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07/03/2016

Hotéis de charme


Chegado por e-mail:

«Boa tarde

No vosso site têm vindo a lume notícias sobre novos hoteís de charme no edifício do Diário de Notícias e da Rádio Renascença. O que eu acho é que os promotores dessas iniciativas deviam deixar em paz esses edifícios e, em vez disso, recuperassem o Hotel Braganza, situado perto do Teatro de São Carlos, e que está abandonado há muitos anos. Todos ganhariam com isso: recuperava-se um edifício histórico e passaria a existir um belo hotel com uma vista extraordinária para o rio e a Baixa.

Outro edifício onde está projectado há vários anos um hotel de charme é o Palácio das Águias, na Rua da Junqueira; mas há já vários anos que o projecto está parado e o edifício a degradar-se.

Se houvesse bom senso da parte dos promotores, deviam fazer isso.

Álvaro Pereira»

20/10/2014

26/03/2013

Por causa de hotel de charme, Livraria Olisipo com ordem de despejo!


In blog O Corvo de Lisboa:

«imparável ocupação do centro histórico lisboeta por novos projectos hoteleiros vai levar a mais despejos. Depois do quarteirão do antigo convento de Corpus Christi, é a vez do Largo Trindade Coelho, junto à Misericórdia de Lisboa, onde a livraria Olisipo, ali há mais de 30 anos, foi intimada a sair das instalações até 15 de Agosto.

Além da Olisipo, que comercializa livros antigos e gravuras, também a livraria Artes e Letras, que vende obras em segunda mão, os restaurantes Expresso e Adega de S. Roque e a pensão Estrela de Ouro receberam intimações de despejo. No prédio, que ocupa o lado Sul do Largo Trindade Coelho, já há muito que saíram do primeiro andar uma conservatória e um notário.

No fim de Janeiro, José Ferreira Vicente, dono da Olisipo e de uma leiloeira de livros, recebeu do senhorio carta a denunciar o contrato de arrendamento para proceder a “obras qualificativas de remodelação ou restauro profundo”. Quinze dias antes, tinha acordado numa actualização da renda para 326 euros. É a nova Lei das Rendas a funcionar.

O projecto de obras invocado torna mais expeditas as acções de despejo. “Esta lei não dá qualquer hipótese de contraditório ao arrendatário. É uma lei feita em cima do joelho”, diz José Vicente. A indemnização, correspondente a um ano de rendas, vai rondar os três a quatro mil euros, “que não dão para indemnizar os dois empregados que temos”, afirma.

“A obra – diz o livreiro – é para um hotel de charme. Aqui ao pé, na Rua da Misericórdia, também já abriu um hostal. Por este andar, qualquer dia, um estrangeiro vem aqui à Baixa e vai visitar o quê? Os hostais?”

[...] No dia 20 de Março, José Vicente reuniu-se com a ministra Assunção Cristas, num encontro proporcionado pela Associação das Micro e Pequenas Empresas. Durou cerca de três horas, mas não lhe serviu de muito. “A ministra acha que as operações urbanísticas que se avizinham vão criar posto de trabalho. A sensibilidade transmitida não foi no sentido de alterar a lei. Portanto, não há hipótese de o despejo voltar atrás.”

[...] O dono da Olisipo ainda não tomou uma decisão quanto ao futuro.O despejo é só para o Verão. Para já, vai fazer uma montra enlutada, como sinal de protesto.

Na Baixa de Lisboa, decorrem actualmente obras para sete novos hotéis. Mais 30 pedidos de licenciamento de novos estabelecimentos hoteleiros deram recentemente entrada na Câmara Municipal de Lisboa.

Texto e fotografia: Francisco Neves

26/11/2010

Britania eleito um dos melhores hotéis Art Déco da Europa


In Público (26/11/2010)

«O Britania, em Lisboa, foi considerado pelo jornal britânico Guardian um dos quatro melhores hotéis estilo Art Déco da Europa.

Situada na Rua de Rodrigues Sampaio (nas traseiras da Avenida da Liberdade), esta unidade foi desenhada pelo arquitecto Cassiano Branco na década de 1940. Os donos fizeram questão de manter o mobiliário original, recuperaram artesanalmente o chão de cortiça e restauraram as casas de banho e as paredes em mármore, os lustres e as portas com óculos de vidro. Inaugurado em tempo de guerra, aqui se cruzaram diplomatas e espiões, gente da alta finança e artistas. "Palco de muitas noites brancas, escândalos e conspirações, ficaram célebres, na pacata Lisboa dos anos 40, as festas e as requintadas ceias servidas de madrugada nos terraços", descreve uma nota informativa do hotel, famoso também pelas "noites sem fim dos campeonatos de brídge em que se perdiam fortunas".

