ano perdido" no que respeita ao saneamento financeiro da autarquia". Costa disse, por seu lado, que os argumentos do TC nada têm a ver com os do PSD.

5 comentários:

Lesma Morta disse...

Palhaçada

Anónimo disse...

Quem governa vive num mundo em que existem recursos para edifícios deliberadamente inúteis e em que as famílias que andam de autocarro na cidade são criaturas mitológicas.

Anónimo disse...

Eu vivo numa casa sem mesa, janto na mesa de cabeceira, também não tenho cama por isso durmo no chão. Mas este Natal vou comprar um quadro do Picasso - um original.
E depois estou a pensar investir num jacuzzi. O que é que isto tem a ver com alguma coisa? possivelmente nada.
Este é o meu ultimo post aqui, deixei a partir deste momento de me preocupar com o que acontece com Lisboa, é demasiado frustrante.
Bom Natal a todos

Julio Amorim disse...

Pois é....mas acho que o anónimo das 2:57 deveria voltar...pois acertou mesmo. Lisboa é governada por gente que tem o telhado a meter água mas, se preocupa mais com a alcatifa da sala de estar.

Lesma Morta disse...

Desistir é que não leva a nada. Todos sabemos que muitas das nossas lutas são em vão, mas o direito à indignação que temos, expresso tantas vezes neste blog, em muitos casos já tem dado alguns frutos, nomeadamente através de petições publicas, artigos de opinião etc., Mais não seja tem o mérito de não os deixar fazer o que querem sem que surja uma voz participativa, de quem gosta da cidade onde vive.
Não é à toa que este blog tem sido mencionado tantas vezes pela comunicação social bem como pela propria CML.

Jorge Santos Silva