18/07/2006

Plano Verde de Ribeiro Telles de volta à Câmara


In Diário de Notícias (18/7/2006)
Filipe Morais

«Aproveitando um conjunto de condições legais e de oportunidades, o vereador da Câmara Municipal de Lisboa José Sá Fernandes vai apresentar à câmara um projecto para implementar um Plano Verde na cidade, que, garante, será "uma nova forma de ver Lisboa".

O autarca sublinha que a cidade precisa de "uma estrutura ecológica", que defenda a criação de espaços estáveis, de concepção e gestão ecológica". Os principais objectivos passam por criar mais condições em Lisboa para a libertação de oxigénio e "sumidouro" de CO2, para a fixação de poeiras, a circulação da água pluvial a céu aberto e infiltração, além de promover a utilização da água local e enriquecer a biodiversidade. Diz ainda querer "travar uma política casuísta de intervenção urbana".

Uma das vantagens que o vereador aponta neste plano está na defesa da luminosidade, o que o levou mesmo a citar "uma lenda norueguesa", que refere Lisboa como "a cidade mais bonita". Sá Fernandes diz que "em Lisboa não há perspectivas profundas e há muitos contínuos naturais" entre os espaços verdes e "contínuos culturais", e pode haver uma interligação entre eles.

No entanto, um dos pontos a realçar na proposta a ser ainda votada está nas medidas provisórias. A proposta defende que "as áreas demarcadas como sistema húmido ou seco não possam ser objecto de qualquer acção que transforme o seu uso ou situação actual", que "qualquer área do 'Parque Periférico', definido e identificado no Plano Verde, não possa ser subtraída para a construção de edifícios e/ou infra-estruturas que afectem a essência natural do parque" e que "as áreas que fazem parte da estrutura Ecológica Contínua, definida e desenhada no Plano Verde (corredor de Monsanto, Vale de Alcântara, Margem Ribeirinha e Vale de Chelas) não possam ser alvo de construções que afectem a essência da estrutura."

É ainda pedido que "nas quintas de recreio, cercas conventuais, logradouros interiores, quintais e jardins que integrem os cascos consolidados da cidade ou edifícios públicos" se proíba qualquer construção.

Sá Fernandes explicou aos jornalistas que o plano que defende se baseia numa anterior proposta do arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles, que esteve ao serviço da Câmara Municipal de Lisboa, e que foi agora melhorada pelo próprio. "A câmara que não tenha a lata de chumbar a proposta", disse Gonçalo Ribeiro Telles sobre a necessidade de se implementar um plano verde em Lisboa. O arquitecto entende mesmo que este deveria ser um primeiro passo da cidade "para depois esta ser uma nova forma de pensar Portugal", no que é também "um processo cultural".

A Estrutura Ecológica de Lisboa está dividida em quatro sistemas: o Húmido, que integra leitos, linhas de águas pluviais e bacias de apanhamento, o Seco, com declives superiores a 25%, falhas geológicas, afloramentos rochosos e pontos de vista dominantes, o Cultural, com os espaços e ambientes significativos e o sistema de Vistas, que Sá Fernandes sublinha incluir o Tejo "porque a vista também é do rio para Lisboa".

Um dos pontos de destaque no plano é a Estrutura Ecológica Contínua, que tem por objectivo a "sustentabilidade ecológica, a estabilidade física da paisagem, a presença da natureza no espaço urbano, o conforto ambiental , o recreio de ar livre e a valorização da imagem da cidade", incidindo no corredor de Monsanto, do Vale de Alcântara e no Sistema de Chelas, mas também na margem ribeirinha.

O Plano Verde quer também criar pontos de ligação entre as várias zonas verdes da cidade, contando também com as estruturas descontínuas. Sá Fernandes quer ainda aproveitar para este plano, e para a cidade, zonas verdes que se encontrem no meio da malha urbana, caso do Convento dos Inglesinhos (ver caixa), o Palácio Ribeiro da Cunha, o Largo Barão de Quintela, o Vale de Alcântara e Bairro da Liberdade, a mata do Ateneu, os logradouros no Bairro dos Lóios ou a Quinta da Nossa Senhora da Paz, que pertence à autarquia. Nestes espaços, o vereador defende uma intervenção de forma a manter e melhorar a vegetação que existe naquelas áreas.

Quanto à votação na câmara, Sá Fernandes respondeu a Ribeiro Telles: "espero que não haja a lata, mas não ponho as minhas mãos no fogo"


Ribeiro Telles é um daqueles homens que devia ser clonado, pelo menos uma vez em cada concelho de Portugal. É também um daqueles homens que não se percebe como nunca foi Presidente da CML. E é um homem a quem Portugal devia estar agradecido.

Por isso aqui fica a pergunta: como é possível desperdiçar as suas ideias, a sua competência e a sua dedicação a Lisboa e ao país? Pérolas a porcos.

PF

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