In Diário de Notícias (9.12.2010)
por CARLOS DIOGO SANTOS
«Foi criada uma escola municipal, há 24 anos, para que a arte não morresse. Há apenas quatro anos, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) anunciava que queria duplicar o número de calceteiros. Em Dezembro desse mesmo ano, a autarquia colocou uma estátua em homenagem a estes profissionais. Actualmente prevê-se uma diminuição da calçada portuguesa em nome da comodidade.
Este é o sentido do novo Plano Director Municipal (PDM), para os próximos dez anos, que admite a substituição do característico pavimento português por um mais confortável para caminhar. "Não estão ainda determinados os locais onde iremos intervir, mas obviamente que a calçada portuguesa não será retirada dos bairros históricos." A garantia foi dada por Fernando Nunes da Silva, vereador da mobilidade da CML. Ao DN, o autarca salientou ainda que "aquilo que existe em algumas urbanizações recentes são várias pedras juntas, isto é, simulacros de calçada."
Porém, a falta de comodidade não é o único problema a estar na base desta substituição. Até porque, segundo Luísa Dornellas, chefe da Divisão de Formação da CML, "uma calçada [portuguesa] bem feita não é má para os saltos das senhoras, e pode até ser confortável".
Mas, quando se trata de locais inseguros para os lisboetas, a substituição do pavimento parece ser consensual. "Não sei em concreto o que prevê o PDM, mas duvido que haja uma substituição da calçada apenas por conforto. O que me parece razoável é que, em alguns pontos, a calçada seja trocada por pôr em causa a segurança dos cidadãos. Refiro-me por exemplo a locais com grande inclinação."
Ainda assim, Luísa Dornellas lembra que a calçada portuguesa tem, pelo menos, cinco vantagens sobre os outros pisos normalmente utilizados nas grandes cidades: "Em primeiro lugar tem robustez, durabilidade e é feita com materiais sustentáveis, ou seja, as pedras podem ser reutilizadas" afirmou a especialista, salientando que, "além de o tradicional pavimento português ser muito importante para a imagem da cidade, é de fácil lavagem e tem uma grande capacidade de absorção de águas pluviais."
Em nome do conforto ou da segurança, a verdade é que a calçada portuguesa parece estar "em vias de extinção". A substituição foi justificada com a maior comodidade de outros pisos, na esperança de que isso ajude à fixação de mais famílias e empresas em Lisboa.»
Estrangeiros podem ensinar arte
"A luz de Lisboa vem do chão"
"É uma profissão magnífica,uma arte"
...
Sou frontalmente contra o desaparecimento da calçada portuguesa ainda que apenas nos bairros "não históricos". O que se passa é que os mestres calceteiros vão trabalhar para as empresas e deixam órfã a CML. Concordo que a maior parte da calçada que por aí existe está mal aplicada e é perigosa, mas o que se deve fazer é investir na escola de calceteiros e aumentar os vencimentos de quem a coloca bem, caso contrário será a solução mais fácil, a de assobiar para o lado; porque ou bem que a CML entende que a calçada portuguesa é um ex-libris da cidade e uma mais valia para a cidade, ou então ...
09/12/2010
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18 comentários:
Eu gosto da calçada portuguesa, mas ela torna-se complicada para muitas pessoas, em especial com deficiência motora. Sou a favor da sua retirada de muitos passeios de Lisboa.
Pagar bastante bem a estes profissionais é o passo mais importante, pois este trabalho não só requer muito conhecimento, como também dá origem a bastante desgaste. E atenção à entrega das calçadas mais delicadas a firmas privadas, porque este ofício no seu melhor, requer tempo e paciência o que não é muito compatível com o mundo dos orçamentos
Não são doutores. E em Portugal quem não é doutor não presta. É o sentimento dominante, e já foi demonstrado por comentarios neste blog varias vezes!
Já estive em vários países do mundo e de longe o pior piso pedonal que encontrei foi em Lisboa.
As ruas da cidade de Lx não são museus de calçada portuguesa, para andarmos a olhar para o chão com medo de cair. É lamentável que a maior parte das pessoas que são a favor da calçada andem muito de automóvel, nós, os peões anónimos temos que sofrer todos os dias, quer a calçada esteja seca, quer esteja molhada.
E por as ruas não serem museus de calçada, e serem locais onde novos, velhos, grávidas, deficientes, cegos, mulheres com salto alto, homens com sola de couro, durante 365 dias por ano têm que caminhar, fico feliz pela decisão tomada.
