03/06/2008

Comunicado: Razões de um Protesto

Estacionamento na Zona da Avenida do Brasil


A Câmara Municipal de Lisboa sem que tivesse criado qualquer alternativa para o estacionamento dos automóveis dos moradores, mandou a Polícia Municipal nos últimos meses multar de forma sistemática os que estacionam nos passeios da Avenida do Brasil.

Ninguém contesta a ilegalidade desta prática corrente em Lisboa, mas a verdade é que na Avenida do Brasil não existem alternativas para os moradores.

A situação é tanto mais injusta, quanto a mesma resultou da omissão da própria autarquia perante o problema. Na verdade, nos últimos 20 anos os moradores alertaram continuamente a CML para o agravamento da situação, apresentaram alternativas e até sugeriram medidas para disciplinar o trânsito na zona. Mas o que fez a CML ao longo destes anos ? Nada ! Ignorou a situação e os moradores.

Os moradores reafirmam a sua disponibilidade para colaborarem na solução do problema, propondo desde já as seguintes medidas:

1. Requalificar os logradouros traseiros, nomeadamente no Bairro das Caixas, aproveitando-os para o estacionamento de automóveis e outras funções mais úteis à população. Os logradouros estão hoje ocupados por lixeiras, construções clandestinas abarracadas, servindo também para todo o tipo de actividades ilícitas. É inadmissível que a CML de desvincule destes importantes espaços da cidade, sob a desculpa que não sabe a quem pertencem.

2. Introduzir o estacionamento em espinha na Avenida do Brasil. Apesar da CML estar em princípio de acordo com esta ideia, mas apenas para um dos lados da Avenida, não parecendo claras as razões por que não extensível ao outro lado da Avenida. Remeteu todavia esta mudança para 2010, o que é inadmissível no presente contexto.

3. Repor a legalidade no uso das garagens colectivas dos edifícios. Nesta zona, como em toda a cidade, existem várias garagens de prédios de habitação que foram sendo transformadas pelos seus proprietários, em armazéns ou outras funções ilegais. É tempo de acabar com estas situações.
4. Acabar com a transformação dos passeios em stands de venda ou depósitos de automóveis abandonados. Embora seja uma prática generalizada na cidade, nesta zona está particularmente difundida, contribuindo para agravar o problema do estacionamento.

5. Aproveitar as áreas expectantes para parques temporários de estacionamento. Não faltam na zona áreas ao abandono que podem ser utilizadas como locais de estacionamento. Simples intervenções locais poderiam resolver problemas que se arrastam à décadas.

6. Preservar e melhorar os espaços verdes existentes. A resolução do estacionamento, em caso algum poderá implicar a destruição ou redução dos espaços verdes existentes, nomeadamente o que se prefigura para o jardim da Rua José Lins do Rêgo. A qualidade de vida local está profundamente degradada na Freguesia do Campo Grande, devido aos elevados níveis de poluição sonora e atmosférica, que estão entre os piores que se registam em Lisboa.


Os moradores reafirmam, por último, que o estacionamento na zona tem que ser visto globalmente de forma a aproveitar as várias alternativas, mas rejeitando em absoluto medidas avulso que possam piorar ainda mais a já muito degradada qualidade de vida no bairro. Considerando os moradores que sem alternativas concretas é injusto penalizá-los com multas e o reboque das suas viaturas.
2 de Junho de 2008

A Comissão de Moradores da Avenida do Brasil (Campo Grande )

8 comentários:

Anónimo disse...

É óbvio que não é responsabilidade da Câmara providenciar estacionamento. Sugiro que:
- utilizem transportes públicos (se for preciso eu explico o que são);
- comprem casa com estacionamento.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Bom, ele há coisas que me fazem muita confusão. Desculpem lá, mas esta carta protesto, pese embora a disponibilidade manifestada e a capacidade de apresentação de soluções (que deviam ser utilizadas para outras lutas), revela o quadro ideológico e cultural do povo da cidade.

E desnuda as raízes da mentalidade que levou o povo português, e em particular o lisboeta, a ser tão atrasado na sua relação com a cidade, diria mesmo, com o mundo no seu geral.


“A Câmara Municipal de Lisboa sem que tivesse criado qualquer alternativa para o estacionamento dos automóveis...”

Quem existiu primeiro? O carro ou os lugares de estacionamento? Quer dizer, eu vivo no coração da baixa-chiado ou no bairro alto, não há lá estacionamento, reclamo para o criarem? Gasto a minha energia em descobrir soluções e mais soluções (soluções que se esgotam, que não resolvem a questão a longo prazo) para resolver o MEU problema? E quando os meus vizinhos dicidirem comprar mais um carro? E depois outro? E outros vizinhos e outros e outros?

Lisboa não tem 10 anos e não vivemos no tempo da ejaculação provocada pela invenção do automóvel, dos empréstimos bancários fáceis nem no da cegueira científica. A cidade tem demasiados carros que provocam problemas ambientais brutais e riscos infinitos para a saúde de todos. Ponto.

"degradada qualidade de vida" = Ter estacionamento para o carro?

“Os moradores reafirmam a sua disponibilidade para colaborarem na solução do problema...”

Qual problema? O problema que as famílias lisboetas (das famílias europeias com maior número de carros for agregado) criaram?

“Introduzir o estacionamento em espinha na Avenida do Brasil.”

