29/08/2012

Câmara de Lisboa vai estudar forma de comparticipar passe dos idosos

Câmara de Lisboa vai estudar forma de comparticipar passe dos idosos

O Metropolitano de Lisboa, assim como a Transtejo, atribui o decréscimo de passageiros à conjuntura económica

Por Ana Henriques in Público
Metropolitano de Lisboa registou menos 5,9 milhões de passageiros no segundo trimestre de 2012 do que em período homólogo do ano passado. Quebra de receitas pode ditar degradação de serviço
A Câmara de Lisboa vai estudar uma forma de comparticipar os passes de transporte dos idosos, cujo desconto a que tinham direito foi reduzido em Fevereiro. Para ultrapassar a "injustiça social" que é "impedir os idosos de se deslocarem", o vereador da Mobilidade da autarquia, Nunes da Silva, disse ao PÚBLICO que o município deve "desafiar o Governo a participar numa solução" para resolver o problema, por forma a que o desconto, que passou de 50 para 25%, volte ao que era.

A questão assume particular relevância devido à elevada percentagem de idosos que vivem na cidade. A quebra de vendas registada nestes passes depois de o desconto ter sido abolido chega, nalguns casos, aos 55%, refere Fernando Nunes da Silva num artigo publicado em Maio na revista de transportes do seu pelouro, a Mov Lisboa. "É dramático, porque as deslocações contribuíam para estas pessoas se manterem activas e saudáveis", observa.

Dados divulgados este mês pela Carris dão conta de que foram mais de 41 mil as pessoas que deixaram de comprar o passe da terceira idade no primeiro semestre do ano. O aumento das tarifas é, a par do desemprego, outra explicação para a brutal redução do número de passageiros nos transportes públicos.

O Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou ontem que só no Metropolitano de Lisboa viajaram, no segundo trimestre deste ano, menos 5,9 milhões de passageiros do que no período homólogo de 2011. Uma redução bem mais expressiva do que no Metro do Porto, que em idêntico período perdeu 572 mil pessoas. Especialista em transportes da Universidade do Porto, Álvaro Costa tem uma explicação para o fenómeno: "Os cortes de carreiras efectuados pela Carris foram bastante penalizadores para a mobilidade", que se ressentiu assim também no transporte subterrâneo. "No Porto isso não sucedeu, porque os operadores privados tomaram conta do mercado que até aí pertencia à Sociedade de Transportes Colectivos do Porto."

E se em valores absolutos o metro de Lisboa surge como campeão de perda de passageiros, em termos percentuais o transporte fluvial bate esse recorde: enquanto o metropolitano registou quebras da ordem de 13,1% passageiros, em carreiras fluviais como Lisboa-Cacilhas essa redução ascendeu aos 18,5% no segundo trimestre de 2012, uma vez mais por comparação com o período homólogo do ano anterior. Ao aumento das tarifas as pessoas responderam com alternativas que vão desde a partilha do automóvel até a terem passado a andar mais a pé, observa Álvaro Costa.

Degradação do serviço

"Há famílias que já não têm dinheiro para suportar as deslocações obrigatórias", observa Nunes da Silva, para quem se está perante um problema que chega a ser de coesão social. E se no caso dos idosos a câmara pode vir a abrir os cordões à bolsa, no dos desempregados o vereador entende que deve ser a administração central a comparticipar os custos de deslocação de quem tem de procurar trabalho.

Tanto o Metropolitano como a Transtejo atribuem o decréscimo de passageiros à conjuntura económica. A transportadora fluvial admite que o aumento do tarifário também se pode ter reflectido na redução das viagens ocasionais ou de lazer. Já o metro espera alguma inversão desta tendência com a abertura das estações do aeroporto e envolvente. Nunes da Silva alerta para o impacto que a redução da procura pode ter nas receitas das transportadoras: "Os aumentos de produtividade conseguidos aproximam-se do limite, após o que se seguirá uma degradação da qualidade do serviço de que será extremamente difícil recuperar."

1 comentário:

Carlos Medina Ribeiro disse...

Um aspecto que ninguém quer abordar tem a ver com a fluidez dos autocarros da Carris, no que toca ao estacionamento selvagem nas paragens e ao uso indevido, por particulares, das faixas BUS.
Acabei de ver, da minha janela, 10 carros em infracção (aliás era mais, pois iam saindo uns e chegando outros...), dos quais vários na paragem da Carris frente ao Centro Roma.