07/03/2007

Curiosidade histórica interessante

Rua Nova do Almada: um texto de 1665

Nada como uma boa polémica para promover o avanço do conhecimento. Por causa de um leitor que levantou polémica a um texto meu, já lucrei algo: investiguei e cheguei onde queria. Partilho consigo a experiência. Trata-se da Rua Nova do Almada.
No blog LisboaLisboa2, um leitor interessado fez um comentário ao «post» que ali inseri e para o qual fiz remissão daqui, sobre a origem e cauasas da abertura dita Rua Nova do Almada e sobre outros temas. O comentário diz assim, na parte relativa à dita rua:
«Acho óptimas estas "intervenções" culturais para aligeirar o blog.. mas algum rigor histórico. A Rua Nova do Almada não foi feita para abrir a cidade a norte porque ela até desce para sul. Foi feita porque era uma velha aspiração da população da cidade ter uma ligação à baixa e principalmente à beira rio onde à época tudo se passava que não a obrigasse a ir ao Rossio. Isso de facto foi-lhe dado pelo Almada, à época Presidente do Senado que na realidade não deu o nome à rua. A rua esteve muitos anos sem nome e por isso por ser a "Rua nova" aberta pelo Almada o Povo acabou por lhe chamar Rua Nova do Almada. O tempo acabou por lhe dar esse nome oficialmente.»
Texto da época parece dar-me razão

Este comentário foi importante pela polémica que levantava. Na altura prometi ir à procura de bibliografia para defender a minha tese. E encontrei. Sem ofensa: está lá tudo, tal e qual.
Trata-se de um texto da época (Maio de 1665), exactamente referente ao assunto: a abertura da Rua Nova do Almada.
Deixo aqui todos os links e a transcrição que acabo de fazer, para seu regozijo… e meu!
A publicação é «O Mercúrio Português», de Maio de 1665 («Mercurio Portuguez com as novas da Guerra entre Portugal & Castela / [red. António de Sousa de Macedo]. - Jan. 1663-[Jul. 1667]. - Lisboa : Na Officina de Henrique Valente de Oliveira, 1663-1667. - 20 cm»). Pode encontrar uma recensão aqui.
Deve ver também os Tesouros / Periódicos, da Biblioteca Nacional neste link.
Aí se diz, às tantas: «Por exemplo, no mês de Maio de 1665 referia a abertura de uma rua, denominada de Rua Nova do Almada, que iria tornar mais fácil a comunicação entre a baixa e a alta de Lisboa. O nome da rua devia-se ao nome do seu autor, o presidente do senado da câmara, Rui Fernandes de Almada.»

Citação com interesse

Leio o que ora interessa em duas páginas (3-verso e 4). Vou transcrever o texto (adaptei a grafia).
Aí, depois de muitas referências às guerras da época, podemos ler o seguinte:
Na pág. 3-verso:
«E porque o cuidado da guerra não embaraça o do governo político, em 13 deste mês se começou em Lisboa a abrir uma formosa rua de 30 e 35 palmos de largo, que começa da calcetaria e sai ao Espírito Santo, muito conveniente para formosura e serventia do bairro baixo para o alto da cidade, e sobe tão invisível e insensivelmente que quase parece que tudo fica plano. Por esta razão, há muitos anos que era desejada, e se intentou, nunca se conseguiu, porque era necessário…» (segue)
Depois, segue na pág 4:
(continuação)«comprar e derrubar muitas casas, que naquele lugar faziam vários becos estreitos, conforme a fábrica antiga das cidades. Pôde-o conseguir com a resolução que tomou Rui Fernandes de Almada, que entrou a ser Presidente do Senado da Câmara («Câmera», à época), e por memória do autor de obra tão útil, quis o Senado que a rua ficasse com o seu nome e se chama a rua nova de Almada» (sic: com minúsculas e «de» Almada).

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