Casada desde 1950 com o gerente do hotel, Natália Correia também contribuiu para o ambiente boémio do Britania, que no início se chamava Hotel do Império. Foi aqui que a poeta escreveu, já nos anos 70, a peça de teatro O Encoberto, a primeira a ser encenada no Teatro Maria Matos após o 25 de Abril de 1974. Quem o recorda é um dos responsáveis do grupo Heritage, ao qual pertence o hotel, Luís Alves de Sousa, que explica que não é a primeira vez que o edifício é distinguido a nível internacional. "Em Portugal é que realmente o reconhecimento tem sido pouco", admite. "Pedimos há uns meses para o imóvel ser classificado como imóvel de interesse municipal." Uma noite em quarto duplo custa entre 130 e 215 euros. O Hotel Martinez, em Cannes, o Burgh Island, em Devon, Inglaterra, e o Art Deco Imperial em Praga são os outros hotéis escolhidos pelo Guardian. A.H.»

...

Tal qual o nosso Júlio Amorim tinha anunciado em primeira mão, trata-se de um merecidíssimo prémio; só falta é conseguir-se repor a porta principal tal qual o desenho o original de Cassiano, que vai ser difícil...

...

Fomos entretanto esclarecidos por mão amiga que a porta actual é a reprodução da original: «...a porta que lá está foi feita por nós com base no desenho de pormenor do Cassiano que está na parede da recepção. Deu-nos imenso gozo porque aquela porta nunca tinha sido construída. E deu também um trabalho medonho porque é em ferro e muito pesada e por isso as dobradiças, molas, etc. tiveram que ser reforçadas e especiais...»

E pronto, correcção feita.

25/12/2009

«Por uma cidade que se respeite»

Uma cidade que se respeite não permite que um proprietário tenha o seu prédio degradado, a cair, abandonado, com falta de pintura, destelhado, entaipado, em risco de incêndio ou derrocada. Não permite. Ponto.

Uma câmara municipal digna desse nome multa, castiga, reprime o desleixo e negligência de quem for dono de um prédio nessas condições. Se não tiver instrumentos legais robustos para o fazer, exige-os ao Governo da República. Se não o conseguir, tem que se fazer porta-voz da indignação dos munícipes.

O Governo do país tem a obrigação de impedir que os centros das nossas cidades estejam sujos, ocos e cariados. Tem o dever de tornar muitíssimo dispendioso este mau hábito de quem não cuida da sua propriedade urbana. Tem o interesse - num país antigo, peculiar e turístico como o nosso - de garantir que os nossos centros históricos estejam impecáveis.

Não existe o direito de ter um prédio a cair. Tal como não existe o direito de guiar um carro sem travões ou poluente. Não interessa se o compraram ou herdaram. O carro tem de passar na inspecção periódica. O mesmo deveria valer para o prédio: tem de estar em boas condições, ou o proprietário terá de pagar pelo dano e risco que provoca a outrem.

Um prédio decadente faz reverberar o desleixo. Baixa o valor da sua rua ou do seu bairro, incluindo o daqueles prédios cujos proprietários, mais conscienciosos, trataram de cuidar e manter em boas condições. Um prédio a cair representa um risco de segurança para quem ali passa, para o solitário inquilino que às vezes lá resta, para os vizinhos.

A propriedade de um prédio não é coisa que venha sem obrigações. Esse é um equívoco que engendra outros equívocos de todas as partes envolvidas, sem excepção: a ideia de que os exemplos de prédios integralmente ocupados com rendas baixas (cada vez menos) podem servir de desculpa para situações de incúria em prédios praticamente vazios; a ideia de que o Estado pode ser o primeiro proprietário negligente; a ideia de que às autoridades públicas cabe, sempre, pagar toda a factura do rearranjo dos prédios. O Rossio de Lisboa foi recuperado com dinheiros públicos há uma década. Hoje tem prédios com telhados cobertos de folha de alumínio. Lamento, mas isto não é cidade que se respeite.

