03/04/2013

Comerciantes desesperam pelo fim das obras para ligar a Baixa ao Castelo


In Público (3/3/2013)
Por Marisa Soares

Requalificação do piso na Rua da Vitória está a demorar mais do que o previsto e a Câmara não diz quando deverá terminar. A caminho do Castelo de São Jorge, o estacionamento vai ser reduzido

A requalificação da Rua da Vitória, na Baixa de Lisboa, inserida no projecto do percurso pedonal assistido que ligará aquela zona ao Castelo de S. Jorge, deveria estar pronta em três meses, segundo o cartaz que anuncia a obra. Mas a empreitada dura há mais de meio ano e, olhando para a rua esburacada, não se lhe vislumbra o fim, para desespero dos comerciantes que ali se encontram.

Basta percorrer a rua para perceber uma agonia de que estas obras são apenas parcialmente responsáveis. Alguns comerciantes fecharam a porta de vez, outros deixaram lá tudo e dão ordens ao correio para entregar as cartas noutra morada. Para facilitar a entrada nos prédios há estrados improvisados sobre os enormes buracos escavados dos dois lados da rua, repleta de canos, tábuas, terra e materiais de construção. No interior das lojas vêem-se poucos clientes, numa manhã chuvosa. “Tem sido um sofrimento enorme” para os comerciantes, afirma o presidente da Associação para a Dinamização da Baixa Pombalina, Manuel Lopes. Embora reconheça que a intervenção vai trazer “um grande benefício para a Baixa e para turistas e moradores”, Manuel Lopes critica a demora na sua conclusão.

Também o presidente da Junta de Freguesia de S. Nicolau, António Manuel, está apreensivo. “É um projecto excelente, mas a obra arrasta-se há quase um ano. Este atraso podia ter sido previsto até antes da adjudicação, pois é uma obra complexa”, lamenta, defendendo que a autarquia devia compensar os empresários pelas perdas. O PÚBLICO questionou a Câmara, mas não obteve resposta.

A intervenção inclui a reformulação das redes de água, electricidade, gás e telecomunicações no subsolo. “Quisemos fazer caleiras técnicas separadas, para disciplinar e facilitar a manutenção”, explica o arquitecto Falcão de Campos, responsável pelo projecto. A demora, explica, deve-se em parte à dificuldade em conciliar agendas das concessionárias. O Inverno rigoroso não terá ajudado.

A calçada portuguesa vai ali ser substituída por pedra de lioz e, nas zonas inclinadas, por calçada de granito menos escorregadia do que a convencional. No ano em que se comemoram os 125 anos do nascimento de Fernando Pessoa, não foi esquecida a sua ligação à Rua dos Douradores: no cruzamento com a Rua da Vitória fi cará escrita, no chão, uma citação do poeta.

Para facilitar a ligação entre a Baixa e a colina do Castelo, vão ser instalados três elevadores num prédio na Rua dos Fanqueiros, cujo miolo foi demolido. Na cave ficarão os sanitários públicos e, segundo o arquitecto, os três pisos superiores poderão acolher os serviços da futura freguesia de Santa Maria Maior, que juntará várias freguesias da Baixa. Durante a obra, que deverá estar pronta dentro de um mês, foi descoberta uma escadaria, anterior ao terramoto de 1755, que leva a uma subcave labiríntica, com tecto abobadado. Poderá servir para exposições, por exemplo.

A ligação deste prédio à cota mais alta faz-se através de uma passagem, ao nível do terceiro andar, pelo saguão que separa aquele edifício de outro na Rua da Madalena. Saindo no rés-do-chão deste segundo edifício, os utilizadores podem seguir para os elevadores instalados no silo do antigo Mercado do Chão do Loureiro. Pelo caminho, atravessam o Largo Adelino Amaro da Costa (Caldas), cuja repavimentação, também em pedra de lioz, começou ontem.

No resto do percurso até ao castelo está prevista a requalifi cação do pavimento e o alargamento dos passeios, com escadas nas zonas mais íngremes. Os lugares de estacionamento vão ser reduzidos “consideravelmente”, segundo Falcão de Campos. No total, o projecto estava inicialmente orçado em mais de nove milhões de euros, pagos através das contrapartidas do Casino de Lisboa.


Morte anunciada para muitas lojas
Comércio de rua vai sair para dar lugar a hotéis
A revolução a que se está a assistir na Baixa da cidade não se fica pela requalificação do espaço público no percurso de acesso ao Castelo de São Jorge. O comércio tradicional, que está a ser duramente afectado há vários meses pelas obras em curso, também tem vindo a ser abalado com os projectos de instalação de, pelo menos, dois hotéis junto à Rua da Vitória e com as facilidades que a nova lei das rendas trouxe aos processos de cessação dos contratos de arrendamento. Como o PÚBLICO noticiou em Março, sete comerciantes instalados num edifício que faz esquina entre aquela artéria e a Rua Augusta têm de sair até Agosto. Mas não são os únicos. No quarteirão entre a Rua dos Fanqueiros e a dos Douradores há mais “11 ou 12” com ordem de despejo, diz Jorge Gonçalves, dono do Armazém Ramos, desde 1937 na esquina da Rua dos Fanqueiros com a da Vitória. “Nunca quis desistir, agora sanearam-me”, lamenta o empresário de 86 anos, que tem de fechar até Outubro. M.S.»

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