10/12/2010

Lisboa

Lisboa, apesar de colinas e da luz e das vistas desde a minha casa e desse cheiro a lavado, Lisboa com o seu ritmo e o seu tempo, com esses turistas babados no miradouro de São Pedro de Alcântara, não é um postal. É uma cidade muitas vezes impraticável, um caos no inverno com as chuvas a colapsar sarjetas e ruas, humidades que se pegam às paredes dos edifícios e aos cabelos, eléctricos que não passam, águas que transformam a calçada portuguesa numa arma assassina; uma cidade que no verão nos sofoca, que aos fins de semana fica deserta, uma capital sem centro, sem gente, sem vontade de ir beber um copo à quinta feira, uma cidade enfiada em casa cheia de frio e com a manta pelos joelhos e com preguiça de ir passear os filhos ao parque. E mesmo que houvesse um hipotético e mais que improvável trabalho bem pago à minha espera nesse lado da fronteira, voltar a Lisboa apresenta-se como um exercício de masoquismo alucinado – só de me imaginar a empurrar um carrinho de bebé feita doida pela Calçada da Estrela acima até me dá uma coisinha má – e morreria de saudades destas pequenas guloseimas que fazem de Madrid uma espécie de aldeia onde se fingem hábitos provincianos para não nos sentirmos perdidos e tão sozinhos. Essas cañitas de fim de tarde assim que começa o bom tempo, o Retiro como jardim de casa, a tradição do cozido madrileno com os amigos, mais não são que entreténs para passar o tempo nesta cidade que não tem mar, nem rio, nem pais onde ir almoçar ao domingo. Porque Madrid não é minha, não sou daqui, ninguém é daqui. Fazemos de conta, brincamos a fazer do bairro em que vivemos o nosso bairro, copiamos tradições, fingimos que as festas de San Isidro, ou da Almudena, ou da Paloma são nossas. Mas não são. Ao contrário de Lisboa. A Lisboa sempre senti que pertencia, apesar da chuva, das ruas escuras, do desagradável do inverno, da tristeza dessas terças feiras vazias de gente, dos parques infantis sem crianças, do queixume. E agora que tenho dois filhos não os posso obrigar a viver numa cidade tristonha mas bonita, deprimida mas romântica, nossa mas solitária. Por isso Madrid agarra-me mais que Lisboa, o que é uma pena, porque eu adoro Lisboa e queria tanto rever-me naquelas colinas, educar os meus filhos em português, habituar-nos a passear pela praia em Abril, ter a certeza de um bom prato de sopa em qualquer tasca. E saber-me cada vez mais longe da cidade que mais amo enche-me o coração de saudade. Que pena.
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12 comentários:

Xico205 disse...

Ò amiga se achas que Lisboa é anormalmente fria e humida, então nunca vás a Peniche, Figueira da Foz, Espinho, Porto, Esposende, Povoa de Varzim, Viana do Castelo, Sintra, Ericeira, Mafra, Vigo, Corunha, Santiago de Compostela, Santander, Bilbao, San Sebastian, Bordeus, Brest, Belfast, Liverpool, Manchester, etc...

Isso, mantem-te aí no interior que isso é que condiz com a tua personalidade.

Lisboa até está virada a sul (com mais ensolação) com montanhas a norte e ocidente a proteger dos ventos atlanticos. Em Lisboa é possivel plantar bananeiras, catos e palmeiras (arvores tropicais). Se Lisboa fosse assim tão fria e humida estas especies não sobreviviam em Lisboa.

Anónimo disse...

Caro Xico2005, acho que não percebeu o contexto em que a autora se referiu à humidade. Talvez tenha sido o seu impulso a não o permitir. Tem de tentar de novo.

Xico205 disse...

Percebi sim senhora. "Humidades que se pegam aos cabelos e paredes dos edificios". Ou seja, paredes que raramente ou nunca levam com o sol, ou seja em ruas estreitas e/ou viradas a norte, alem que estão mais tempo a levar com o vento frio e humido.

Normalmente a fachada voltada a norte é a que se degrada mais depressa precisamente devido à rarissima ensolação e é a que leva mais com o vento humido.