O presente de Natal para toda a gente que gosta da cidade, da cultura e de música aí está: ardeu o prédio onde ficava o Hot Clube de Lisboa, um dos mais antigos clubes de jazz da Europa. Perguntava um leitor do PÚBLICO ao saber da notícia: será que vale a pena fazer TGV e novos aeroportos para mostrar uma cidade vazia? Sob o impacto do momento, o exagero é desculpável, porque toca na ferida. As pessoas não vão apanhar o TGV para Madrid para ficar a olhar para a estação ferroviária. Vão para ver o Museu do Prado.

Aquilo que Portugal e Lisboa esquecem - com o novo-riquismo desculpável de quem se encontra em algumas rotas da moda - é isto: ninguém volta ao hotel de charme para olhar de novo para o mesmo prédio esburacado em frente.

Andámos anos a discutir um ridículo projecto para o Parque Mayer e deixámos o Hot Clube ao abandono. O salão do Conservatório está em ruína. O Pavilhão Carlos Lopes também. Não temos um lugar no centro da cidade para receber exposições internacionais que atraiam centenas de milhares de visitantes. Achamos natural que o candidato evidente para essa função - a Praça do Comércio - sirva para a burocracia do Estado. Ou então, que se faça lá um hotel de charme. Temos, não o nego, muito charme no abandono.

Rui Tavares

in «Público, 23-12-2009

FOTO: Calçada de São Vicente 48

12/02/2009

Boa-Hora como hotel de charme até poderia melhorar a Baixa

In Público (12/2/2009)
Ana Henriques

«"Seria um erro manter o edifício do tribunal nas mãos do Estado, que não cuida do seu património", diz o juiz Fernando Negrão, hoje vereador

A indignação que se vive nos meios judiciais por causa da anunciada transformação do Tribunal da Boa-Hora, em Lisboa, num hotel de charme, não tem eco entre os especialistas ligados ao património. É pelo menos essa a conclusão das conversas que o PÚBLICO teve com alguns deles. Actualmente a desempenhar funções de vereador da Câmara de Lisboa pelo PSD, o juiz Fernando Negrão acha que a melhor solução é mesmo tirar o antigo convento das mãos do Estado, "porque este não cuida do seu património".
Os ratos que nunca se coibiram de partilhar os gabinetes com os magistrados dos juízos criminais ao longo das décadas chegaram a ser pretexto para uma crónica de Paquete de Oliveira. O sociólogo pensa que a solução ideal passaria por recuperar o edifício mantendo-lhe funções na área da justiça. É isso que defende a Associação de Juízes pela Cidadania, que promove uma petição a condenar a venda do antigo convento a privados, pelo que isso significa em termos de perda de memória. O protesto já recolheu mais de mil assinaturas.
"Um Estado em situação de penúria abre mãos dos meios que tem" para fazer dinheiro, reconhece Paquete de Oliveira. O investigador notou algumas diferenças entre o discurso dos funcionários de justiça da Boa-Hora, "mais sensíveis às condições de trabalho", e o dos magistrados, "mais virado para a carga simbólica do edifício".
Já o olisipógrafo José Sarmento de Matos mostra pouca paciência para posições "um bocadinho saudosistas". Na sua opinião, "a história não pára, e não se pode ficar eternamente preso a uma memória", se se concluir, como parece ser o caso, que o edifício junto à Rua Nova do Almada já não serve para as funções que desempenha há mais de século e meio. Um hotel? "Pode trazer benefícios, embora nesta conjuntura possa haver dificuldades em arranjar investidores", avisa.
A ocorrer sob a égide da Sociedade Frente Tejo, entidade de capitais públicos encarregue de recuperar a frente ribeirinha, a transformação do tribunal em hotel constitui para o historiador de arquitectura Sérgio Rosa de Carvalho uma oportunidade de revitalizar a Baixa. Tem é de ser uma intervenção exemplar do ponto de vista da preservação patrimonial: "É essencial manter aspectos como as janelas de guilhotina ou os azulejos. Não pode ser escolhido para o projecto um arquitecto que se queira afirmar pela sua criatividade." "O edifício tem de ser convenientemente restaurado", diz também Sarmento de Matos.

