17/06/2008

PSD preparou moção de censura contra Sá Fernandes e pede que lhe seja tirado pelouro

In Público (17/6/2008)
Ana Henriques

«Vereador dos Espaços Verdes "passou a alugar os jardins públicos mais emblemáticos de Lisboa", tornando-se "o pior inimigo das causas populares"

"Sá Fernandes esteve mal no apoio a esta decisão" de encerrar a Praça das Flores temporariamente para promover um automóvel, escreve Daniel Oliveira, do BE, no seu blogue Arrastão, onde explica que é morador do bairro. Já Bernardino Aranda, do gabinete do vereador, fala no mesmo local em "erro político" do autarca por se ter "colado" à iniciativa, que classifica como "uma tenebrosa privatização do espaço público".

a O PSD deverá lançar hoje na Assembleia Municipal de Lisboa uma moção de censura contra o vereador eleito pelo Bloco de Esquerda José Sá Fernandes, na qual exorta o presidente da câmara a retirar ao autarca, "o mais urgentemente possível", o pelouro dos Espaços Verdes. Embora seja previsível a aprovação do documento, uma vez que os sociais-democratas têm maioria absoluta neste órgão, nenhuma consequência prática deverá advir desse facto para além das ilações políticas, uma vez que a assembleia municipal não tem poderes executivos.

Sá Fernandes é acusado pelo deputado social-democrata Victor Gonçalves, autor da moção, de ter tentado "retirar meios [verbas] às juntas de freguesia para estas levarem a cabo os compromissos relativos à conservação dos espaços verdes". Mais recentemente, "passou a alugar os jardins públicos mais emblemáticos da cidade de Lisboa, privando os cidadãos do seu usufruto". Em causa está a entrega da Praça das Flores a uma marca de automóveis durante duas semanas para esta promover o lançamento de um novo modelo, em troca da reabilitação deste jardim.

A iniciativa foi alvo de críticas mesmo dentro do BE (ver caixa), porque os moradores estão a ser privados do uso do espaço à tarde e à noite e ainda têm de suportar o ruído da animação nocturna associada ao evento. "O vereador vai agora privatizar o Jardim da Estrela, entregando-o à conhecida cadeia de hipermercados Continente, mais uma vez prejudicando todos os seus utilizadores em benefício de um poderoso grupo económico", prossegue Victor Gonçalves. "O aparente defensor das causas populares revela-se o seu pior inimigo mal lhe entregam algum poder".
Sá Fernandes diz que o PSD decidiu persegui-lo: "Deve estar a irritá-los o facto de eu estar a fazer um bom trabalho". E se em relação à Praça das Flores descarta responsabilidades - "foi uma boa medida, mas não é da minha competência, foi o director municipal do ambiente urbano que autorizou o evento" -, no caso do Jardim da Estrela garante que as coisas não são como os sociais-democratas as põem. "Trata-se de mecenato puro e duro. O Continente dá-nos um parque infantil no valor de 60 mil euros que fica com uma placa da empresa, mas não há nenhuma acção promocional prevista".

"O evento na Praça das Flores acaba esta quinta-feira e na sexta já vai ser possível ver os melhoramentos" pagos pela marca de automóveis, acrescenta Sá Fernandes. O movimento de vereadores Cidadãos por Lisboa, de Helena Roseta, exige a averiguação da legalidade das autorizações camarárias que viabilizaram esta iniciativa.
À hora de fecho desta edição um deputado municipal do PSD dizia estar contra a moção de censura do seu colega de partido, que ia tentar pelo menos adiar até que Sá Fernandes fornecesse explicações sobre a matéria.»

4 comentários:

Anónimo disse...

Conheço o jardim muito bem. Vivi na zona durante mais de duas décadas. Mas isso não importa. Já foi referido, e bem, que a questão é de princípio e aplica-se a todos os jardins.

Eu diria que se aplica a tudo.

Para mim, neste contexto cada vez alienante de político=corrupto, cidadão=inculto e desinteressado, a forma como se faz política em Portugal e o processo como (não) se envolvem as comunidades nas decisões que as afectam, são sintomáticos do cancro democrático em que se fina o nosso país.

Um amigo meu conta-me que na cidade inglesa onde vive um dia quiseram alterar o limite de velocidade nas ruas circundantes.

Noutra ocasião, uma das casas abandonadas foi comprada por uma empresa que pretende abrir um abrigo para refugiados e pessoas carenciadas (a zona onde ele vive é chique).

