In Público (27/6/2006)
João Pedro Henriques
"Concessionário portuário diz que o autarca já fez fugir de Lisboa pelo menos sete grande armadores
As declarações de Carmona Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), contra o previsto aumento da capacidade portuária do cais de Alcântara já terão causado prejuízos de cerca de 25 milhões de euros ao concessionário, a Liscont. Foi o próprio director-geral da empresa quem ontem o afirmou. Carlos Figueiredo disse à Lusa que "o facto de o presidente da câmara fazer tais declarações foi suficiente para o mercado internacional perceber que as infra-estruturas de Lisboa não vão crescer e, por inerência, não oferecem competitividade". Ou seja, como acrescentou ao PÚBLICO, "as declarações produzidas fazem mossa", principalmente porque os armadores funcionam numa lógica, normal nalguns portos europeus, segundo a qual estas infra-estruturas são geridas pelas autarquias (o que não é o caso de Lisboa). "Os portos no estrangeiro, nomeadamente em França e Alemanha, são pertença das edilidades, e, embora o município de Lisboa não tenha a mesma autoridade sobre o porto, para os armadores estrangeiros qualquer declaração do presidente da câmara tem grande importância", disse aquele responsável da Liscont.
O quadro geral do conflito entre a gerência portuária e o presidente da câmara prende-se com os planos da APL (Administração do Porto de Lisboa) para, num prazo de 20 anos, triplicarem a capacidade de movimentação de contentores (do actual meio milhão de contentores/ano para um milhão e meio). No plano estratégico que a APL está a desenvolver, o reforço dessa capacidade de movimentação passa sobretudo por aumentar a capacidade portuária existente em Alcântara, o que acontecerá demolindo edifícios actualmente existentes e transferindo para Santa Apolónia o cais de recepção dos grandes paquetes turísticos. Desde 2003 que Carmona Rodrigues se tem multiplicado em declarações - quer como autarca quer como ministro das Obras Públicas - contra o aumento da capacidade portuária em Alcântara - e é precisamente a 2003 que se refere a análise da Liscont sobre perdas na afluência de operadores (ver quadro). As últimas afirmações do presidente da câmara contra os projectos da APL foram há apenas uma semana atrás. Em 21 de Junho afirmou que o reforço da capacidade portuária de Alcântara constitui um "equipamento pesadíssimo". "É um equipamento pesadíssimo, altamente lesivo para a cidade, com um impacto muito significativo nas acessibilidades, no ambiente e na própria imagem e qualidade urbana daquela zona da cidade", afirmou, à margem de um encontro com o chefe do Governo de Macau, Edmund Ho.
Face a estas críticas, a APL tem dito que os planos para aumentar o cais de Alcântara resultam directamente do aumento da procura, aumento esse que, por sua vez, resultará da globalização, que fez voltar a crescer a importância (e a dimensão económica) dos transportes marítimos. Para melhorar os acessos à zona de Alcântara, a Administração do Porto de Lisboa estuda duas soluções (cumulativas): aumentar o uso da linha-férrea; e usar barcaças que transportem os contentores ao longo do estuário e/ou entre as margens do Tejo. A APL tem autonomia legislativa para fazer aplicar o seu plano estratégico, dependendo apenas de uma luz verde prévia do Governo."
Ainda a guerra mal começou e já vale tudo?!
PF
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