"Façam um convento" Cáustico, o advogado José Miguel Júdice, que durante algum tempo liderou a Sociedade Frente Tejo, lança mais uma acha para a fogueira da polémica da Boa-Hora, cuja transformação o ex-Presidente da República Mário Soares considera "uma pouca-vergonha". "Que transformem o edifício num convento", desafia Júdice. Afinal, foi para isso que o edifício foi construído no séc. XVIII.
A concentração de serviços no Parque das Nações que está a ser feita pelo Ministério da Justiça, e que implicará a mudança deste tribunal em Julho para o antigo recinto da Expo, faz todo o sentido, defende o causídico - tal como a abertura do hotel no edifício que será deixado vago na Baixa. Há contestação? "A Boa-Hora dá jeito aos advogados com escritório lá perto", observa.
Sem conseguir optar por nenhum dos lados da barricada, o urbanista Walter Rossa argumenta que a saída de serviços públicos da Baixa é sempre negativa, pela redução de actividade que implica. Por outro lado, "diz-se há tanto tempo que o tribunal ali não tinha condições de funcionamento". A clientela do hotel de charme não conseguirá compensar o desaparecimento dos juízes, réus, funcionários e advogados? "Não sei", responde Walter Rossa. Um museu ali é que não: "Não podemos ocupar sistematicamente com museus os edifícios da Baixa com valor patrimonial, senão estamos na mesma a matar esta zona da cidade."
"De há uns tempos a esta parte surgiu a mania dos hotéis de charme", critica outro olisipógrafo, Appio Sottomayor. Planeada há vários anos, pelo menos desde o tempo em que João Soares era presidente da câmara, esta é uma transformação chocante? "Dizer que estou indignado é forte de mais. Mas os lisboetas tradicionais como eu não vêem a coisa com bons olhos", responde. "No dia em que tirarem os bancos da Rua do Ouro e as repartições do Terreiro do Paço a Baixa morre." Depois de ter passado cinco anos da sua carreira de juiz na Boa-Hora, o agora vereador de Lisboa Fernando Negrão deixou de ter dúvidas: "Seria um erro manter a Boa-Hora nas mãos do Estado, que não cuida do seu património. Se a transformação em hotel for rápida e preservar os traços do edifício, é preferível."
Depois de cinco anos a trabalhar no degradado tribunal, Fernando Negrão acha preferível o edifício ser hotel»

27/01/2009

Deputados municipais tentam impedir António Costa de vender palácios

In Público (27/1/2009)
Ana Henriques

«Assunto já tinha sido discutido em privado entre sociais-democratas e socialistas. Gabinete do presidente da autarquia lisboeta diz que PSD tem de "honrar o acordo feito" em segredo


O projecto da Câmara de Lisboa de vender seis palácios para que privados os transformem em hotéis de charme, encaixando as respectivas receitas, pode estar comprometido: a comissão de habitação e reabilitação urbana da Assembleia Municipal de Lisboa está contra esta intenção. Tendo em conta que neste órgão o PSD tem maioria, poderá não ser fácil ao presidente da autarquia, António Costa, concretizar a alienação do património, que iria à praça por 12,7 milhões de euros.

