24/04/2012

Cristina é croata e quer poder pintar num miradouro




Por Cláudia Carvalho in Público

Para atribuir 20 licenças a pintores de rua, a Câmara de Lisboa organizou um concurso público, uma espécie de caça-talentos 


O Mercado da Ribeira ou o típico eléctrico amarelo, que ainda circula em algumas ruas lisboetas, foram alguns dos temas dos trabalhos apresentados pelos cerca de 30 pintores que competiram ontem no Mercado da Ribeira por uma das 20 licenças que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) está a atribuir para que possam pintar e vender os seus trabalhos em alguns pontos estratégicos da cidade. Pintam Lisboa e a sua tradição como se sempre a tivessem conhecido, mas são, na sua maioria, imigrantes. Ucranianos, moldavos, croatas. São poucos os portugueses.
Cristina é croata e vive em Portugal há cerca de sete anos. Nos últimos três, teve uma licença da autarquia para pintar e vender no Largo da Sé, mas agora quer mudar. "Gostava de ir para o Miradouro de Santa Luzia", diz ao PÚBLICO, enquanto pinta numa pequena tela a entrada do Mercado da Ribeira, numa tentativa de receber um ponto extra - o concurso da CML definiu como tema os mercados e quem o seguisse garantia logo um ponto, numa escala de 0 a 20. "Gosto muito de pintar e gostei de ter trabalhado na Sé, é um local com muitos turistas, mas agora gostava de experimentar outro", conta, sem desviar o olhar da sua tela numa corrida contra o tempo, afinal tem apenas duas horas para provar que merece o lugar.
Ao seu lado está Ludemila, uma ucraniana que já está habituada a estes concursos, ou não fosse esta a sua terceira participação. "Já pinto na rua há muito tempo", diz com a confiança de quem nem procurou o ponto extra. "Pintei o Alentejo, faz-me lembrar a minha terra", diz Ludemila, que, como acabou antes do tempo, dá uma volta pelo mercado, para ver os trabalhos dos outros artistas.
A passear pelo mercado, de trabalho em trabalho, estão também os membros do júri, constituído por Luísa Martínez (chefe da Divisão de Mercados e Feiras/DMAU), Paulo Braga (director do Departamento de Acção Cultural), Dina Teresa (DMAU/DMF) e Ana Rita Carvalho (DMAU/DMF). Vão espreitando e avisando para que ninguém se descuide com o tempo. "Temos aqui trabalhos muito interessantes", diz Paulo Braga, explicando que a ideia do concurso é "ter um conjunto de artistas de rua a trabalhar em tempo real para as pessoas que passam", facilitando depois a venda das obras. "Eles ficam com um espaço [de quatro metros quadrados] no qual podem vender os seus trabalhos à vontade, à semelhança do que já acontece em muitas cidades europeias."
A escolha do tema foi, segundo Luísa Martínez, para fugir aos retratos típicos que já todos conhecemos. "Aproveitando que estamos aqui, pensamos que seria interessante", diz a responsável, que, à terceira edição do concurso, faz um balanço positivo. "Temos mais candidatos do que lugares, logo, isso é um sinal." Os resultados só são conhecidos no dia 3 de Maio.

1 comentário:

J A disse...

É..."licenças para pintores"....e milhares de carros nos passeios.
Já agora vejam lá se apanham algum tipo a tirar fotografias no passeio com tripé....