21/12/2007

Um hospital no centro da Capital

In Notícias da Manhã (21/12/2007)
Vasco Lopes

«Na última reunião do ano da Assembleia Metropolitana de Lisboa, a Saúde foi um dos principais temas em debate, tendo estado na origem mesmo de alguns momentos «quentes». Tudo começou com o primeiro ponto do Período Antes da Ordem do Dia, a qual foi apresentada pela CDU, que dizia respeito a uma nota de preocupação sobre o futuro da rede hospitalar do centro de Lisboa a partir do momento em que for construído o novo Hospital Todos os Santos, na zona oriental da cidade; note-se que a construção deste novo hospital foi aprovada na terça-feira pela Assembleia Municipal de Lisboa, sendo que, na altura, vários deputados municipais mostraram-se apreensivos quanto à possibilidade de a nova unidade levar ao fecho dos hospitais dos Capuchos, Desterro, São José e Curry Cabral.

HOSPITAL DE RETAGUARDA
“Por um lado, a CDU congratula-se com a construção do novo Hospital de Todos os Santos”, começou por dizer o deputado comunista, João Saraiva, um dos eleitos da Assembleia Municipal de Lisboa que, na última reunião deste órgão, questionou o executivo camarário. “Mas deixamos também uma nota de preocupação, uma vez que não sabemos ainda que hospitais irão ser substituídos pelo de Todos os Santos”, acrescentou ainda, antes de lançar o repto: “Dado que os hospitais da zona central da cidade servem uma população extremamente envelhecida, vamos fazer pressão para que seja mantido uma destas unidades, a servir de retaguarda”. Por fim, João Saraiva disse desejar saber “o que acontecerá aos hospitais que serão desactivados, sendo que a CDU recusa qualquer acto de especulação imobiliária”.

MENOS 1200 CAMAS
Modesto Navarro, outro dos eleitos da CDU, em Lisboa, frisou que “os hospitais de São José, Capuchos, Desterro e Curry Cabral totalizam duas mil camas, ao passo que o de Todos os Santos terá apenas 800 - que, ainda por cima, numa zona mais longínqua para as populações do centro”. Já José Roque Alexandre, eleito em Lisboa pelo PS, mostrou-se de acordo “com a manutenção de um dos hospitais do centro para servir de retaguarda às pessoas com menor mobilidade”, mas lembrou que “os Capuchos, São José e o Desterro não são unidades feitas de raíz, mas sim antigos conventos adaptados”. Esta moção foi aprovada pelas bancadas da CDU, PS, PSD e do movimento Isaltino - Oeiras Mais À Frente (IOMAF); já o BE optou por abster-se.

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Momentos de tensão
No decorrer da discussão sobre o futuro dos hospitais, veio à baila a questão do Instituto Português de Oncologia (IPO), cuja mudança de instalações (que, aliás, também figurava na moção da CDU) deu origem a algumas trocas de palavras bastante acesas. Foi João Saraiva quem levantou a questão, mencionando “a saída do IPO de Lisboa”; porém, esta expressão indignou Britaldo Rodrigues, o único deputado metropolitano do IOMAF, que lembrou “que o que esteve em causa anteriormente foi a mudança do IPO de Lisboa para Oeiras - e Oeiras ainda pertence à Área Metropolitana de Lisboa”.
Mais adiante, André Beja, eleito pelo BE por Sintra, mostrou-se satisfeito com a possibilidade de o IPO ser transferido das suas actuais instalações, na Praça de Espanha, para a zona do Parque da Bela Vista. Também o socialista José Roque Alexandre se mostrou de acordo com esta mudança, sublinhando que “uma das grandes valências do IPO é a área científica e o espaço actual não serve os objectivos do instituto”.
Vários deputados discorreram sobre o assunto, mas foi o comunista António Modesto Navarro quem se mostrou mais critico à mudança, fazendo, inclusivamente, um ataque cerradíssimo ao Bloco de Esquerda: “Antes do acordo de coligação com o PS na Câmara de Lisboa, o BE era frontalmente contra a mudança do IPO. Relembro que há um estudo rigorosissímo que indica que o IPO deve ser remodelado sector a sector, mantendo-se no mesmo local, mas o que o Bloco vem defender é a sua mudança para uma zona verde”.
Anunciando o seu “repúdio por estas declarações”, João Amaral, do BE, respondeu a Modesto Navarro, relembrando que, “o Bloco fez apenas um acordo pós-eleitoral com o PS, mas manteve todo o seu programa eleitoral, ao passo que, na época de João Soares, a CDU esteve coligada com os socialistas”.
De imediato, Modesto Navarro levantou-se furioso e, reclamando a defesa da sua honra, voltou a fazer uso da palavra para novo contra-ataque: “Em coligação com o PS, fizemos muito por Lisboa, que estava uma desgraça depois da época de Cruz Abecassis (ndr: que terminou em 1989; estas palavras geraram grandes protestos da bancada do PSD). Vocês (BE) têm problemas graves, mas vão ter que nos aguentar. Além do mais, a CDU foi o primeiro partido a ser convidado para fazer coligação com o PS depois da últimas eleições, mas nós recusámos, ao passo que o BE quis ficar com os restos”. O presidente da Assembleia Metropolitana, João Taborda Serrano, serenou os ânimos e encerrou a troca de acusações. Porém, sobre o tema do IPO, a bancada bloquista não se livrou de mais criticas, desta vez, da parte de Victor Gonçalves, do PSD de Lisboa: “A Câmara ofereceu um terreno para o IPO no local errado. O que é certo é que, com esta localização, o BE esqueceu uma parcela do Plano Verde, da autoria do arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles, e que o Bloco tanto defendeu”. »

Curiosa, esta discussão sobre o sexo dos anjos.

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