Na actual conjuntura económico-financeira, vender poderá não ser a melhor opção, uma vez que não haverá ofertas suficientemente boas, argumentam os deputados que compõem a comissão, da qual fazem parte duas representantes do PS.
Foi só ontem, depois de saber do problema, que o gabinete de António Costa reagiu desvendando um segredo até aqui bem guardado: a maioria socialista que governa a câmara reuniu-se há algum tempo com os dirigentes autárquicos sociais-democratas para chegar a um entendimento sobre o assunto. Sobre o que terá acontecido no encontro, as versões divergem: segundo os socialistas, alcançou-se, de facto, um acordo relativamente aos palácios que poderiam ser vendidos e o PSD tem de o honrar; de acordo com os sociais-democratas, da lista faziam parte vários outros imóveis, e apenas houve consenso acerca daqueles que deveriam continuar nas mãos da autarquia, tendo sido remetida para mais tarde uma decisão sobre os seis palácios em questão.
Critérios díspares
A discussão do caso estava marcada para hoje, para a assembleia municipal, mas pode vir a ser adiada. O líder da bancada do PSD, Saldanha Serra, que partilha de algumas das objecções da comissão de reabilitação urbana, salienta que ainda faltam os pareceres de mais três comissões, não sendo certo que tenham ficado prontos até hoje. Também na comissão das finanças poderá haver objecções, acrescenta, uma vez que foram usados critérios díspares na avaliação dos imóveis.
A comissão de reabilitação urbana, dirigida por Pedro Portugal Gaspar (PSD), sugere que se analisem "outras opções políticas, designadamente o arrendamento dos palácios a outras instituições, ou mecanismos de parceria e mecenato, pelos quais a autarquia não prescinda da propriedade dos mesmos".
Em causa estão os palácios Braam-camp, Pancas Palha, Machadinho, Visconde do Rio Seco, Benagazil e o edifício do Passo da Procissão do Senhor dos Passos da Graça. A comissão só admite a alienação do Benagazil, por causa do seu estado degradado. Mas também aqui parece haver um problema: Saldanha Serra diz que há uma associação de pilotos a queixar-se de que o edifício lhe foi prometido. No caso do Palácio Visconde Rio Seco, no Bairro Alto, a comissão quer saber por que motivo quer a câmara levar à praça um imóvel que comprou há uma década, quando poderia transformá-lo numa residência universitária, por exemplo.
O Palácio Pancas Palha, em Santa Apolónia, esteve dez anos em reabilitação, e por isso os deputados questionam a venda, exigindo ao mesmo tempo saber se o valor-base da hasta pública, cerca de quatro milhões, cobre o custo das obras. Saldanha Serra recusa-se a avançar o sentido de voto da sua bancada: "Decidiremos palácio a palácio".
a Depois de ver aprovado o seu orçamento para 2009 viabilizado pelos sociais-democratas na primeira reunião da assembleia municipal do ano, António Costa acabou por sair disparado porta fora com a sua equipa, por entender que não tinha de ceder ao aumento do controlo da actividade camarária pretendido, como contrapartida da viabilização, pela bancada "laranja". O abandono intempestivo da reunião foi pretexto para os deputados do PSD enveredarem por uma greve de zelo que lhe poderá sair cara: o esquadrinhamento minucioso de toda e qualquer proposta de António Costa que lhes chegue às mãos. Com as eleições a aproximar-se, o presidente da câmara precisa de ver aprovados os seus projectos para poder mostrar obra. Mas depois de ter deixado de contar com o beneplácito da presidente da assembleia municipal, a social-democrata Paula Teixeira da Cruz, com quem mantinha excelentes relações no início do mandato, começou há pouco tempo a ter de se confrontar precocemente com o seu rival nas autárquicas. É que os autarcas do PSD já pedem orientações a Santana Lopes sobre as votações mais relevantes, sendo que algumas delas têm por objectivo alterar projectos lançados por ele próprio enquanto presidente da câmara. A transferência do Museu da Moda e do Design de Santa Catarina para a Baixa, a ser apreciada em breve pela assembleia, é um desses casos. Compreende-se o fair play de Santana ao permitir a Costa ter um orçamento. Afinal, sabe que tem os socialistas na mão.»

O que está aqui em causa é que a proposta tem que ser reformulada, pois cada caso é um caso. Como é óbvio. E há, a meu ver, um caso grave, que é o da casa de São João de Brito, no Largo Rodrigues de Freitas. E um estranho, que é o do Pancas Palha.

Por outro lado, a experiência da CML em vender património deste gabarito tem-se saldado pelo fracasso, quando não pelo escândalo (basta recordar o Palácio da Rosa, que já devia ser um hotel a esta hora e que o promotor nunca cumpriu o acordo, exigindo ainda à CML pequenos lotes próximos como medida compensatória).

Por princípio, ainda, a venda de património é um acto extremo e não deve ser uma regra. Além de que a maior parte desses imóveis pode ser transformado em hotéis, e continuarem na posse da CML como senhorio, ou não?

15/01/2009

«LISBOA, CAPITAL do CHARME» - 1

Hotel Mercure, Hotel Corinthia Lisboa e muitos mais na zona de Sete Rios. Hotéis com vista para o caos urbanístico e a degradação de um dos mais antigos bairros ilegais da capital: o Bairro da Liberdade, já centenário! Só uma cidade de terceiro mundo é que produz localizações destas para hotéis. Esta fotografia foi tirada do estacionamento do Arquivo Municipal, mesmo na periferia do Parque Florestal de Monsanto.

14/01/2009

Lisboa capital do charme vende seis palácios velhos

In Diário de Notícias (14/1/2009)
PAULA SANCHEZ

«Turismo. Município quer diversificar oferta hoteleira e apresentar Lisboa como uma cidade capaz de proporcionar experiências únicas a quem a visita. Depois de identificar seis imóveis que durante décadas manteve ao desprezo, a autarquia prepara-se para encaixar quase 13 milhões de euros com a sua venda

Imóveis vão a hasta pública a partir de Fevereiro

A Câmara de Lisboa vai vender cinco palácios e um edifício residencial, deixados à degradação durante décadas, para neles nascerem seis "hotéis de charme": unidades exclusivas e de requinte, que ajudem a diversificar a oferta turística da cidade.