Espero que toda a cidade fique livre deste flagelo de forma a termos mais algum conforto para caminhar sem termos os olhos postos no chão e podermos, então sim, desfrutar e admirar a nossa bela cidade.
A beleza de Lisboa não está no chão.
Doutores? Eu estudei informática porque supostamente se ganhava bem e hoje em dia há gente a fazer seriamente ofertas de 600 euros e ainda se dao ao luxo de incluir no anuncio de emprego que o dinheiro é por baixo da mesa por isso nao paga impostos :))))
Sou frontalmente a favor a substituição da calçada Portuguesa em artérias não históricas e secundárias.
Não é só os saltos das senhoras, é a sua dificil manutenção, o perigo que representam com a humidade e o impacto que provoca para os deficientes motores e carrinhos de bébes.
Em época de chuvas torna-se muito escorregadia, podendo até ser perigosa.
É só tentar descer a Rua Conde de Redondo por estes dias para testar o que digo.
No entanto, a calçada portuguesa tem o seu charme e luz, pelo que é uma pena desaparecer das ruas da cidade.
Na minha opinião de leigo na matéria, haveria 3 coisas a fazer;
1º combater o estacionamento em cima dos passeios, porque isso é meio caminho andado para que saltem as pedras da calçada,
2º investir ou utilizar pedras ou acabamento anti-derrapante, que sei que existem pois já as vi colocadas num passeio, e
3º unificá-las com uma mistura de massa ou cimento e não areia, como acontece normalmente.
Em relação à luminosidade, existem muitos tipos de calçada moderna que não são escuros. Aliás o brilho de Lisboa vem do sol e do rio, a calçada nada tem a ver com isso.
Em relação aos bairros históricos e zonas históricas, existe pouca calçada portuguesa em Alfama, Costa do Castelo, Príncipe Real e Bairro Alto com padrões. Aliás este tipo de calçada com padrões existe em dois, três por cento da cidade. Porque não utilizar em zonas históricas colocar um novo tipo de calçada mas com os mesmos padrões? Não será assim tão difícil, com certeza.
Um dado, este tipo de calçada foi pensado para uma cidade com 100 mil habitantes, não para o milhão que diariamente anda pelas ruas de Lisboa. Vejam a nova Praça do Comércio e o tipo de piso que foi instalado? É sem dúvida, maravilhoso.
Sou contra a substituição da calçada portuguesa, pelos passeios escuros que existem noutras cidades da Europa. É mais do que óbvio que a calçada existente está é mal aplicada. Isso acontece porque os senhores que a fazem (muitos não são calceteiros de profissão), não usam cimento para fixarem as pedras ao chão. O resultado é que quando chove um pouco sai tudo. Isso aconteceu na minha rua, onde houve uma intervenção para tapar os buracos da calçada à uns 2 meses. Depois da primeira chuva foi-se tudo. A calçada está é mal feita e tem pouco arranjo.
Sem a calçada perde-se uma boa parte da luz de Lisboa.
André M, mas onde é que o Sol reflecte? Se o Sol é igual em todas as cidades, porque razão se fala na luminosidade de Lisboa?...[colocar aqui expressão típica do Homer Simpson]
Luís Marques
Ponham o mesmo material que há nos passeios junto ao Colombo. Acho que é plastico a imitar pedras da calçada e fica o problema resolvido.
Anónimo disse...
Doutores? Eu estudei informática porque supostamente se ganhava bem e hoje em dia há gente a fazer seriamente ofertas de 600 euros e ainda se dao ao luxo de incluir no anuncio de emprego que o dinheiro é por baixo da mesa por isso nao paga impostos :))))
1:18 PM
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Pois lá está o que eu disse. Ser doutor já deu o que tinha a dar em Portugal.
Há varios anos que a maioria das ofertas de emprego em Portugal são para quem tem a 4ª classe ou menos, não é para doutores. Quem tem baixa escolaridade trabalha muito ganha pouco e não se queixa, e é destes trabalhadores que o patronato quer.
Daí os doutores serem excluidos nas entrevistas por terem qualificações a mais para o pretendido. Têm a mania que são finos e querem sempre ganhar mais.
lmm disse...
André M, mas onde é que o Sol reflecte? Se o Sol é igual em todas as cidades, porque razão se fala na luminosidade de Lisboa?...[colocar aqui expressão típica do Homer Simpson]
Luís Marques
9:50 PM
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Meu amigo, logo no ensino basico ensinaram-me que as cores claras refletem a luz e as cores escuras absorvem a luz.