- Introduzir lugares para bicicletas, aumentar a oferta de transportes públicos, passagens para pessoas deficientes, estimular o comércio local, intervir nas escolas abordando o tema da vivência e relação com a cidade?

“foram sendo transformadas pelos seus proprietários, em armazéns ou outras funções ilegais. É tempo de acabar com estas situações.”

- É bom sinal. Sinal que já não têm carro.

“Não faltam na zona áreas ao abandono que podem ser utilizadas como locais de estacionamento.”

- Enfim...Que tal aproveitarem-nas para construírem parques infantis, espaços de feiras ou jogos tradicionais, campos de desporto ao ar livre?

“Preservar e melhorar os espaços verdes existentes.”

Ahhhhhh, boa!

“A qualidade de vida local está profundamente degradada na Freguesia do Campo Grande, devido aos elevados níveis de poluição sonora e atmosférica, que estão entre os piores que se registam em Lisboa.”

- Era muita fruta...Porque será??????????

Injusto serem penalizados com multas e reboques? Mais do que justo. Justo e merecido. Peca por ser tarde e não ser sempre.

Por acaso as pessoas lêem os jornais (24horas não incluído)?

Sabem o que se faz no mundo? Sabem o que é o planeta? As mudanças que todas as cidades europeias desenvolvidas já fizeram há anos para devolver os espaço àqueles que de facto as sabem viver?

Sabem por acaso que as crianças reconhecem mais de 1000 marcas e símbolos de empresas, que viram na televisão e em publicidades, mas não sabem dizer o nome de 4 jardins da zona onde moram?

Por acaso é preciso vir um ditador que nos leve todos os carritos ou nos obrigue apenas a ter um por família, que nos obrigue à força a ver a inexistência de alternativas sustentáveis para resolver aquilo que nos últimos 30 anos os lisboetas (todos eles, não só os políticos) criaram e não souberam ainda corrigir - Uma dependência absurda e mentecapta do automóvel?

Usem o Porche à la pata ou o Volvo do povo, como o pessoal fazia quando era puto. Ou enviem cartas sim, mas a pedirem uma mudança de mentalidade.

Porque não questionam a CML sobre a inexistência de uma ciclovia entre a Av. do Brasil até ao Colombo, para em vez de levarem o automóvel (e depois ficarem à rasca porque não o pode estacionar à porta de casa no regresso), levarem as bicicletas com os cestinhos, a família inteira, e pelo caminho ainda cantar o tiroliroló?

Ou então, se não conseguirem (o que é muito provável e tem acontecido nos últimos anos em Lisboa) abandonem a cidade para ir viver nos Portos Altos, Cacéns, etc.

Não há qualquer problema. O país e a cidade tem os filhos que criou.
Mas lembrem-se que também esses eldorados, construídos na fúria da oferta imobiliária, rapidamente esgotarão as “alternativas” de estacionamento e tudo se repetirá novamente (veja-se o caso de São Marcos).

Tristeza de povo, parado no tempo.

Miguel Carvalho disse...

Excelente comentário Mário Miguel!

Gosto sempre de lembrar o caso de Tóquio em que é necessário provar que se tem um lugar de estacionamento para se poder registar um automóvel:

http://www.occidental.co.jp/ownership_change.html

Anónimo disse...

Não poderia estar mais de acordo com os comentários anteriores.
A petição ou carta ou lá o que é que os moradores fizeram revela uma imbecilidade gritante.
Deixem-se de queixar e façam algo para resolver os vossos problemas - sugiro abandonerem o uso do automóvel!!! Que tal em vez de noas vossas casas terem todos um carro só haver um carro por família!!!
Cambada de poluidores, usurpadores de espaço público, da qualidade de vida dos outros cidadãos...Resumindo - imbecis!!!

Gonças disse...

Senhores moradores da digníssima Av. do Brasil, eu comprei um piano de cauda que não me cabe em casa. Posso juntar o meu protesto ao vosso e arranjar um espacinho para ele na via pública?? posso? Ele também tem rodas!

É ridículo este pedido não é? É o espelho do vosso!

Anónimo disse...

Infelizmente (ainda) somos assim!
Somos isto!
Temos que ter carros e com menos que 4 anos.
Temos que ter telemóveis e com menos que 12 meses.
Temos que ter plasmas e LCD's.
Temos que estacionar os carros à porta.
E temos que nos queixar por tudo e por nada antes de pensarmos "o que EU posso fazer para melhorar esta situação?"

Venham as ciclovias!!

TMC disse...

O Mário Miguel disse tudo. Aos senhores moradores: menos choro e mais acção:é possível viver e trabalhar em Lisboa e prescindir do automóvel. Se querem ver algumas mudanças ligeiras comecem por mudar os vossos hábitos antiquados.

vortex disse...

A alarvidade e egoismo destes destes "cidadãos" é reveladora do pais que temos.
O "tuga" primário no seu melhor...
Aproveito para lhes sugerir mais uma "medida"...
- Elevadores para os popós em cada prédio para os senhores só serem obrigados a darem um, no máximo dois passos até à porta de casa...
São estes "seres" que enchem os passeios com os seus carritos, estacionam em segunda, terceira e quarta fila, não sabem o significado das passadeiras, entre outras proezas como seguramente não pagar impostos porque são sempre mais espertos que os outros... Ah... e só têm deveres e nenhuma obrigação...
Sonho cada vez mais com o crude a 1000 dólares o barril!!!!
E claro... Viva o Tuga!!!