24/01/2007

Vice-presidente e vereadora de Lisboa são suspeitos

In Diário de Notícias (24/1/2007)
Ana Mafalda Inácio, Carlos Rodrigues Lima, Luísa Botinas, Marina Almeida*

«O vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Fontão de Carvalho, e a vereadora do Urbanismo, Gabriela Seara, são considerados suspeitos no âmbito do processo Bragaparques, no qual está em causa a permuta de terrenos do Parque Mayer e da Feira Popular. Este terá sido o motivo que levou ontem os inspectores da Judiciária a efectuarem buscas às suas residências, a vários serviços da CML, nos Paços do Concelho e no Campo Grande, e às instalações das empresas envolvidas no processo, EPUL e Bragaparques.

Segundo apurou o DN, os dois autarcas não foram formalmente constituídos arguidos, embora existam indícios fortes de eventuais crimes, resultantes de decisões tomadas por ambos no decorrer das negociações que visaram a permuta de terrenos, no ano de 2005, entre a câmara e a empresa de construção civil do Norte. Fontes da PJ referiram ao DN que as buscas realizadas às residências de Fontão de Carvalho e de Gabriela Seara são um indício claro do grau de suspeita que existe sobre ambos, que resulta de mais de um ano de investigação.

Durante as buscas, os inspectores da Direcção Central de Investigação da Corrupção e Criminalidade Económica e Financeira (DCICCEF), apreenderam documentos e informação vária em suporte informático, que serão agora analisados. Só após a análise é que o Ministério Público tomará a decisão de os constituir ou não arguidos no processo, o qual, até agora, só tem um indiciado, Domingos Névoa, administrador da Bragaparques.

A operação de ontem foi a segunda, após o início da investigação que tem por base matéria que pode consubstanciar em eventuais crimes de corrupção, tráfico de influências e participação económica. A primeira ocorreu a 6 de Dezembro de 2005 e visou buscas aos escritórios da sede da empresa em Braga e serviços camarários de Lisboa. Ontem à tarde, técnicos da CML foram chamados à DCICCEF para prestarem declarações.

Ambiente de cerrar fileiras

As buscas começaram por volta das 09.00 com cerca de 50 inspectores, acompanhados por seis magistrados. Nos Paços do Concelho, cinco inspectores examinaram documentos e computadores, passando a pente fino os gabinetes do presidente da autarquia, Carmona Rodrigues, do vice-presidente e de alguns assessores jurídicos. O mesmo aconteceu nos serviços do Campo Grande, onde estão os serviços do urbanismo e das finanças. O ambiente era de cerrar fileiras.

Nos Paços do Concelho, as portas foram fechadas diversas vezes para evitar os olhares dos jornalistas, até que por volta das 16.00 Carmona Rodrigues, no átrio do edifício, confirmou as buscas da PJ, não se referindo às buscas nas residências de Fontão de Carvalho e Gabriela Seara, que ocorreram também durante a manhã.

Carmona mostrou-se calmo e adoptou a imagem de que a autarquia está a colaborar com as autoridades. "A PJ esteve nos Paços do Concelho, no Campo Grande e na EPUL. Vamos colaborar com todas as investigações, até porque foi a câmara que, em 2005, enviou para o Ministério Público a matéria que levantava muitas dúvidas. É desta forma que entendemos que se deve agir para se esclarecer tudo de uma vez", referiu, acrescentando: "Pedimos uma sindicância aos serviços do urbanismo para que o município deixe de estar enrolado num novelo de suspeições. A oposição criticou, disse que era excessivo, mas achamos que há todo o interesse em colaborar com as autoridades."

No Campo Grande, não foi possível chegar à fala com nenhum responsável da câmara. Um elemento do gabinete da vereadora do Urbanismo, Gabriela Seara, disse "não confirmar nem desmentir" a existência de buscas. Do staff de Fontão de Carvalho apenas nos foi dito: "Não prestamos declarações." Qualquer dos contactos foi feito através das funcionárias da portaria da CML, não tendo sido dada autorização à imprensa para subir e falar pessoalmente com assessores ou vereadores. O ambiente era calmo, apenas se notando alguma agitação da segurança quando os jornalistas se juntaram à entrada do edifício. (...)
*Com Susana Pinheiro
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1 comentário:

Anónimo disse...

Fico com uma duvida.
Tem a certeza que é só a "vice"?