«Ex.mos Srs.,
venho, com este email, chamar à atenção para um assunto que penso ser da vossa alçada.
Na Rua Carlos Mardel, entre os números 17 e 19 obras de reabilitação de uma vivenda provocaram a minha admiração e choque ao ver as janelas de madeira substituídas por janelas de alumínio com os perfis entre o vidro duplo. Mais chocado fiquei ao perceber que o portão antigo que ainda se mantinha (o outro já havia sido mudado), por sinal bonito e integrado na época de construção e arquitetura da casa, havia sido substituído por um portão de alumínio resultando num efeito estético extremamente desagradável, sem falar da destruição de património resultante.
Tenho dificuldade de entender e aceitar aquilo que tem sido a posição da CML na defesa do património da cidade através da não sensibilização e coerção para a conservação criteriosa, de acordo com as regras internacionais em vigor. A introdução de materiais híbridos e contemporâneos não estão contemplados numa boa reabilitação de património anterior ao aparecimento das caixilharias de metal e de outros materiais contemporâneos como o pladur, chão flutuante, entre muitos outros. Também os intercomunicadores têm vindo a ser substituídos sem qualquer preocupação de manter a coesão do edifício, entre outros fatos que não podem ser do desconhecimento dos serviços que vossas Ex.as dirigem.
Os vossos serviços são transigentes e permeáveis a argumentos como o custo de manter janelas originais, ou que a vida moderna obriga a que se contemple numa obra uma série de tecnologias. Tal é completamente falacioso: tetos com focos integrados e música ambiente (entre outros) não são critérios válidos para destruir interiores ou edifícios inteiros. Adicionalmente que não tem o poder económico para manter o seu património deve tomar as medidas necessárias de o alienar a quem tenha essa capacidade. A conservação criteriosa de património é que deve ser um valor maior e sobrepor-se a qualquer critério como os usados para justificar situações como a que trago aqui.
O resultado da política seguida pelos vários executivos que passaram pela CML está à vista e hoje temos uma cidade extremamente descaraterizada, invadida por arquitetura menor (que substituiu em muitos casos edifícios sem particular excelência mas que funcionavam como um todo quando integrados nas suas envolventes), onde a filosofia de reabilitação é o pseudo-design contemporâneo. Não percebem vossas Ex.as que o resultante não é tão apelativo como uma reabilitação criteriosa. Não será de estranhar que espaços recentemente intervencionados como o Largo do Intendente com as suas colunas de iluminação incaracterísticas e desajustadas à arquitetura circundante – aliás as mesmas usadas na Praça do Comércio, pasme-se! – acabem mal frequentados e em declínio em pouco tempo.
Sigam exemplos como o de Amesterdão onde a sensibilidade, competência e muita ambição valeram a declaração de todo o centro histórico de canais como Património da Humanidade. Os senhores viajam, assim como os responsáveis políticos pelo urbanismo e decerto conseguem perceber a diferença entre o que se faz em Lisboa e o que se faz em outras cidades históricas da importância de Lisboa.
Com a esperança de ver resultados das minhas observações, subscrevo-me atenciosamente,
Alexandre Marques da Cruz»
2 comentários:
E quantos turistas, postos de trabalho, euros.....recebe Amsterdam anualmente graças à sensibilidade com que vão cuidando o centro da cidade ?
@Julio Amorim
Isso não significa que não se cuide da nossa cidade... Para além do mais, por que o raio devemos nós ter brio com o aspecto da cidade só para turista ver? Será que os nativos não são importantes?
Enviar um comentário