22/04/2012

Importantíssima ou erro colossal, obra no Marquês continua a dividir opiniões



Cinco anos após a inauguração, o Túnel do Marquês continua a dividir opiniões, entre quem considera que se tratou de «uma obra importantíssima» para a mobilidade em Lisboa e quem o classifica de «erro colossal».
A obra, bandeira eleitoral de Pedro Santana Lopes (PSD) nas autárquicas de 2001, começou a ser construída em 2003, gerando forte contestação, incluindo uma providência cautelar que obrigou à paragem da empreitada interposta pelo advogado José Sá Fernandes, hoje vereador na capital. O túnel abriu ao trânsito em 25 de Abril de 2007, mas só há três semanas ficou concluído, com a abertura da saída para a Avenida António Augusto de Aguiar.

«Foi uma obra importantíssima para Lisboa, que passou a ter um escape para entrada e saída», defende o presidente do Automóvel Clube de Lisboa.

Carlos Barbosa sustenta que o presidente e o vice-presidente da câmara, António Costa e Manuel Salgado, «odeiam carros». No entanto, «a solução não é tirar os carros da cidade, mas sim procurar alternativas para a mobilidade».

Opinião igualmente favorável tem o presidente da Associação Nacional de Transportadores em Automóveis Ligeiros, Florêncio Almeida, que acredita que o túnel «foi das melhores obras que se fez nos últimos anos em Lisboa».

«A contestação foi injusta, perdeu-se muito tempo por causa disso. Quem fez com que a obra estivesse parada deveria indemnizar a câmara pelos prejuízos causados. Essa pessoa, infelizmente, é hoje vereador da câmara», refere o representante dos taxistas, defendendo a construção de um túnel entre a Avenida Fontes Pereira de Melo e o Campo Grande «para descongestionar o eixo central».

«Claramente positivo é o balanço do especialista José Manuel Viegas. A construção «não era absolutamente vital», mas permitiu «servir melhor as pessoas que trazem carro para Lisboa». Mesmo a «olho nu, vê-se que aquilo funciona», afirma.

Para o especialista, «falta uma peça fundamental para o tráfego nas circulares da cidade»: um túnel na zona do cruzamento com a Rua Alexandre Herculano, que permitiria a passagem da Infante Santo para a Avenida Almirante Reis.

Já o presidente da Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados considera que o Túnel do Marquês é «um colossal erro em termos de mobilidade», argumentando que «não se resolvem problemas de mobilidade facilitando os acessos, mas sim impedindo-os».

Para Manuel João Ramos, representou «um desperdício terrível de dinheiro, que devia ter sido gasto, por exemplo, em ciclovias, que em Lisboa são meramente decorativas e sem funcionalidade para a mobilidade urbana». Além disso, não foi construído «a pensar nos lisboetas, mas para facilitar o acesso a partir da periferia, que é o eleitorado natural do PSD».

A Quercus, que pediu a realização de um referendo local, considera que a obra «não resolveu os problemas de poluição» na zona do túnel e na Avenida da Liberdade, a via mais poluída de Portugal. A associação ambientalista admite que a infraestrutura não tenha acarretado o aumento até 100 mil veículos/dia – como admitiu então -, mas acredita que gerou «maior atractividade».

O vereador da Mobilidade, Fernando Nunes da Silva, considera que «o mais importante é que a obra se tenha concluído e que se tenha resolvido o diferendo» com o consórcio construtor, que culminou no pagamento de 22,2 milhões de euros pela autarquia.

Na sua opinião, este «não seria o desenho adequado para a resolução do problema dos acessos à zona do Marquês», porque não responde às «ligações principais, da Fontes Pereira de Melo com a Rua Braancamp e com a Avenida da Liberdade».

Outra solução poderia ter sido, diz, o prolongamento do túnel na Fontes Pereira de Melo para lá da Avenida António Augusto de Aguiar, até Picoas, enquanto o cruzamento entre estas duas avenidas poderia manter-se à superfície.

«A oposição que foi feita na altura deu contributos importantes para a segurança e para minimizar os impactos ambientais, apesar de ter acarretado mais custos», aponta.

A Lusa procurou obter uma posição do vereador do Ambiente, José Sá Fernandes, o que não foi possível.

Lusa/SOL

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