Obviamente que o sol intenso não é só uma caracteristica de Lisboa. É tambem de Setubal, Evora, Redondo, Monsaraz, Elvas, Santarem, Portimão, Faro, Lagos, Sines, Beja, Castro Verde, Ajustrel, Abrantes,etc... mas por não serem capitais não se fala delas. Quando se fala da luminosidade de Lisboa obviamente que é comparando com outras capitais doutros países.
Acha mesmo que o sol não reflete na calçada? Então experimente sair à rua no Verão sem oculos escuros! Nem a olhar para baixo uma pessoa se safa no passeio. Só mesmo fechando os olhos.
Aqui perto, na Calçada do Monte à Graça, os passeios estão calcetados com uma pedra diferente, mais porosa e que não escorrega com água. Não faço ideia que tipo de pedra é, mas ela está lá há pelo menos 40 anos e não me lembro de alguem ter escorregado.
Manuel Costa
Vivo numa rua bastante inclinada, a Rosa Araújo, e a calçada é um transtorno diário. Não que esteja particularmente mal colocada, nem mesmo pela deformação causada pelas árvores, mas porque escorrega, e não é pouco.
Acresce a isto que não a acho particularmente bonita (acho até um pouco possidónia, especialmente a desenhada), e não é de todo civilizada.
Já agora, pretender que é da claçada que vem a luz de Lisboa é um perfeito, rotundo e vergonhoso disparate.
Dizer que a calçada escorrega tambem é um profundo disparate.
Os passeios devem ser tratados, antes de mais e acima de tudo, como "A" infra-estrutura de transporte do peão. Os carros têm a faixa de rodagem, o peão tem o passeio.
As necessidades de segurança, conforto e acessibilidade para o peão -- para todos os peões, novos e velhos, com ou sem deficiência -- devem, por isso, ser a primeira coisa a ter em conta quando se aborda o revestimento dos passeios.
E neste ponto, o facto é que a calçada de vidraço a que hoje se recorre, é uma má solução de vários pontos de vista. Para o peão, provoca quedas, para as câmaras municipais e juntas de freguesia, é um sorvedouro de dinheiro - por mais dinheiro que se gaste na manutenção (e há cada vez menos dinheiro, como todos sabemos), ela nunca está em condições, nem devidamente limpa.
Dizer que o problema está na sua execução é correcto, mas dizê-lo como se fosse possível, com um estalar de dedos, corrigir esse problema, implica ignorar que estamos perante um problema estrutural.
Esse problema decorre da falta de mão de obra (ao contrário do que pensa o Paulo Ferrero, eles não foram para as empresas, simplesmente reformaram-se...), da falta de conhecimento e da forma como funciona o mercado da construção (que muito dificulta a execução de trabalho de qualidade e a sua fiscalização rigorosa quando não envolve material normalizado) e as limitações da fiscalização (uma fiscalização da calçada implica a verificação do corte e assentamento de todas as peças e juntas... todas as centenas de milhares...).
Além disso, parece-me errado defender a calçada de forma genérica. Primeiro, porque quando falamos de calçada estamos a pensar nos 2% de calçada de qualidade que conhecemos, que é a da Avenida da Liberdade (ou equivalente), a qual é hoje, infelizmente, a excepção à regra. Comparar essa calçada à que hoje se faz é uma ofensa aos calceteiros de antigamente...
Mas é um erro também, em segundo lugar, porque não está em causa prejudicar a calçada bem executada, que de facto tem valor histórico e ou estético, mas apenas substituir a calçada mal executada (que nem esse nome merece, trata-se apenas de "ajuntamentos de pedras") por pavimentos adequados ao uso pelos peões.
Até se pode argumentar, pelo contrátio, que a introdução de novos pavimentos é a melhor forma de proteger a calçada que de facto merece ser protegida, porque desviará recursos do remendo sistemático da calçada má (que estará sempre rota...) para a conservação da calçada boa. E fará com que só calceteiros devidamente qualificados e supervisionados (formados em escolas que de facto fazem muita falta) possam mexer na calçada com valor patrimonial (porque com a actual confusão, todos mexem em tudo...).
Nota final, e não chateio mais: fazer calçada de vidraço com cimento, no espaço público, é um erro, porque com as variações da temperatura o cimento expande e contrai mais do que a pedra, e a calçada fica muitíssimo mais vulnerável (menos flexível, com mais fissuras e desprendimento de peças, etc.).
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