A proposta de alienação do património, já aprovada pelo Executivo municipal, será apresentada à Assembleia Municipal em Fevereiro e logo a seguir, garantiu o presidente da câmara, António Costa, será iniciada a hasta pública para a venda dos imóveis, a periodicidade quinzenal. Se a oferta correr bem, em Junho o município já não será dono dos prédios e terá encaixado quase 13 milhões de euros com o negócio [...]»

13/01/2009

Haverá 'charme' que chegue para tanto hotel?

Não sendo alarmantes, pela classificação dos edifícios em causa, as notícias vindas a público segundo as quais a CML pretende vender quatro palacetes (Pancas Palha, Bengazil, Machadinhos e Brancaamp) e imóveis sitos na Rua da Atalaia e no Largo Rodrigues de Freitas com vista à abertura de hotéis de charme, (se bem que este último devesse ser, por razões históricas, a casa-museu de São João de Brito), são, contudo, preocupantes. Isto porque sofrem dos seguintes males e contra-sensos:

1. No que toca a palacetes e edifícios de grande dimensão, de sua propriedade ou não, a 'reabilitação urbana' da CML tem-se pautado, inequivocamente e desde há uns anos a esta parte, pela promoção de hotéis, facto que se nos afigura como redundante.


2. A experiência recente desse tipo de procedimentos tem sido catastrófica para o lado do interesse público, como se comprova, aliás, pelos casos do Palácio da Rosa e do Palacete da Bica. O primeiro foi vendido a preço irrisório em 2005, com a promessa de ali ser aberto um 'hotel de charme', o que nunca aconteceu, tendo posteriormente a CML 'compensado' o promotor com a cedência de edifícios camarários para viabilização do projecto que continua sem quaisquer resultados práticos para a cidade. O segundo foi comprado pela CML, no mesmo mandato, exercendo-se, de início e indevidamente, o direito de preferência para residência do presidente e, mais tarde, para a instalação do Museu da Moda, o que não só não aconteceu como se gerou um imbróglio judicial com um outro comprador.

3. A definição de 'hotel de charme' por parte da CML e dos promotores costuma ser bem diferente daquela que se verifica por essa Europa fora. O mais do que evidente mau gosto dos nossos promotores, bastas vezes aliado a uma total falta de escrúpulos, costuma traduzir-se na adulteração e destruição do edificado, na construção de acrescentos 'modernos' e na destruição selvagem de logradouros, tirando proveito de um PDM moribundo e do imobilismo, quando não total incompetência, dos serviços da CML e do IGESPAR. Curiosamente numa época em que a hotelaria em Lisboa apresenta dificuldades, como o caso do Hotel da Lapa.

No que se refere a este caso em concreto, trata-se, apenas, de uma operação de encaixe financeiro, com a suposição, errada, de que a sua venda resolverá a crise financeira da CML. É nosso entender que é a 'rehabitação' da cidade a melhor forma de incrementar as receitas do município.

Cada caso é um caso. Soluções em 'pacote' parecem-nos totalmente erróneas, visto poderem apenas significar delapidação de um património que, obviamente, é pertença de todos nós. Acresce que alguns dos edifícios em apreço poderiam ter sido cedidos sem recorrer à alienação.


Paulo Ferrero, Júlio Amorim, Virgílio Marques, Nuno Caiado, Ana Sartóris, Miguel Atanásio Carvalho, José Carlos Mendes, João Chambers, Renato Grazina e Jorge Santos Silva

Câmara de Lisboa apresenta projectos para «capital do charme»

In Sol Online (13/1/2009)~

«A autarquia lisboeta apresenta hoje o projecto Lisboa, capital do charme, que passa pela alienação de património, incluindo quatro palácios, que será convertido em hotelaria de referência

A Câmara aprovou em Dezembro a alienação do Palácio do Machadinho, Palácio Braamcamp, Palácio do Benagazil, Palácio Pancas Palha (também conhecido por Van Zeller), um edifício na Rua da Atalaia e um outro no Largo Rodrigues de Freitas. [...]»