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(...) Se ainda tem dúvidas de que o Intendente pode ser o novo Cais do Sodré, oiça a Joana: “Acho que se vai tornar, até porque o Cais do Sodré está sobrelotado, superbeto, e as pessoas estão com sede de coisas novas. Espero é que isto não se torne também insuportável.”
Abriu há um mês com uma ementa mediterrânica, toques exóticos e eventos culturais e está a trazer uma nova fauna à zona com pior fama de Lisboa
Por Clara Silva, publicado em 21 Ago 2012 in (jornal) i online
Dizem que o Intendente pode ser o novo Cais do Sodré. E se assim for, O das Joanas, o café que abriu há um mês no Largo do Intendente, pode bem ser o primeiro rebento dessa transformação. Longe parecem estar os tempos em que o largo se enchia de camiões para tráfico de droga. A pensão mais famosa da zona, que alugava quartos a prostitutas, foi há pouco transformada num hotel que também é residência artística. E até o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, decidiu ali instalar o seu gabinete.
O Intendente já não é tão decadente e a fauna que se costumava passear pelo bairro olha agora, curiosa, para o interior do café O das Joanas, bem diferente da taberna, conhecida pelas bifanas, que ali funcionava. Joana Synek e Joana Vaz da Silva, as duas Joanas donas do café, queriam “fazer qualquer coisa no Intendente ligada à cultura” – ambas trabalham em produção de cinema – “e que agradasse ao público”. A ideia de um café, diz Joana Synec, “foi um feliz casamento”, mais ainda quando souberam que a câmara estava a apostar na revitalização da zona “que estava tão estigmatizada”.
Agora, parece que para ir ao Intendente já não é preciso estar armado. “Isso [o problema da segurança] são mitos que vão começar a cair por terra”, continua Joana Synek, “até porque os estrangeiros andam todos aqui à vontade”. Na esplanada do café, feita de mesas com panos étnicos, um casal de turistas estuda um guia de Lisboa. Lá dentro, alguns moradores bebem café e, aos poucos, começam a aparecer pessoas para o almoço. O próprio presidente da câmara, vizinho do lado do café, também já ali almoçou algumas vezes.
“Não queremos ser um café elitista”, diz a mesma Joana. “E os nossos preços também assim o reflectem. Temos tido muitos turistas, é certo, mas também pessoas aqui da zona.” Aliás, no fim-de-semana passado houve o primeiro “Sarau Gente do Intendente”, onde os moradores puderam participar. “A ideia é que locais que frequentam a nossa esplanada possam vir aqui mostrar os seus talentos. Por exemplo, o senhor Rui costuma ler poesia, a Cristina canta o fado e o rapaz que nos fez as obras faz acrobacias.”
Na semana passada, aconteceu o primeiro de uma série de quatro concertos de jazz às quintas-feiras no largo (a propósito da programação gratuita na cidade a que se deu o nome de “Lisboa Na Rua”) e o evento teve tanta gente que a comida n’O das Joanas acabou. Em dias mais calmos, vale a pena passar por lá para experimentar os pratos da ementa mediterrânica, que é fixa, embora haja sempre sugestões do dia, como quiches de presunto e figos (a 2,5 euros) ou uma pizza de tomate cherry, salami e manjericão (1,80 euros). E como estamos no Intendente, onde várias culturas se cruzam, os pratos também têm um sabor multicultural. “A nossa salada de salmão leva bolacha de sésamo raspada dos indianos”, conta Joana. Outra das especialidades com influência indiana é o pão nan com presunto e pasta de azeitona. Também há cuscuz de caril com farinheira e, para sobremesa, açucrinhas de coco.
Se ainda tem dúvidas de que o Intendente pode ser o novo Cais do Sodré, oiça a Joana: “Acho que se vai tornar, até porque o Cais do Sodré está sobrelotado, superbeto, e as pessoas estão com sede de coisas novas. Espero é que isto não se torne também insuportável.”
O das Joanas, Largo do Intendente Pina Manique, 28, Lisboa. De segunda a quinta e aos domingos, das 10h00 às 21h00; sexta e sábado, das 10h00 às 00h00
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