In Público (6/2/2007)
«Há uma dezena de anos os Invernos eram ivariavelmente uma calamidade para os automobilistas de Lisboa. Mal caíam duas gotas de água, logo o alcatrão começava a dissolver-se e a dar lugar a sucessivos buracos. Mas se a chuva persistia, os buracos ligavam-se uns aos outros, transformavam-se em crateras, e em vez de buracos no alcatrão passava a haver restos de alcatrão entre os buracos. Raro era o ano em que a câmara municipal não anunciava mais um superplano de recarga de pavimentos, com a garantia de que dessa vez é que o problema se resolvia: os buracos passariam à história. Houve mesmo um Inverno em que o então presidente Kruz Abecasis se deixou levar pela banha da cobra de um qualquer tapador de buracos e anunciou que a autarquia ia passar a usar um produto mais ou menos milagroso, que erradicaria definitivamente os buracos. O resultado foi o que se adivinha: a chuva continuou a dar cabo dos pobres tapetes betuminosos e os automobilistas continuaram a dar cabo dos carros no meio dos buracos. Só na segunda metade dos anos 90, em particular com a revolução rodoviária provocada pela Expo-98, é que a situação começou a melhorar. Os grandes eixos viários foram quase integralmente reconstruídos desde a base até ao topo e o problema começou a ser apenas uma recordação. Mas com o esvaziar dos cofres municipais a manutenção começou a escassear e os buracos voltaram a aparecer em grande. Nos últimos meses, com a chuva a voltar ao que era, as ruas de Lisboa seguiram o mesmo caminho. É ver a Segunda Circular, a José Malhoa, a Duque de Loulé, a Alameda das Linhas de Torres e tantas outras... A câmara municipal diz que as empresas com que tem contratos para a conservação dos pavimentos estão no terreno e que as situações mais graves vão sendo resolvidas à medida que são detectadas. Esperemos que não chova muito mais, porque dos cofres camarários pouco há a esperar. José António Cerejo»
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