Estupefacto ...
UNESCO conclui que barragem do Tua não põe em causa Douro Património Mundial
Por Luís Miguel Queirós in Público
Ambientalistas acusam a instituição de ter tomado "uma decisão política" para não desagradar ao Governo português
O relatório da missão que a UNESCO enviou ao Douro sustenta que a construção da barragem de Foz Tua é compatível com a manutenção do Alto Douro Vinhateiro (ADV) na lista do património mundial, noticiou ontem a agência Lusa com base numa fonte do Ministério da Agricultura. O relatório, que terá sido recebido ontem pelo Governo português, afirmará, segundo a fonte citada pela Lusa, que a barragem tem um "impacto visual reduzido" no Alto Douro Vinhateiro, cuja "integridade e autenticidade" não compromete "quer ao nível da paisagem, quer ao nível do processo vitivinícola".
O documento aplaude ainda a opção de se construir a central eléctrica enterrada, considerada tecnicamente adequada. Durante a visita ao Douro, a equipa da UNESCO ficou a conhecer o projecto do arquitecto Souto de Moura, que pretende compatibilizar a obra da central com a paisagem classificada do ADV.
Para avaliar in loco os impactos decorrentes da construção da barragem no Património Mundial, a missão, composta por três especialistas, esteve no Douro entre 30 de Julho e 3 de Agosto. No relatório que agora apresentou ao Governo português, a UNESCO substitui ainda a recomendação de um "abrandamento significativo" das obras pela referência por um "abrandamento", sem quaisquer adjectivações.
O partido ecologista Os Verdes já reagiu à notícia, defendendo que é obrigação do Governo tornar "imediatamente público" este relatório e afirmando que, a verificar-se que a conclusão do documento "corresponde à notícia" agora divulgada, estar-se-á "perante uma verdadeira perda patrimonial". A barragem do Tua, diz o comunicado de Os Verdes, "é uma ferida aberta no ADV, que abrirá um precedente, e atrás da qual virão outras feridas que destruirão as características do ADV e levarão à perda do título de património mundial, senão no imediato, num futuro próximo".
Também Joanaz de Melo, da associação ambientalista Geota, afirmou ao PÚBLICO que "a decisão da UNESCO é chocante, porque não tem qualquer fundamento técnico". Nota que este relatório "contradiz frontalmente o que a UNESCO dizia há um ano atrás". Joanaz de Melo considera "ridículo" que esta "se mostre satisfeita com o enterramento da central", quer porque "o problema não é a central, mas a barragem e a consequente destruição da paisagem, da vinha e do modo de vida local", quer ainda porque "enterrar a central e a linha eléctrica terá um custo semelhante ao que teria travar a barragem".
A UNESCO, acusa este ambientalista, "tomou a posição política de não querer desagradar ao Governo português". Argumentando que também na UNESCO "há um nível técnico e outro político", Joanaz de Melo diz que "o nível político decidiu ignorar as críticas fortíssimas que o nível técnico tinha feito à barragem".
Este relatório foi já também comentado pelo embaixador português na UNESCO, Francisco Seixas da Costa, que, no seu blogue Duas ou Três Coisas, vê nele "uma implícita autorização de prosseguimento das obras de construção da barragem, se bem que a um ritmo limitado (mas já não uma "redução significativa" desse ritmo)". Convicto de que os sectores que se têm batido contra a barragem "vão continuar a contestar" a sua construção, o diplomata observa que os que se opõem ao projecto "deixam, a partir de agora, de poder esgrimir" o argumento da "eventual incompatibilidade da construção da barragem com o estatuto do Alto Douro Vinhateiro como património mundial". com Lusa
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