11/10/2010
De avô para neta, há segunda vida para a estação de Sul e Sueste
In Público (11/10/2010)
Por Carlos Filipe
«Edifício de Cottineli Telmo feito para quem atravessava o Tejo será reinaugurado em Julho de 2012, segundo o projecto do arquitecto
Mundo Português - obra efémera
O arquitecto que foi cineasta em apenas um filme
O que existe em comum entre a estação fluvial de Sul e Sueste, mais conhecida como a do Terreiro do Paço, e o Padrão dos Descobrimentos, em Belém? Ou entre o Museu de Arte Popular e a Praça do Império com a notável e monumental fonte luminosa, que lhe ficam próximos? São todas obras de Cottinelli Telmo (1897-1948), arquitecto que também foi realizador de cinema, depois de ter projectado os estúdios cinematográficos da Tóbis, no Lumiar. Cabe agora à sua neta, Ana Costa, também filha do arquitecto e designer Daciano da Costa, reabilitar a estação, um conjunto de edifícios inaugurados em 1932 para servir as ligações Lisboa-Barreiro.
"Todo o corpo de obra é a antiga estação, que está a ser reconstruída na íntegra. Só estamos a acrescentar um volume de frente de rio, longitudinal, que servirá as unidades de passagem e de embarque. É uma intervenção muito pacífica. O gesto arquitectónico é da época, à excepção de uma nova construção, para oriente, para uso dos serviços técnicos da Transtejo", diz Ana Costa.
Para a sua frente, a Câmara de Lisboa já tem preparado um esquema de paragem e circulação de transportes públicos e particulares. A obra, de 26,69 milhões de euros (suportada pelo fundo de coesão comunitário), deverá ter o interface com o Metro operacional em Abril de 2011, embora, segundo informação da Transtejo, a totalidade do projecto só esteja concluído em Julho de 2012.
A nova entrada do metropolitano surge mesmo no meio do antigo edifício das bagagens, que foi todo desmontado e numerado para posterior reposição. "Todos os elementos que davam escala aos edifícios, os gradeamentos interiores, as lanternas típicas dos anos, tudo, segundo os desenhos originais do meu avô, serão repostos", garante a arquitecta, que diz sentir-se gratificada com o trabalho: [O projecto] veio parar-me às mãos sem que se soubesse que sou neta de Cottinelli Telmo. Agarrei nele e disse que iria ser reposto na íntegra. Diz-se que o que é bom é pombalino; a arquitectura do séc. XX tem coisas extraordinárias, mas tem sido descurada."
A gare manterá os serviços antigos, uma zona de comércio, a zona de comando da estação, uma pequena sala VIP. Na outra zona será o grande átrio, de função, de acesso ao metro. "Agilizámos e aligeirámos a arquitectura, com um revestimento em azulejo branco, ondulado [fábrica Viúva Lamego], valorizámos a construção antiga, pois estamos perante uma praça monumental, que já tem a grande arquitectura. Ora, este edifício é relativamente modesto na sua escala. Era importante não fazer um exercício gritante, estilo Bilbau, mas para que se veja como o edifício e o Terreiro do Paço são extraordinários. Para tal não é necessário ser ostensivo."
Desde 2001 que Ana Costa tem em mãos o projecto de reabilitação da gare. São 40.000 passageiros por dia a desembocar ali, numa obra do Metropolitano de Lisboa, que no seu interior permite acesso à Linha Azul do metro, criando um importante interface de transportes públicos que servirá os utentes das travessias do Tejo (Montijo, Seixal e Barreiro).
Em tempos, aquela travessia já foi considerada a mais importante, em termos europeus, pelo fluxo de passageiros movimentados entre duas margens de rio.»
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Evitou-se bisarma ainda maior, é certo, mas continua a haver construção em demasia. Agora que está quase feito, só espero que o espaço público entre a nova (e é isso mesmo, nova) estação e o edifício do MFinanças.
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5 comentários:
Estranha atitude!? Portanto se somos filho, neto, bisneto, então podemos recuperar edifícios antigos utilizando desenhos, elementos da época, deixou de ser mimetismo, tradicionalista ou conservador.
Ainda bem pois agora com o conhecido passado e colaboração com o regime Nazi de Corbusier, o pai do modernismo é melhor deixar tudo na gaveta.
Imaginem só que estou cheio de sorte, sou descendente do mestre de de obras do Mosteiro da Batalha, que se encontra sepultado logo à entrada.
Aí, se fosse engenheiro ou arquitecto era tudo meu!
Que comentário mais bacoco. Apesar de anónimo só pode mesmo ser feito por um português.
Provavelmente quis dizer barroco, a língua portuguesa tem destas coisas.
Claro que deve ser português pois noutro país europeu haveria liberdade.
É por isso que os ricos são sempre ricos e os pobres são sempre pobres. Uns vivem de cunhas e à nascença já têm muita coisa garantida; outros estão condenados à eterna pobreza porque não têm cunha nem são filhos e netos deste e daquele.
Ainda noutro dia um professor universitario de Direito se virava para uma aluna preta e dizia-lhe: a menina anda aqui só para aprender não é? É que em Portugal nunca vai trabalhar nesta área porque ninguem vai ter confiança numa advogada preta nem nunca vai conseguir aceder ao CEJ. Era um professor que descriminava os alunos pelos nomes de familia. Bem vindos ao mundo encantado dos cagões.
Pois a realidade é essa, infelizmente. Cunhas abrem portas, não concursos.
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