Como foram envolvidos nessas decisões os moradores:

1. Antecipadamente, todos receberam circulares nas suas caixas do correios explicando a intenção.

2. Todos foram convidados a manifestarem-se por escrito, a favor ou contra as iniciativas, justificando as suas opções e propondo alternativas.

3. Todos foram convidados para uma reunião geral na Câmara para discutirem as reacções, as vantagens e desvantagens das opções/sugestões.

4. Após a discussão, e sabendo todos a opinião uns dos outros e as suas contrapartidas, foi aberto um período para o poder político decidir.

5. Foi novamente informada a decisão final a todos.

O que foi feito nesse caso do jardim?

Talvez uma reunião na Junta de Freguesia. Terá sido ela massiva e atempadamente comunicada a todos?

Terão reflectido e comunicado as decisões?

MAIS IMPORTANTE: Terá havido um compromisso por parte dos responsáveis políticos, sem falácias, tintim por tintim, com datas e valores monetários precisos, sobre onde e como seria gasto o dinheiro que advinha do evento?

Na minha opinião, a iniciativa seria muito positiva se todos estes pressupostos estivessem reunidos.

Os comerciantes e os moradores facilmente concordariam com esta pequena privação, se percebessem que o verdadeiro objectivo seria a melhoria da sua zona e que no geral isso os afectaria positivamente a todos.

E se de facto o objectivo foi esse, porquê esconder? Porque não aproveitar a oportunidade para explicarem as vantagens da coisa, usando a transparência e sem pressas? Os decisores políticos só tinham a ganhar com isso, porque estavam a fazer a sua função: Arranjar alternativas para melhorar as condições de vida dos seus cidadãos.

Se foi apenas uma forma de favorecer uma amigo na fabricante de automóveis e com isso o Zé ganhar mais uns cobres, então merda para tudo e para ele.

Uma coisa também é certa, estas reacções demagógicas dos partidos políticos, todos indignados, coitados, porque o povo fica privado do espaço verde e tal, só enganam os surdos. São desconstrutivistas, são aproveitamento fácil, são tristes.

Uma vez mais, o problema não é o evento.
É o silêncio.
Aquele pssssssttt que normalmente esconde qualquer coisa podre.

Nunca mais saímos da política de garrafão que se pratica nesta cidade.

Paulo Ferrero disse...

Caro Mário Miguel,
Infelizmente, isto não há nada a fazer, por mais que nos matemos com movimentos, blogues, e espernearmos por tudo quanto é sítio.
Trata-se de um país amorfo, em que se premeia a mediocridade, se maquilha a incompetência e se promove a incultura.
À corrupção, chama-se promiscuidade.
Enfim, isto não há solução.
É muito triste, mas é a realidade.
Eu sei, eu sei, perguntas: 'e que andamos nós aqui a fazer?'
Resposta 2 em 1:
1. Remar contra a maré.
2. Figura de parvo.

Anónimo disse...

Ponto um Marcos Perestrelo vice-presidente da Camara do PS, sabem que é, que pelouros tem, e quais as suas responsabilidades?

Pelos vistos nem a Helena Roseta nem os eleitos ( no tempo de Carmona Rodrigues) do PSD na Assembleia Municipal, sabem, só por ignorançia ou outros motivos, o bombo da festa é o Sá Fernandes, e Marcos Perestrelo que negociou com a Skoda, e que autorizou a realização do evento, que teve na realidade o acordo do Sá Fernandes, de Marcos Perestrelo nem sequer falam dele...

Quanto ao artigo do Publico, é o problema dos nossos jornalistas , escrevem o que lhes dá na real gana.

O Bernardino Aranda de forma ironica disse o que disse, mas com um sentido totalmente em contradição com aquilo que a jornalista escreve.

Era o mesmo que eu dizer, não há duvida que o Carmona Rodrigues foi um grande presidente da Camara de Lisboa, poupado, deixou obra, regularizou as contas, combateu a corrupção,pessoas como ele é que fazem falta.....

E alguem que lesse isto, pensasse , que eu no meu perfeito juizo, seria capaz de escrever semelhante insanidade, a não ser que estivesse a ser ironico....

Mas enfim...O PSD é cada vez menos para levar a serio....

Anónimo disse...

A primeira crítica de Mário Miguel diz tudo.
A nossa Democracia,acabada de nascer,já está velha...
De facto até Fernandes,que é um democrata(que é!),não sabe fazer as coisas...não avisou ninguém a tempo e horas ,ou então não haveria tal contestação...


18-6-08 Lobo Villa