20/11/2012

Câmara da Amadora volta a demolir no Bairro de Santa Filomena.




Câmara da Amadora volta a demolir no Bairro de Santa Filomena
Por Liliana Pascoal Borges in Público

Começou ontem a segunda fase de demolições neste bairro clandestino da Amadora. O processo vai afectar 67 famílias, das quais 14 não são abrangidas pelo Programa Especial de Realojamento


Diabética e dependente do apoio de muletas, Ricardina, de 55 anos, estava acamada há quatro dias. Quando lhe bateram à porta, recusou-se a sair e a permitir a demolição da casa que afirma ter construído há 33 anos. Em vão.
A Câmara da Amadora concretizou ontem a demolição de mais seis casas no Bairro de Santa Filomena, um bairro clandestino. Pelas 8 h, as máquinas avançaram. Perante a resistência, Ricardina foi retirada à força, envolta apenas no lençol, "a esbracejar completamente fora de si, e acabou por ficar nua, em frente de toda a gente", descreve Rita Silva, do Colectivo pelo Direito à Habitação e à Cidade (Habita), que foi até ao local para acompanhar todo o processo e reunir os contactos dos moradores desalojados.
Jéssica explicava o que se passara com a avó Ricardina. "Ela não quis acreditar que nos iam entrar em casa e disse que a casa estava em tribunal e por isso não podiam fazer nada". Como Ricardina, também os moradores das outras cinco habitações ontem mandadas abaixo tinham interposto uma providência cautelar, para travar a demolição do bairro. Mas o tribunal indeferiu o pedido.
Iniciou-se, assim, a segunda fase do processo de demolição que começou em Julho e que deixa sem tecto as famílias que não estão inscritas no Programa Especial de Realojamento (PER), que exclui todos aqueles que não constem de um levantamento que tomou por base um recenseamento realizado em 1993. É o caso de Ricardina.
O objectivo do Colectivo Habita era levar esta mulher até à Segurança Social e ajudá-la ali a encontrar apoio. Mas os nervos e o estado de saúde de Ricardina levaram-na para o caminho do hospital, onde ficou internada.
Em Julho, foram retirados do bairro 46 agregados familiares, dos quais 18 também não estavam inscritos no PER. Nesta segunda fase, estão a ser tratados os processos de 67 agregados, dos quais 14 estão em situação ilegal, segundo a vereadora com o pelouro da Habitação na Câmara da Amadora, Carla Tavares.
Rita Silva, do Habita, contou, ontem, sete agregados - uma das casas tinha dois pisos independentes. "No total foram 22 pessoas, entre as quais dez crianças", afirma enquanto mostra num bloco de papel alguns nomes dos moradores desalojados. "É criminoso aquilo que se está a passar aqui", repetia insistentemente, e questionava se "a forma de acabar com as barracas é deixar as pessoas na rua e tratá-las de forma indigna?".
Segundo Rita Silva, a câmara disse que se reuniu com os habitantes para procurar e apresentar alternativas, mas não lhes foram dadas grandes opções. "As famílias foram ameaçadas de que ou sairiam a bem ou a mal", acusava. Carla Tavares recusou comentar.
Às sete famílias que ficaram sem casa, a câmara providenciou estadia durante seis dias, numa pensão em Lisboa. No entanto, a maioria dos desalojados recusou a proposta, alegando más condições na pensão e optando por ficar em casa de familiares ou vizinhos.
Foi o caso de um dos moradores que observava, de braços cruzados, o monte de entulho que, há poucas horas atrás, era a sua casa. "As minhas coisas estão na rua", contava a apontar para alguns sacos de plástico amontoados junto aos destroços. "Agora vou viver num canto em casa da minha irmã, aqui no bairro", partilhou.
"Isto não é forma de acabar com as barracas", reiterava Rita Silva. "Há pessoas que não têm sítio para onde ir depois da pensão". "São rendimentos que não chegam para a renda de uma casa no mercado livre. Aqui algumas pessoas pagam 50 ou 100 euros. São pessoas que trabalham na construção e na limpeza e são tratadas como criminosas", acusava.
Quanto à família de Ricardina, irá mudar-se, provisoriamente, para casa de uma familiar. Sobre Jéssica, mãe de uma recém-nascida, caem as responsabilidades de encontrar, com o seu tio, trabalhador de construção civil, uma solução. "Não sabemos o que vamos fazer", lamenta Jéssica. "Por agora vamos ficar no chão da sala da minha prima, que remédio!" Nessa casa, já habitam cinco pessoas, incluindo dois idosos e duas crianças, que repartem um rendimento de 500 euros.

3 comentários:

Anónimo disse...

destroem 10, aparecem 15 mais abaixo...

Anónimo disse...

Qual a localização exacta deste Bairro?

Xico205 disse...

Porquê que a minha mensagem de ontem à noite não foi posta?!!!


Até respondia onde fica o bairro, mas para não publicarem não me vou dar ao trabalho. O anonimo que se faça à estrada e descobre, sebem que encontrar barracas na Amadora não é dificil. E se não fosse a CRIL havia mais do dobro das existentes.