Isso tem solução: façam obras com mais regularidade aos edificios ou então utilizem materiais que isolem melhor, ex: pedra, azulejos, tijolo de fachada, etc.

Mas quem escolhe viver num bairro antigo tem que se aguentar com a pouca luminusidade das ruas e casas.
Qualquer pessoa sabe que um bairro moderno e uma casa nova tem mais conforto.

SM disse...

Lisboa fria e escura???

Essa Sra que venha passar aqui uns dias em Dublin, e vai ver o paraiso que e' Lisboa no Inverno.

Tipico complexo tuga, nunca dao valor ao que e' nosso, e o que e' dos outros e' que e' bom.

Tudos os estrangeiros que conheco que foram a Lisboa, so me dizem isto... PARAISO

Comida boa e barata, Seguranca, Hospitalidade, Cultura etc etc

Anónimo disse...

Mas este xico sabe tudo não percebeu o que leu e depois fala de materiais que isolem melhor pedra azulejo tijolo hahahhahha e a meningite é cada vez mais aguda xico vai ver se chove lá fora pá

Unknown disse...

Caro Xico e SM,

não basta saber ler, há que saber e procurar interpretar, sem ofensa.

Anónimo disse...

Em qualquer cidadezita de Espanha, a Plaza Mayor e as ruas em redor dela têm imensa vida pela tarde e noitinha, com o pessoal conversando em grupos e as mamãs passeando os seus bebés nos carrinhos.

Aqui, é uma tristeza.

Rita Burnay disse...

Fico contente por este texto, que se pode encontrar no meu blog, estar a despertar tanta atenção mas queria só salvaguardar a autoria, que não é minha.
A autora deste texto é a Rititi (http://www.rititi.com/).

Acho óptimo o debate mas deixem-me, já agora, dizer que este texto descreve a divisão inerente a quem viveu ou vive entre Madrid e Lisboa. Duas cidades com coisas maravilhosas e outras nem tanto. Era perfeito poder juntar o melhor das duas!

Xico205 disse...
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Xico205 disse...

Pois, mas juntar o melhor de duas é impossivel. Ou se opta por uma ou por outra.

Essa Rititi (tem 5 anos não?) desistiu de Lisboa porque as coisas más superam as boas. Está no direito dela de o achar. Acho é estranho ela em Madrid só ver coisas boas, ou se vê más, não são assim tão más para ela não querer viver lá! Por acaso da ultima vez que estive em Madrid (foi só de passagem) vi tanta xungaria, que não me sentia muito à vontade, e até estava num sitio cheio de turistas, a estação de autocarros Mendez Alvaro. Mas lá está, sitio turistico atrai sempre chungas, porque nenhum parasita vive sem hospedeiro.
A Rititi parece só ver maravilhas em Madrid, já em Lisboa parece que só viu desgraças, o texto dela parece mais duma turista do que de uma habitante de Madrid! Estará lá assim há tanto tempo?
É que estar em Espanha, ainda por cima numa cidade grande (cheia de lixo social) e só ver maravilhas digamos que ou é autista ou tem pouca capacidade de percepção da realidade! A mim basta-me uma hora em Madrid para ver tudo o que ela se queixa em Lisboa.

Depois, em Madrid toda a gente quando sai do trabalho vai-se enfrascar? Bem, devem ser todos ricos e ter uma pança do tamanho da roda dum tractor! Algum ultrapassa os 40 anos sem ter uma cirrose?

A Rititi secalhar nunca reparou que em Lisboa tambem há quem esteja o dia todo a enfrascar-se e começa logo de manhã! Ela que passeie pelas tascas dos bairros populares de Lisboa. O mesmo ao fim da tarde quando os seus habitantes saem do trabalho.

Anónimo disse...

Sao gostos...Ainda se fosse Barcelona, agora Madrid...

Xico205 disse...

Barcelona é humido, estraga-lhe o cabelo. Tem que ser uma cidade interior.

Alem disso Barcelona tem imensa degradação, predios devolutos, é uma cidade suja, tem muita xungaria, e quando há vagas de frio os seus habitantes ficam enfiados em casa, só os turistas e estrangeiros que lá vivem é que saem de casa.