23/06/2006

Lojistas da Av.Roma querem zona chique e criam associação:

Associação Avenida de Roma

Mas ao contrário de Pedro Pinto (do magnífico Café Magnólia, e presidente da recém-criada associação) eu não estou nada satisfeito com o rumo que tem levado a avenida onde moro desde que por cá nasci há 42 anos. Passo a explicar:

A Avenida de Roma começa por ser uma avenida muito mal arborizada, sem homogeneidade de espécies ou porte, e sem qualquer disposição previamente estudada. As árvores vão sendo decepadas ou plantadas à vontade do freguês. Os passeios da Avenida de Roma são assimétricos (uns arborizados, outros não; uns estreitos, outros largos; uns com pilaretes verdes, outros com cinzentos, etc.), estão sujos, regra geral, e estão muitas vezes ocupados por automóveis (por ex: troço entre Pastelaria Sul-América e Júlio de Matos). A sua calçada é mal tratada, regular aqui, irregular e esburacada ali, quando não em péssimo estado (ex. junto à entrada da estação de comboios do Areeiro). O trânsito na Av.Roma faz-se geralmente em alta velocidade. Há elevados níveis de poluição de ar e sonora. A habitação está cada vez mais especulativa, quer a nível do arrendamento, quer na venda, fazendo-se os senhorios pagar pela centralidade em termos de transportes públicos. Há mesmo prédios onde os apartamentos são segmentados a fim de se venderem melhor. Os prédios estão muito descaracterizados por perfis de alumínio, estores «fruti-color», marquises e outros apetrechos «modernos». O estacionamento para residentes e comerciantes é anárquico, sofrendo com a incompetência da EMEL e de quem de direito, que continuam a deixar estacionar aqueles que chegam à Av.Roma pela manhã, não pagam parquímetro e vão para os seus empregos de Metro regressando ao fim do dia. Um residente para conseguir estacionar no local a que tem direito por pagar o dístico, só pode sair de carro a partir das 20h. Há vários atentados ao espaço público, a começar pelo campo de jogos da estação de comoboios do lado da R. João Villaret, e a acabar com o mau uso que é dado aos logradouros dos prédios. Há muita criminalidade de pequeno furto, por ex. perto do Jardim Fernando Pessa, ao fim da tarde e aos fins-de-semana. Há mau serviço de restauração em termos gerais (péssimas marquises, mobiliário díspar, pratos mal confeccionados, decoração feita de espelhos, chão sujo, etc.). Dos bons cafés tradicionais (Salão Londres, Copacabana, Capri, Frankfurt, etc.) só resta a Mexicana, substituídos que foram aqueles por bancos. O comércio caracteriza-se, na sua maior parte, por vender artigos de qualidade mediana, ou abaixo disso, em estabelecimentos com péssimas montras, atendimento antipático e rigorosamente nada apelativos. As excepções contam-se pelos dedos. Da excelente oferta cultural que havia na Avenida de Roma, sobretudo de salas de cinema, o Cinema Alvalade foi demolido de forma hipócrita, o simpático Star tornou-se numa mega-loja, o Londres e o Vox foram compartimentados em micro-salas que em que a qualidade dos filmes exibidos não condiz com as condições das salas, e o Quarteto vai morrendo aos poucos. Só o Teatro Maria Matos parece merecer a atenção de quem de direito, ao menos esse. Esta é a Avenida de Roma de hoje. Pode voltar à ribalta? Oxalá.

PF

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