28/10/2010
Livro lançado hoje quer mostrar que Lisboa também é das mulheres
In Público (28/10/2010)
Por Cláudia Sobral
«Primeiro volume de um trabalho que vai ser apresentado no salão nobre da Câmara de Lisboa sugere percursos pedestres com uma "lupa especial"
Locais a descobrir
Só uma coisa me contrista
Quando lhe vou dar lição
Diz que quer ser sufragista
E andar de saia-calção
Elina Guimarães, feminista portuguesa, ainda "muito jovem", recusou-se a recitar o poema A minha boneca, de Júlio Dantas. A boneca era Elina. São histórias como esta que se lêem em 4 Roteiros Feministas, volume I, livro de sugestões para roteiros por Lisboa com uma "lupa especial", feminista, que hoje é apresentado, às 19h, no salão nobre da Câmara de Lisboa.
Esta espécie de guia, escrito e editado pela União de Mulheres Alternativa (UMAR) e pela equipa de investigação Faces de Eva, da Universidade Nova de Lisboa, poderá depois ser encomendado no site da UMAR. O livro quer "recuperar e tornar visível a voz e o protagonismo das mulheres nas suas trajectórias individuais e lutas colectivas, contribuindo para a construção da memória histórica dos feminismos", diz a UMAR. Um livro que, segundo a co-autora Manuela Góis, "fazia falta porque não havia um olhar feminista sobre Lisboa e porque a História tradicional torna invisível o papel das mulheres".
Duas colinas para começar
Num primeiro volume, os autores ficaram-se apenas por duas colinas: a da Graça - visitada nos roteiros 1 e 2 -, e a das Chagas, "a que se vê do miradouro da Graça", para os roteiros 3 e 4. Os percursos não são temáticos, os locais foram divididos por zonas. Cada roteiro demora entre 90 e 120 minutos, a pé, já com paragens incluídas. Os locais (ver texto ao lado e infografia) vão sendo apresentados com as suas histórias e personagens.
Embora a I República seja privilegiada neste primeiro volume - 2010 é ano de comemoração do centenário da República -, também têm voz o antes e o depois da mudança de regime ocorrido em 1910, incluindo as lutas durante o Estado Novo e mesmo o período pós-revolução. "Desde os finais do século XIX que se desenvolveram lutas reivindicativas e a cidade está cheia de marcas a que queremos dar valor e continuidade", afirma Manuela Góis.
A equipa de 11 autores vai pedir à Câmara de Lisboa que coloque placas evocativas nos lugares que integram os quatro percursos, para facilitar as visitas. E tenciona dar continuidade ao projecto, com a edição de novos volumes.
Os locais que se seguem
"Existem muitos outros locais a que queremos dar visibilidade noutros roteiros", diz Manuela Góis. "Queremos abranger zonas como São Bento, Estrela, Campo de Ourique, Alcântara. E depois outras ainda. Queremos assinalar, por exemplo, o Parque Eduardo VII, por causa da manifestação em que mulheres feministas foram molestadas por uma turba de machistas."
A equipa quer, com estes roteiros, perpetuar a memória das feministas que passaram por Lisboa ou que, de alguma forma, a marcaram. Mas que mulheres destacar? "Não hierarquizo", responde apressadamente Manuela Góis. "Todas foram muito importantes." E deixa um aviso: "Os roteiros estão sempre em actualização, porque as pessoas que querem fazer desta cidade uma cidade de justiça social e de igualdade continuam na rua. Os roteiros estão sempre incompletos, têm sempre de ser completados e redignificados."»
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